Viviane.Dias 03/03/2018Resenha | Pseudônimo Mr. Queen - Loraine PivattoA história começa logo após o desaparecimento de todas as pessoas supostamente arrebatadas, e digo que é uma suposição porque não fica exatamente clara essa informação pra nós. Então, aqueles que ficam na terra sem ter onde morar e sem saber como será feita a organização social, recebem através de sonhos as informações de que uma nova forma de vida será implantada entre os sobreviventes. Não haverá mais desigualdade social através de bens e posses, não mais haverá formas de ferirmos uns aos outros e nem haverá nenhum jeito de morrer antes do tempo pré determinado. A vida se dividirá em duas: uma primeira, em que você tem a idade que veio de antes do arrebatamento e vive até completar 70, e uma segunda em que as pessoas viveriam dos 20 aos 80 anos. Essas vidas são divididas em duas dimensões paralelas que envolvem mistérios e muitos segredos.
Escrever distopias, encontrar formas inteligentes de escrever uma realidade futura sob a influência de uma identificação que nos aproxime das personagens e das histórias dentro do texto é algo muito difícil. A construção da escrita tem alguns pequeninos problemas de continuidade, a gente sente falta de algumas coisas na explicação de alguns acontecimentos, porém eu fiz uma leitura bem atenciosa e não consegui encontrar nada que abone o talento dessa moça.
Gostei tanto da obra que pedi a ela que conversasse um pouco conosco e assim fiz algumas perguntas. Bora lá conferir!
1) De onde surgiu a ideia dessa distopia?
Foi no verão de 2015, quando eu estava na praia refletindo sobre um caso de morte prematura e estúpida que a mídia noticiava, e me deparei com a hipótese de como seria o mundo se todas as pessoas tivessem tempos de vida pré-definidos e não houvesse doenças e nenhuma outra forma de morrer antes da data marcada. Essa foi a ideia central e a partir dela construí o enredo.
2) Você é religiosa, buscou inspiração nisso?
Não, eu não sou religiosa, mas vejo as religiões como formas de conforto para o sofrimento referente às mazelas humanas, sobre as quais não temos controle e nem forças para combater. Sendo assim, a possibilidade de renascimento para uma segunda rodada de vida apresentada no texto, e a chance de corrigir erros, voltando à juventude com a memória da vida anterior pode ser comparada à doutrina espírita, embora eu pouco conheça a respeito.
3) Essa é sua primeira obra? Já tem mais alguma escrita ou publicada?
Em 2009 publiquei um romance chamado Perseguição Digital e em 2010 escrevi outro romance chamado Preto no Branco, o primeiro em versão física e o último digital. Depois disso, escrevi Holofotes, também na versão digital. Daí veio o Pseudônimo Mr. Queen, em 2015, que passou a viajar entre os leitores brasileiros através do book tour e também tem a sua versão digital, e em 2017 escrevi mais um romance, que ainda não está disponível. Todos os meus textos em versão digital estão disponíveis na Amazon.
4) Quais as dificuldades em lançar e divulgar uma obra no Brasil?
O mercado editorial é restrito e passa por dificuldades econômicas sérias, haja vista a grande quantidade de livrarias fechadas recentemente. É natural que os editores apostem nos autores já consagrados (nacionais ou internacionais), o que torna bem difícil ingressar no mercado. Mas essa é uma visão consensual, pois particularmente não tenho experiência recente comprovada. Faz tempo que não contato com editoras, e o Pseudônimo Mr. Queen ainda não foi enviado a nenhuma para apreciação. Como o book tour vem dando certo e os meus objetivos de me aproximar dos leitores, apresentar o meu trabalho, receber os devidos feedbacks e divulgar a história têm sido plenamente alcançados, continuo investindo meu tempo no projeto. Quem sabe futuramente, quando o livro for enviado para as editoras, esse receio das portas estarem fechadas não seja superado?
5) Pra quem tem uma história em mente e quer escrever e publicar, quais são os seus conselhos?
Eu sou o tipo de escritora arquiteta, que primeiro esquematiza toda a história para depois começar a escrevê-la. Ou seja, parto do macro para o micro. Defino todas as cenas, viradas, evolução dos personagens e fechamentos para só então começar a escrever a primeira palavra. Não consigo começar a escrever sem saber claramente o final. Mas esse é o meu estilo e para mim é assim que funciona. Preciso conhecer toda a trama, me apaixonar por ela para querer escrevê-la. Existem os escritores jardineiros, que conforme vão escrevendo a história vai tomando corpo e os personagens vão crescendo ou não. Portanto, a dica que eu dou é primeiro saber o seu estilo para então se programar para escrever o seu texto. Feito isso: dedicação, disciplina e trabalho. O aprimoramento vem da repetição. Depois de escrito, aconselho enviar o texto para leitores beta e/ou um leitor crítico profissional de sua confiança, antes de submeter às editoras.
