Mulheres de cinzas

Mulheres de cinzas Mia Couto




Resenhas - Mulheres de Cinzas


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Biblioteca Álvaro Guerra 24/09/2019

"Mulheres de Cinza" é o primeiro livro de uma trilogia sobre os derradeiros dias do chamado Estado de Gaza, o segundo maior império em África dirigido por um africano.

Ngungunyane (ou Gungunhane, como ficou conhecido pelos portugueses) foi o último de uma série de imperadores que governou metade do território de Moçambique. Derrotado em 1895 pelas forças portuguesas comandadas por Mouzinho de Albuquerque, Ngungunyane foi deportado para os Açores onde veio a morrer em 1906. Os seus restos mortais terão sido trasladados para Moçambique em 1985. Existem, no entanto, versões que sugerem que não foram as ossadas do imperador que voltaram dentro da urna. Foram torrões de areia.
Do grande adversário de Portugal restam areias recolhidas em solo português. Esta narrativa é uma recreação ficcional inspirada em factos e personagens reais. Serviram de fonte de informação uma extensa documentação produzida em Moçambique e em Portugal e, mais importante ainda, diversas entrevistas efectuadas em Maputo e Inhambane.



site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788535926620
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Manuel Gimo 13/04/2018

História e Ficção, um casal perfeito!
AUTOR: Mia Couto
TÍTULO: Mulheres de Cinza
SÉRIE: As Areias do Imperador
VOLUME: 1/3
LOCAL DA PUBLICAÇÃO: São Paulo
EDITORA: Companhia das Letras
ANO DA PUBLICAÇÃO: 2015
PÁGINAS: 223
FORMATO DO LIVRO: eBook (PDF)

SINOPSE:

Primeiro livro da trilogia As areias do Imperador, Mulheres de cinzas é um romance histórico sobre a época em que o sul de Moçambique era governado por Ngungunyane, o último grande líder do Estado de Gaza. Em fins do século XIX, o sargento português Germano de Melo foi enviado ao vilarejo de Nkokolani para participar da batalha contra o imperador que ameaçava o domínio colonial. Lá, ele encontra Imani, uma garota local de quinze anos que lhe servirá de intérprete. Enquanto um dos irmãos da menina lutava pela coroa de Portugal, o outro se uniu aos guerreiros tribais. Aos poucos, Germano e Imani se envolvem, apesar de todas as diferenças entre seus mundos. Porém, num país assombrado pela guerra dos homens, a única saída para uma mulher é passar desapercebida, como se fosse feita de sombras ou de cinzas.

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«A diferença entre a Guerra e a Paz é a seguinte: na Guerra,os pobres são os primeiros a serem mortos; na Paz, os pobres são os primeiros a morrer. Para nós, mulheres, há ainda uma outra diferença: na Guerra, passamos a ser violadas por quem não conhecemos.» (p. 63)

Depois de mergulhar no mundo de Ngungunhane (ou Ngungunyane, ou ainda Ngungunhana) ficcionado pelo Ungulani Ba Ka Khosa, em “Ualalapi” (2008)¹, vi-me instigado a querer mais conhecer o mundo do hosi (imperador) Mudungazi. Na verdade, adoro romances históricos e não consigo resistir ao ter oportunidade de ler um. E eis que me aparece este “Mulheres de Cinza”, primeiro volume da trilogia “As Areias do Imperador”, de Mia Couto, pseudônimo de António Emílio Couto. Meu conterrâneo Beirense.

Mia Couto dispensa qualquer tipo de apresentações. Um escritor que estimo muito, Couto está no topo da minha classificação dos melhores autores que já li. A poética escrita miacoutiana é das mais agradáveis e prazerosa que já tive. E com isso, não poderia estar mais ansioso para mergulhar na reimaginação do Estado de Gaza pelas mãos de Mia Couto.

