Lori 28/05/2010
Ai ai, eu e O Livro do Riso e do Esquecimento temos um relacionamento bastante complicado. De todos os livros de Kundera provavelmente esse está entre os que eu menos gostei de todos que eu li até agora. Não me entenda errado, é um ótimo livro e todos devem ler, mas não chega aos pés de Insustentável Leveza do Ser. O pior é que vi em um site as críticas ao livro e 90% o classificavam como obra prima e dos livros fundamentais da modernidade. Então eu sinto que eu não entendi partes fundamentais do livro. Talvez seja esse o problema, eu fico esperando um sentindo em tudo o que Kundera escreve. Então em um livro com sete partes, se não consigo compreender uma, eu esqueço que ela tem valor fora de toda filosofia dele também. Esqueci que Kundera pode ter beleza somente pela bela escrita sem política e filosofia.
Claro que chegar a essa conclusão não eu mudar as minhas partes preferidas, que são as políticas, mas o livro não é só isso. Como eu comentei sobre as críticas, melhor colocar a do New York Times para resumir as formas diferentes que compõe o livro: “O Livro do Riso e do Esquecimento auto-intitula-se de romance, apesar de ser em parte conto de fadas, em parte crítica literária, em parte tratado político, em parte musicologia e em parte autobiografia. Pode auto-intitular-se como bem quiser, porque é genial no seu todo.” Acho que o mais tocante de todas dessas partes é a autobiografia. Tem que ter uma grande coragem de se abrir assim para quem quiser ler. E quando ele fala de como perdia o pai para a doença, como ele foi perdendo o poder da fala e não conseguia mais transmitir o que pensava. Nessas partes, eu apoio qualquer um que disser que é genial/obra prima/o que for.
O livro fala de diversos assuntos, que tentar resumir aqui seria até um desrespeito com a obra. E vamos levar em conta que eu li o livro já faz um tempinho, eu somente não sabia o que escrever aqui. Mas vale a pena apontar que novamente ele trata com perfeição a questão da memória e do esquecimento. É um assunto que me fascina (vamos lá, é o tema da minha monografia, né) e que ele trata com uma sutileza em um dos meus eventos históricos preferidos. A troca do nome de uma mesma rua diversas vezes (cinco vezes por volta de cinqüenta anos) me lembra um texto de Pollack onde ele comenta sobre uma família de Alsácia-Lorena que disputaram diversas lutas, mas sempre acabavam prisioneiros, às vezes como franceses, outras alemães. O nome no fundo não importa, no final as pessoas são as mesmas mesmo com toda lavagem cerebral. Kundera e Orwell trabalham com a questão da memória e esquecimento, às vezes me pergunto se eu gosto mais do assunto por isso ou deles pelos temas.
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