Vanessa Boedermann 05/12/2017Pseudônimo Mr. Queen | Blog Corredora LiteráriaRecebi esse livro ao participar do projeto Book Tour da autora. Achei essa ideia louvável, dando oportunidade de apreciação da obra aos leitores de todo e qualquer gênero literário. A narrativa já se inicia no fim do mundo em meio a grande São Paulo.
A princípio, parece um pouco confusa e você fica meio perdido entre os diálogos, mas rapidamente você se habitua.
O livro é dividido em três atos, cada qual vai contar as histórias pessoais de cada geração da família Brandão; partimos do ano de 2012 e vamos até 2117. Temos uma maior ênfase na personagem Regina que será a “protagonista” na vida “normal” e na primeira vida após o fim do mundo, depois disso acompanharemos também suas gerações futuras neta e bisneta Larissa e Vitória.
A história de Regina inicia-se bem conturbada, pois ela está inserida numa cena de um crime e nesse exato momento é quando inicia-se a profecia. O desfecho dessa situação só irá se desenrolar no final do livro. A autora consegue te prender e nos deixar ansiosos até que ele chegue. Simultaneamente, temos o tal segredo da morte: como é que nesse mundo pós-apocalíptico as pessoas morrem de verdade?
Há uma personagem com meu nome, nunca havia lido um livro assim. Não me identifiquei com a personagem, pois ela é totalmente o oposto do que sou, mas achei muito bacana, algo bem peculiar, engraçado e estranho ao mesmo tempo.
A história contém cenas de sexo e palavrões, portanto leitores sensíveis tenham cuidado.
Diante do fim do mundo nessa nova vida algumas pessoas são salvas da morte e não sabemos bem o porquê.
Há um mundo sem desigualdades sociais, sem doenças e sem dinheiro, diria que se trata de um breve momento de utopia talvez onde todos os serviços são disponibilizados pelo governo. Algumas pessoas têm dons “sobrenaturais” e vão se descobrindo aos poucos, outras sabem o segredo sobre a forma de se morrer de fato, mas isso não deve ser revelado.
É muito surreal quando as pessoas sofrem acidentes e morrem nessa nova vida e achei bem interessante. Há também uma forma bem peculiar de se tirar “férias” e vocês terão que ler para descobrir.
Senti certa influência do espiritismo e um pouco de filosofia de vida dos yogues no desenvolvimento da trama. Existe uma religião, uma fé seguida por alguns personagens, mas não é muito explícita.
A autora inseriu na obra alguns itens de suas raízes gaúchas ao colocar personagens tomando um chimarrão por exemplo.
Ao decorrer da trama esse mundo “utópico” vai se tornando desprezível novamente, diante de pontuações criadas para elevar o “status” das pessoas e as diferenciar, elas passam então a dar suma importância a uma rede social e ao TUV (um tipo de pontuação tatuada na pele). Essa pontuação é formada por várias áreas da vida como relacionamento afetivo, relacionamento familiar, realização profissional, equilíbrio emocional, saúde, estética corporal e até mesmo quesito sexual. Então temos novamente a guerra entre egos e competição de interesses entre as pessoas, algo que não é diferente do que vivemos hoje na “rede social onde todos são sempre felizes”.
Há um personagem que se transforma do “homem dos sonhos” a um “stalker” e eu nem imaginava essa mente doentia dele. Essa parte parece um bom livro de thriller e me pegou totalmente de surpresa.
O intuito do enredo é nos fazer refletir sobre as mais diversas situações de nossas vidas, empatia, sentimentos pessoais, convívio em sociedade e status além, é claro, de nos fazer pensar muito sobre a morte, o que nos espera do outro lado e como tudo será nessa “outra dimensão”.
Fiz alguns questionamentos a mim mesma durante a leitura, refleti muito sobre isso, e gostaria de deixá-los com vocês leitores:
Se fosse tirado tudo de você, sua família, seu status e seus bens materiais o que sobraria de você como ser humano?
Como se sentiria sabendo o dia e horário exatos de sua morte? Isso te faria um ser humano melhor durante a vida?
Será que em uma nova sociedade utópica haveria senso de justiça ou as pessoas continuariam sendo egoístas e individualistas?
Sentença
Achei de verdade que não me prenderia a trama e fui surpreendida, tive vários momentos de reflexão. Relembrei coisas que passei na vida como também pensei no futuro, não só o futuro da minha vida, mas na sociedade como um todo, além de ficar pensando se na próxima vida encontraremos nossos animais, isso também me chamou muito a atenção. Será que de fato há comunicação entre as dimensões?
Os personagens são bem trabalhados e desenvolvidos, dá pra acompanhar cada um deles com facilidade, o que também cooperou para me apegar a eles também.
O segundo ato é o maior dos três e achei um pouco prolixo. Fiquei muito aflita com alguns diálogos entre personagens quando eles iam revelar o segredo da morte e nada da revelação, isso ocorreu várias vezes e só aumentou minha aflição. Creio que foi proposital para segurar o leitor até o fim, porém não precisava. O livro é uma verdadeira crítica social e política.
Dá pra perceber a mudança na qualidade da escrita da autora conforme mudam os atos. Tenho algumas coisas que gostaria de sugerir a autora como, por exemplo, uma capa mais bacana, pois achei essa muito simples e senti falta de um sumário também. Não gostei da diagramação, folha branca e letra pequena deixa um pouco cansativa a leitura, mas entendendo que se trata apenas de exemplares para o Book Tour.
Recomendo a leitura a todos e espero que aproveitem ao máximo tudo o que a Lorraine tem a oferecer com essa obra.
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