Arthur 23/12/2016As "Mulheres" de Carol RossettiA ilustradora mineira Carol Rossetti iniciou, em 2014, de forma despretensiosa, um projeto de desenhos de mulheres. Utilizando traços característicos e marcantes, unidos e endossados por frases inspiradoras e impactantes, fez com que as mensagens transmitidas pelas suas ilustrações ecoassem de tal forma que fossem traduzidas para o inglês e o espanhol; além disso, tornaram-se um projeto (Mulheres), que originou um livro: "Mulheres: retratos de respeito, amor-próprio, direitos e dignidade".
Verdadeiros instrumentos de reflexão, tais ilustrações trazem representações femininas que desconstroem e, mais do que isso, reconfiguram os estereótipos tão batidos e disseminados. Por meio da subversão da relação de aceitação a partir da conformação a padrões, Rossetti procura demonstrar que a mulher não precisa se moldar conforme modelos para ser quem ela é, muito pelo contrário, a mensagem que cada uma das suas ilustrações veicula é a de que a autoafirmação acontece (e, com ela, a propriedade de leveza e felicidade) quando a mulher compreende-se, aceita-se e vive de forma plena a própria existência, conhecendo, entendendo e, principalmente, respeitando a sua individualidade e as suas particularidades, vendo-as não como falhas, defeitos ou desconformações, mas como vieses da sua personalidade, que não se precisa ser igual a de todos.
Afirmando que a sua abordagem é inclusiva, ou seja, que, embora nem todas as pessoas tenham sido representadas no seu trabalho, houve um esforço para ampliar a representação das diversas mulheres na medida do possível, a ilustradora apresenta figuras humanas, que podem não ter existido antes da concepção da sua obra, mas que vivem e falam fortemente a partir de seus traços. Ratificando a proposta do seu trabalho, que se pode dizer como a aceitação das particularidades da própria individualidade como um modelo de vida, a partir da desmistificação da subjetividade vinculada a modelos aspiracionais referendados culturalmente pela sociedade, ela afirma que existem mulheres tão plurais quanto se possa imaginar, cada uma singular na sua existência e na sua configuração como ser humano. Ou, nas palavras da própria Carol Rossetti:
"Existem mulheres negras, brancas, morenas, latinas, asiáticas, indianas, indígenas. Existem engenheiras, donas de casa, prostitutas, senadoras, artistas, executivas, atrizes. Há mulheres cegas, surdas, mudas. Mulheres bipolares, deprimidas, suicidas, ansiosas. Mulheres trans, binárias, não binárias, intersexo. Existem heterossexuais, lésbicas, bissexuais, arromânticas, pansexuais, assexuais. Mulheres que têm três orgasmos por dia e mulheres que nunca tiveram nenhum. Mulheres que usam muita maquiagem, mulheres que não suportam batom, que não fazem as unhas, que nunca tomam sol; mulheres que colocam silicone e que fazem mil cirurgias plásticas. Existem mulheres que escolheram dedicar suas vidas a seus filhos e mulheres que não têm nenhum desejo de começar uma família. Há mulheres que gostam de comédia romântica, outras que gostam de filmes de terror e outras que não gostam de cinema. Mulheres que se vestem de preto e mulheres que preferem rosa. Existem mulheres cristãs, ateias, judias, islâmicas. Há mulheres que não são ativistas, que nunca ouviram falar em feminismo, que nunca discutiram racismo. Mulheres que lutam de formas diferentes, a partir de ideias que não conhecemos. Existem mulheres que têm vergonha de compartilhar suas escolhas por medo de serem julgadas e existem mulheres que discordam de tudo isso que eu disse até aqui."