Coruja 07/05/2015Há livros que, independente da idade em que você os encontra, são capazes de encantá-lo e transportá-lo para outro mundo mais jovem e mais inocente, nostálgico. Outras histórias, ainda que você reconheça o poder por trás delas, elas parecem perder parte da magia à medida que vamos nos distanciando dos anos de infância. Mary Poppins ficou nessa segunda opção para mim.
Parte do problema se dá pela ligação emocional que tenho com o filme, que foi e ainda é um dos meus favoritos – amo Julie Andrews e Dick Van Dyke aqui, amo as canções, o colorido do mundo apresentado na versão de Walt Disney. Eu achava que o livro ia ser um resgate dessa experiência, mas o filme e o livro são completamente diferentes.
Travers faz de sua babá ‘praticamente perfeita’ uma figura bem mais ácida e impaciente que a (adorável) versão de Andrews. Mary Poppins é aqui uma bela e vaidosa ditadora, e ainda que saia de seu caminho para levar as crianças ao seu mundo de magia, ela não é particularmente simpática nem doce em seu empreendimento. Pelo contrário, por vezes ela trata Jane e Michael até com bastante brusquidão.
Outra estranheza para mim foi perceber que cada capítulo do livro era um episódio em separado e não havia um encadeamento de fatos que explicasse a presença de Mary e a necessidade das crianças de tê-la por perto – diferente do filme, que tem uma narrativa linear única que culmina com a reaproximação da família.
Uma vez, contudo, que eu tivesse abstraído da minha constante comparação com o filme, passei a aproveitar melhor o humor do livro. Somos constantemente lembrados que Mary não é um ser humano ordinário – ela está além das fronteiras do possível e a narrativa está constantemente nos lembrando disso.
O curioso é que o status de Outro de Mary Poppins, aliado ao seu sarcasmo, torna mais crível as aventuras que as crianças vivem e, por mais perigosas e sombrias que possam parecer algumas situações – como a da cena no zoológico – o leitor tem certeza que Mary é perfeitamente capaz de cuidar de tudo.
Ao chegar ao final, descobri que gostei do livro, do estilo de escrita da Travers, mas, ainda que alguns capítulos tenham me cativado (como o da estrela nas compras de natal), ele não conseguiu me encantar por completo – não como teria se eu o tivesse encontrado quando criança. Falta-me a inocência de John e Barbara (outro dos meus capítulos favoritos) para entender a linguagem dos pássaros...
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