«Diz-se em Nkokolani que o mundo é tão grande que nele não cabe dono nenhum.» (p. 12)

Na Nota Introdutória, Couto deixa bem claro que o que vamos ler é uma narrativa fictícia baseada em personagens e factos reais, originada duma extensa investigação documental e em testemunhos orais. É também nesta nota que ficamos a saber o porquê do título “As Areias do Imperador”. Ngungunyane foi o último dos imperadores que governou toda a metade sul do território de Moçambique, o chamado Estado de Gaza, o segundo maior império em África dirigido por um africano. Este foi derrotado pelas forças portuguesas sob o comando de Mouzinho de Alburquerque em 1895, e sendo deportado para os Açores, Portugal, onde viria a morrer em 1906. Em 1985, os seus restos mortais foram transladados para Moçambique, todavia, há quem sugere que o que estava na urna não eram ossadas do hosi mas sim torrões de areias do solo lusitano. Razão pela qual, o título “As Areias do Imperador”.

«A vida é como uma maré.» (p. 183)

Neste primeiro volume da trilogia, conhecemos Imani Nsambe, jovem MuChopi (da tribo VaChopi) de 15 anos moradora da aldeia de Nkokolani. É a personagem-protagonista portanto conhecemos o mundo sob sua perspectiva (que também é a perspectiva do seu povo). Vive com sua mãe, Chikazi Makwakwa e seu pai, Katini Nsambe. Enquanto a narrativa progride vamos conhecendo mais a sua história. Do seu irmão caçula, Mwanatu, à seu irmão mais velho, Dubula, até ao seu tio Musisi e a esposa deste, Rosi: conhecemos a história de todos estes. Inteligente e insubmissa, Imani (que em sua língua, Imani significa “Quem é?”) é uma menina de uma personalidade marcante. A sua vida e da aldeia muda com a chegada do sargento português, Germano de Melo, que vem garantir a protecção dos campesinos contra as invasões Ngunis.

«Eis o que faz a guerra: a gente nunca mais regressa a casa. Essa casa — que outrora foi nossa —, essa casa morre, nunca ninguém nela nasceu. E não há leito, não há ventre, não há sequer ruína a dar chão às nossas memórias.» (p. 152)

A narração é alternada entre Imani e o sargento português Germano de Melo. No entanto, a narração do sargento só se limita aos relatórios escritos por este ao seu superior, Conselheiro José d'Almeida. Nestes relatórios, ficamos a saber da sua jornada até Nkokolani. Nestas missivas, também temos a sua visão do mundo em que se encontra, sua insegurança e alheamento às “superstições dos cafres”. Exilado da sua amada Portugal por causa do seu passado de rebeldia, a sua estadia em Moçambique é um exílio posto pela Coroa lusitana. Chegado a Nkokolani, o português tem Imani como sua guia e intérprete, pois esta fala muito bem o Português. Confiado a missão de organizar os preparativos para a chegada do capitão Mouzinho de Albuquerque, que liderá as forças portuguesas na batalha contra os Vátuas, termo usado pelos portugueses para se referirem aos VaNgunis, a tribo de Ngungunyane. Da sua chegada até a chegada do messiânico capitão, os eventos se mostraram ser imprevisíveis, ao mesmo tempo que o sargento cria uma relação de afeto muito forte com Imani.

«Sorte a dos que, deixando de ser humanos, se tornam feras.Infelizes os que matam a mando de outros e mais infelizes ainda os que matam sem ser a mando de ninguém. Desgraçados, enfim, os que, depois de matar, se olham ao espelho e ainda acreditam serem pessoas.» (p. 37)

Ler “Mulheres de Cinza” não é só a intricada trama que nos encanta, esta obra é, acima de tudo, um romance histórico. Portanto, temos a História. Apesar de ficção, alguns factos são verídicos, consequentemente é possível identificar alguns factos reais nisso tudo. E falando em ficção se misturando com a verdade, é possível notar nas páginas a extensa investigação do autor. Couto tece tão bem essa dicotomia “real vs irreal” que só temos um único pensamento durante a leitura: isso aconteceu de verdade.

E como não podia faltar, a oralidade (ou folclore), os costumes e hábitos locais imperam toda vez que Imani entra em cena. É algo de encher os olhos de tanto alegria de ver tudo aquilo nas páginas.

«[...] as guerras nunca começam. Quando damos por elas, já havia muito que vinham acontecendo.» (p. 83)

“Mulheres de Cinza” é também sobre um passado pouco lembrado, ou que é negligenciado, em Moçambique, e/ou em África em geral. Durante a escravatura ou colonização, vítimas e culpados estiveram todos misturados. A história foca o conflito entre os colonos portugueses e o “Leão de Gaza” na luta pela ocupação do Sul de Moçambique.

