Sarah 10/07/2019
Primeiro escrito "brasileiro"
A carta de Pero Vaz de Caminha, datada de maio de 1500, foi redigida ao rei português D. Manuel com o objetivo de descrever a nova terra descoberta. Chamaram tal território de “Terra de Vera Cruz”, que era situado em uma região tropical e fazia parte de um dos caminhos alternativos para a Índia. Atualmente essa expedição é conhecida pelo descobrimento do Brasil pelos portugueses.
Na carta, Pero Vaz de Caminha, que é escrivão da embarcação, procura descrever os pormenores da terra ao rei. Em sua linguagem, é possível notar o respeito com que se dirige à figura de autoridade, sempre tentando justificar as informações que explana e se colocando em uma posição de submissão.
No mais, o escrivão demonstra um interesse genuíno pela terra e pelos nativos. Observa com cuidado a interação entre índios e portugueses e procura registrar as peculiaridades do povo desconhecido. Apesar de muitas vezes não fazer juízo de valor, sua carta apresenta uma visão eurocêntrica; como, por exemplo, quando expõe o indígena como um povo de cultura fraca, facilmente passível de conversão ao cristianismo.
A carta, contudo, cumpre muito bem o seu papel: descrever a terra e os costumes da gente que lá vivia. É possível vislumbrar os primeiros contatos, cheio de perplexidade de ambas as partes. A troca de presente é importante pela falta de comunicação possível, estabelecendo uma relação entre o invasor e o nativo.
É possível notar, ainda, a comparação que se faz nas entrelinhas com os outros povos conhecidos (asiáticos e africanos). O indígena, em contraste, é visto como um inocente, pacífico, merecedor da conversão cristã; é quase considerado uma criança. Sua boa constituição é vista pelos europeus como um sinal de benção de Deus sobre estes povos.
A parte disso, os indígenas em si demonstram uma curiosidade singela pelos navegadores. Não demonstram sinais de agressividades; em certo ponto, acostumam-se com eles de tal forma que procuram repetir suas atividades culturais.
É curioso, porém, imaginar o que teria acontecido se não houvesse a barreira linguística. Talvez o índio tivesse considerado o português agressivo, em seu interesse pela exploração de metais e de impor a religião. E, ainda, embora improvável, o europeu visse que o índio não pertencia a uma existência mais simples que a dele.
Ademais, chama a atenção para o choque entre as duas culturas. Metafórica e literalmente, o português tenta vestir o índio, e o índio tenta estabelecer uma relação amistosa com o português. Entretanto, o contato com o desconhecido afeta as duas culturas relacionadas – mesmo que o português se considerasse superior.