Tamara 14/08/2020
A minha leitura de Perdão mortal foi, na verdade uma releitura, pois há vários anos, assim que esse livro foi lançado eu havia o lido e me apaixonei, mas como os outros da trilogia ainda não haviam saído, não pude lê-los. Com o passar do tempo, os livros seguintes foram lançados, mas deixei passar e não li, e agora resolvi embarcar na trilogia e precisava relembrar esse primeiro livro.
A história foi fascinante e me prendeu do início ao fim, e a cada novo capítulo eu me sentia ávida para ver o que viria a seguir pois já não tinha tantas lembranças sobre o desenrolar da trama. Essa é uma história cheia de pontos positivos, sendo que um dos principais na minha opinião é o fato de se passar na idade média e ser basicamente uma fantasia medieval, e por isso a autora nos apresenta na trama várias nuances diferentes do que estou acostumada encontrar em livros, e por isso para mim essa foi uma história única.
O enredo básico traz a história de Ismae, uma criança indesejada e que tentaram abortar quando estava no ventre da mãe, porém, contra todas as probabilidades essa sobreviveu, apesar de ter lhe restado no corpo várias marcas por causa do veneno utilizado. Sempre desprezada pelo pai, foi vendida para se casar com um tratador de porcos ainda mais repulsivo que o homem que a criou, porém a sorte de Ismae muda quando esta é auxiliada em uma fuga, e de repente seu destino passa a ser um convento bastante diferente, que é regido por ST. Mortain, o deus da morte, onde as servas desse deus são assassinas treinadas, prontas para eliminar quem seu deus mandar.
Apesar desse breve resumo, a história é muito mais do que isso. Encontramos aqui uma protagonista forte, destemida, que ganha um novo rumo em sua vida após a ida para o convento, e aprende fazer disso o melhor que pode para ter uma vida nova e boa. Nesse enredo também encontramos questões sobre a guerra entre Bretanha e França, e acompanhamos de perto a vida de Anne, a regente Bretã que se vê oprimida por diversas pessoas que querem decidir sua vida, apenas por ela ser mulher e vivem conspirando em segredo e a subestimando, o que faz com que a duquesa encontre em Ismae uma amiga, uma vez que não pode confiar em ninguém de seu castelo. Nesse ínterim, Ismae é designada para estar próxima da duquesa, e poder assim protegê-la matando seus inimigos que ameaçarem seu reinado.
Perdão mortal é, em primeiro lugar uma história fluída com capítulos de um bom tamanho que quando acabam nos deixam com aquela avidez por ler somente mais um e depois só mais um. Além disso, é uma trama que traz acontecimentos inesperados, é ágil e não nos deixa cair no tédio, uma vez que a todo o tempo surge uma nova intriga, um novo segredo ou uma nova pessoa a ser morta. Outro ponto interessante é toda a questão do convento que não é o que conhecemos hoje por convento da igreja católica, uma vez que este é destinado ao deus da morte, e as mulheres que estão lá dentro devem fazer seus votos de servir tal deus, aprendendo para isso matar, seduzir, serem corteses e belas damas no exterior, para que possam cumprir seus propósitos de maneira mais perfeita.
Ainda nesse sentido, ao mesmo tempo que Ismae compreende um pouco mais sobre as nuances desse deus, desse convento e vai construindo crenças e desmistificando outras, nós leitores aprendemos com ela, e também descobrimos algumas questões que devem permear toda a trilogia, o que se torna um incentivo a mais para que queiramos ler logo os outros livros.
Cabe ainda destacar que embora esse livro tenha a construção de um romance em seu decorrer, e um romance do qual gostei muito, por sinal, o foco da obra não é este, sendo que a política, as intrigas e a questão das mulheres são muito mais ressaltadas. Dentro desse livro, conhecemos também Cibella e Annite, duas servas de Mortain que serão as protagonistas das próximas histórias, o que faz com que cada livro da trilogia inicie e termine em si mesmo, já que conta a história de cada uma das protagonistas, embora seja essencial lê-los em ordem já que existem diversas referências às histórias anteriores.
Em suma, Perdão mortal é um livro intrigante, que foca na força feminina, em um período não muito explorado pela literatura e consegue nos prender e empolgar, ao mesmo tempo que também nos fascina.