6) De onde veio a ideia do book tour(explica um pouco)? Veio da dificuldade de divulgação nas editoras?
Eu ouvi falar de book tours pequenos (em torno de 10 leitores) e achei a proposta interessante, pois favorece o leitor que consegue ler o livro por um custo baixo (somente o valor do envio pelos correios) e o escritor, que consegue divulgar sua obra a partir de poucos exemplares. Como sou da área de TI, fiz um sistema para controlar as filas de leitores e com isso pude ampliar o projeto do book tour, tendo um alcance nacional que já ultrapassou mil inscritos. São 60 exemplares circulando por todos estados brasileiros, desde outubro de 2015. A ideia é simples: cada leitor inscrito vai para a fila, até que chegue a sua vez. Ele então receberá o livro de outro leitor e, após lido, deverá enviar ao próximo.
7) Qual a tua visão sobre a história? Como ta sendo o retorno dos leitores?
Considero uma história bastante criativa e com potencial para publicação. Hoje, após todos os feedbacks recebidos, proporia algumas alterações, pois entendo que determinadas abordagens poderiam ter sido diferentes e certos elementos melhor explorados. Essa é a grande vantagem do book tour: experimentar o texto, ouvir os leitores e poder criar uma nova versão aperfeiçoada.
O retorno tem sido fantástico! As pessoas, na grande maioria, de fato se comprometem com o projeto, divulgam o livro nas redes sociais, convidam outros leitores para participarem do book tour... O contato direto com os leitores é extremamente gratificante, o que só me faz querer continuar com o projeto. Penso que essa aproximação com os leitores é a melhor forma de construir um público para futuros trabalhos. Tudo o que é feito com honestidade, não visando exclusivamente o lucro, mas sim uma troca, é muito bacana.
8) Alguma coisa que você não previa foi interpretada sobre a história?
O meu enfoque foi analisar basicamente os comportamentos individuais e coletivos no novo modelo social proposto: duas vidas, uma de 70 e outra de 80 anos, sem possibilidade de mortes prematuras, sem doenças e sem dinheiro. Entretanto, percebi que alguns leitores ficaram muito presos a “como” a sociedade foi reconstruída (recursos humanos e materiais) e “quem” controlava o novo mundo (Deus, extra-terrestres...). Para esse perfil de leitor sei que houve certa frustração por falta de explicações mais elaboradas.
Outras respostas que eu não esperava que fossem importantes para determinados leitores: “por que alguns foram escolhidos sobreviventes? Quais os critérios?” “por que uma vida de 70 anos e outra de 80?”
No meu ponto de vista, o mundo é cheio de perguntas sem respostas, como por exemplo “por que uma gestação humana dura em média 40 semanas?” ou “por que algumas pessoas são saudáveis e outras não?” ou ainda “por que certos desastres naturais aniquilam com as vidas de determinadas pessoas, enquanto outras são poupadas?”. Incógnitas com as quais nos acostumamos a conviver. Por isso, quando estruturei a trama e defini as regras da nova sociedade não imaginei que alguns leitores ficariam sedentos por esse tipo de explicação.
9) Fale um pouco do seu processo de escrita e quanto tempo ele durou.
O processo seguiu o método dos escritores arquitetos, conforme já mencionei anteriormente. A história foi toda desenhada, com início, meio, fim, e todas as subtramas e amarrações; os personagens definidos; cenas de virada; toda a estrutura macro foi montada para que então eu começasse a escrever. Além disso, por se tratar de uma história repleta de personagens e que envolve 3 gerações, partindo de 2012 e indo até 2117, precisei de muito material de apoio para não me perder nas datas e idades.
Não sei o tempo preciso da escrita, mas posso dizer que após toda a estruturação concluída levei uns 3 ou 4 meses para escrever a trama. Ao finalizá-la, enviei para a leitura crítica de uma profissional de confiança, que me sugeriu algumas alterações que demandaram mais uns 2 meses de escrita, até chegar na atual versão.
Eu espero que vocês tenham gostado porque eu amei!
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http://www.litegatura.com.br/2018/03/resenha-pseudonimo-mr-queen-loraine.html