Mr. Jonas 04/02/2021
A casa de Usher
Fantástico!
Assim, não somente somos aos poucos introduzidos na Casa de Usher, com todos os detalhes arquitetônicos que legaram a esse gênero de ficção o nome gótico, como somos submetidos ao dúbio sentimento desse protagonista-narrador diante da iminência do desastre: ?Era, de fato, uma noite tempestuosa, mas terrivelmente bela e estranhamente singular em seu terror e sua beleza?. O cenário, os castelos (e aqui uma mansão) decrépitos e os subterrâneos (como aquele em que Madeline é sepultada) desempenham papel de peso na história gótica, que se propõe sempre a nos colocar em meio à opressão-ambiente e à suspensão de nitidez, à distorção dos sentidos, ao delírio. Em dado momento, o protagonista acabará duvidando de seu senso de realidade, e nesse percurso funesto estamos com ele.
A caracterização de Roderick Usher é outro destaque do conto. Sua imagem é a de um morto-vivo (ou semimorto), assim como a irmã gêmea, Madeline.
E o fato de ter sido seu amigo de infância não impede que o narrador estranhe aquele ser, como se percebesse, sem admitir, que Usher já não pertence a este mundo. Esse narrador sem nome ? porque poderia ser qualquer um e até mesmo um de nós ? pressente, nega, recusa-se a ver... até que as cenas finais do conto explodem sobre ele. O final-catástrofe, com a mansão desabando sobre si mesma, como uma sepultura da qual Usher nenhum se erguerá, gravou-se tão fortemente na compreensão do público, de escritores e roteiristas de filmes que se fez de modelo de desfecho para histórias fantásticas até hoje.