Jonathas 17/08/2016Nostalgia em páginasMario, Sonic, Pacman, Pokemon, hadouken, fatality são algumas das milhares referencias aos videogames inseridas a cultura pop. A força dos jogos digitais é inegável, como se eles já não tivessem provado seu potencial, os jogos estão invadindo tudo quanto é lugar (vide PokemonGo) e até mesmo Hollywood, através de franquias como Resident Evil e a mais recente animação Angry Birds (o primeiro jogo de celular adaptado para os cinemas). Gostando ou não, o mercado de jogos eletrônicos já movimentam quase US$91,5 bilhões por ano.
O livro de Blake J. Harris narra a grande disputa de duas das mais importantes empresas do mundo dos games: Nintendo e Sega. Depois da “crise dos videogames” a Nintendo conseguiu reerguer o mercado e consolidar muito do que conhecemos hoje a cerca dos videogames. Em 1990 a Nintendo detinha aproximadamente 90% de toda a indústria. A Sega era uma pequena empresa de fliperamas que se aventurava nos negócios dos games, mas com o monopólio da Nintendo era difícil se fazer notar no mercado.
A Sega começa sua inserção significativa no mercado após a contratação de Tom Kalinske, ex-executivo da Mattel, que dá uma nova identidade a companhia do Ouriço Azul. Com ideias ousadas e inovadoras a batalha que definiria uma geração coemça: Press star e bem-vindo a guerra dos consoles!
O livro é baseado em informações obtidas por meio de várias entrevistas com centenas de pessoas envolvidas e documentos, mas o autor alerta em nota que tomou certa liberdade recriando cenas e diálogos além de reorganizar fatos de acordo com seu julgamento, o que fica claro depois de alguns capítulos. A narrativa toma forma de romance e tem um ritmo alucinante e frenético, digno das grandes criadoras de jogos igualmente alucinantes e frenéticos. No entanto, a organização narrativa por vezes confunde o leitor, há muitos flashbacks mal inseridos ao texto que deixa o leitor desorientado.
O livro é recheado de informações dos bastidores das empresas, e é impossível ao leitor que cresceu em meio aos videogames não sentir uma nostalgia e se deliciar ao saber de detalhes da criação de personagens e jogos tão familiares como Sonic, Mario e vários outros. Para os leitores que não se identificam com os games, o livro pode surpreender com a parte do empreendedorismo que recheia as páginas mostrando a astucia e força de funcionários que transformam, positiva ou negativamente, um negócio. Estratégias de venda, marketing e o mundo das grandes corporações que movem bilhões serão uma grata surpresa a qualquer leitor.
A coisa que mais incomoda ao longo da leitura é perceber que o autor não apenas toma partido e veste a camisa da Sega, como nutre um carinho especial por Tom Kalinske, que protagoniza quiçá 90% do livro. O destaque a esse personagem é tamanho que por vezes o leitor se perde na história de Tom, esquecendo-se da grande guerra entre os consoles. Não é mera coincidência que o livro se inicie com Tom Kalinske sendo contratado pela Sega, e encerre com sua demissão. Por essa razão, o livro não pode ser encarado como um relato histórico, uma vez que a perspectiva é quase sempre a de Tom, o que faz com que a Nintendo e seus profissionais sejam os grandes vilões da história.
À geração dos anos 80/90 o livro é altamente recomendado, aos gamers igualmente, e a qualquer leitor que se interesse por empreendedorismo. O Encanador Bigodudo e o Ouriço Azul, com certeza, tem muitos truques a ensinar.
- Temos que admitir uma coisa sobre a Nintendo. Goste deles ou não, tudo em que aqueles caras tocam vira ouro.
- Você está certa. Então, acho que só temos que fazer com que tudo que toquemos vire prata. E, enquanto isso, encontrarmos uma forma de convencer o mundo de que prata vale mais do que ouro. (p. 78)