Luize 28/04/2017
Uma ótima seleção de contos!
"Intuição Feminina": percebemos o machismo velado por parte dos cientistas que criam uma robô muito inteligente dizendo que ela tem "intuição feminina" (e não inteligência superior aos outros), além de notarmos também que a antipatia pela Susan Calvin, mais tarde reconhecida como a maior roboticista da história, dá-se pelo mesmo motivo. A mulher tão ou mais inteligente que o homem em certos meios incomoda bastante. O final é bem sarcástico.
"O Estrondo da Água": a terra investe em projetos de expansão. A colonização de outros lugares para a habitação dos humanos, por conta do superpovoamento da terra, já é um fato. A engenharia genética possibilitou a adaptação do homem às colônias inóspitas. (Parêntesis: Isso não lembra o projeto atual de assentamento humano em Marte?)
Um homem que habita a lua visita a colônia das Profundezas do Oceano para aprender mais sobre engenharia de segurança, em uma espécie de "intercâmbio colonial", mas ele esconde outras intenções.
"Para que Vos Ocupeis Dele": os roboticistas acreditam que os seres humanos precisam dos robôs e precisam aprender a conviver com eles se quiserem se manter em progresso. Os robôs são muito utilizados no espaço, mas ainda não existem robôs domésticos, pois os humanos tem um certo "complexo de frankenstein", isto é, temem que o robô se volte contra o homem. É o conto mais sombrio da seleção.
"Estranho no Paraíso": dois irmãos tentam adaptar um cérebro humano à máquina para enviá-lo à Mercúrio, onde pode ser o paraíso para um humano que nunca se ajustou à terra. Achei criativo e de certa forma poético.
"A vida e os Tempos da Multivac: Multivac é um grande computador abrangedor do mundo inteiro a comandar milhões de robôs. A Multivac tudo sabe. Estar bem com a máquina é ter sucesso. E as decisões da Multivac são aceitas como sendo para o bem da espécie humana, que sacrificou seu poder de decisão em nome da segurança e do progresso. Cabe uma reflexão aqui: até que ponto, sem nos darmos conta, somos escravos das máquinas? O homem dispensa a liberdade em nome da segurança ou do comodismo mesmo? Quantos não preferem não ter que decidir nada sobre suas vidas e não preferem ter uma máquina a fazer tudo por si? A liberdade é um peso que poucos estão dispostos a suportar. Um dos contos mais impactantes do livro.
"Genocídio Seletivo": a fome é o maior infortúnio do século XXI. Aqui vemos o mundo racionando comida e os governantes querendo se livrar dos famintos por meio de uma lipoproteína venenosa. Traz uma importante reflexão sobre a ética dos detentores do poder e dos cientistas. "Pimenta no dos outros é refresco"?
"O Homem Bicentenário": os robôs fazem apenas aquilo para o qual foram criados. Não existem mais cérebros positrônicos (inteligência artificial) criativos, por conta do medo que os humanos têm dos robôs e de sua imprevisibilidade. Andrew é o único robô que pensa por si e com o tempo busca maior liberdade e luta pelo reconhecimento de sua humanidade. Durante sua luta vamos refletindo: o que significa ser livre? quantos de nós somos livres por direito , mas não o somos de fato? O que define a humanidade?
"O Hino": um músico é chamado pela Dra. Clay para ajudar a estudar o padrão das ondas cerebrais que caracterizam a depressão, aqui a música e a ciência caminham de mãos dadas para promover o bem estar das pessoas.
"Antiquado": fala sobre a perigosa vida dos "astromineiros", uma espécie de mineradores do espaço. O que mais importa: riqueza, fama ou a própria vida?
"Incidente do Tricentenário": um assassinato é investigado. Mas quem morreu: o robô sósia ou o presidente dos EUA?
"Nascimento de uma Noção": um cientista realiza uma viagem no tempo e acaba, ocasionalmente,batendo um papo com Hugo Gernsback e, meio sem querer, abre-lhe a mente. É uma bonita homenagem ao "pai da ficção científica".
* Para quem nunca ouviu falar de Hugo Gernsback: foi quem cunhou o termo "ficção científica", o qual inicialmente ele chamava "cientificção". Em 1926, Hugo lançou a "Amazing Stories", a primeira revista do mundo exclusivamente dedicada à ficção científica. Ele, além de escritor, também era inventor e bastante visionário, Hugo conseguiu, 100 anos atrás, ter uma noção de quase toda a nossa tecnologia moderna, incluindo televisões (com canais), controles remotos, telefones com vídeo, aviões capazes de realizar voos transcontinentais, energia solar colocada em prática, filmes com som, comidas sintéticas, roupas artificiais, gravadores de fitas e até mesmo as viagens espaciais. Não à toa o maior prêmio de ficção científica chama-se "Prêmio Hugo".