Temos a família Nsambe, nas pessoas de Katini e seu pai Tsangatelo, que renegaram suas tradições e aceitaram ser “civilizados” pelos portugueses. Dentro da própria família Nsambe, há discórdia. Dubula Nsambe não vê nenhum mal na invasão nguni, mas não aceita a intromissão dos portugueses que para ele representa a morte da sua raça. Um contraste a Dubula é o seu próprio irmão, Mwanatu Nsambe, que é fascinado pelos portugueses e é sentinela no quartel que abriga o sargento português. O tio Musisi é um verdadeiro contraste a estes dois irmãos, para este nestas invasões não há nada benéfico para o seu povo. Quanto a Imani, assim como o sargento português, sente-se não adaptado aos dois mundos. As mulheres desta família, Imani, Chikazi e Rosi, ou mesmo da aldeia inteira, são mulheres de cinza, isto é, num mundo dominado por homens e guerras lideradas por homens, elas tem que se tornar cinzas, invisíveis.

Vê-se claramente o povo moçambicano representado pela esta família. Dos que compactuaram-se com as invasões estrangeiras (no sentido: estrangeiros a tribo ou cultura), os que não se aliaram aos invasores e os que se tornaram neutros e passivos a situação.

Há poucos neologismos nesta obra, algo que me entristeceu um bocado, mas isso não tira a beleza da mesma.

Um grande começo dessa trilogia.

«(...) Mas a Paz é uma sombra em chão de miséria: basta o acontecer do Tempo para que desapareça.» (p. 14)

OUTRAS CITAÇÕES:

«(...) aquele que está em cima nem sempre manda no que está em baixo.» (p. 39)

«As mães da minha terra trazem o luto de todas as guerras.» (p. 53)

«Precisamos amedrontar quem nos quer causar medo.» (p. 53)

«Os mais perigosos inimigos não são aqueles que te odiaram desde sempre. Quem mais deves temer são os que, durante um tempo, estiveram próximos e por ti se sentiram fascinados.» (p. 126)

«A generosidade de uma família mede-se pelo modo como acolhe os hóspedes.» (p. 141)

«— Nesta tua terra, meu caro Mwanatu, Jesus estaria desempregado: aqui não há quem não faça milagres.» (p. 163)

AVALIAÇÃO: 9.5/10

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Review by: Manuel Gimo

site: www.fb.com/manueltchatche.rmt
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Aninha 21/02/2018

Paz é uma sombra em chão de miséria
"Mas a Paz é uma sombra em chão de miséria; basta o acontecer do Tempo para que desapareça." (página 21)

Emendei um Mia no outro: há 1 mês li Cada homem é uma raça e agora devorei o volume 1 da trilogia "As areias do imperador".

Aqui temos os conflitos raciais e culturais entre portugueses e africanos, no vilarejo de Nkokolani, que vivia amedrontado pela constante ameaça de Ngungunyane, o temido líder e imperador do sul de Moçambique.

Em fins do século XIX, o sargento português Germano de Melo foi enviado a este vilarejo para evitar a expansão dos domínios de Ngungunyane. Tão logo ele chega, conhece a jovem Imani, de apenas quinze anos, que será sua intérprete nesse novo mundo. Ela mora com os pais e tem 2 irmãos: Dubula se aliou ao inimigo e Mwanatu - o tonto e atrasado - aos portugueses.

Os capítulos são intercalados: ora temos os relatos de Imani, ora lemos as cartas que Germano escreve para o Conselheiro José d´Almeida, em Portugal, relatando suas dificuldades, dúvidas e temores.

Conflitos na família (entre tio e pai, entre irmãos, entre marido e mulher) dão o tom da trama, a qual é permeada pelo medo dos invasores e os mistérios e encantos da natureza.

As guerras e as perdas desumanizam a todos que são atingidos e deixam sempre algum tipo de marca. Seja na pessoa, seja na terra onde vivem.

"É para isso que servem as fardas: para afastar o soldado da sua humanidade." (pág.20)

"...bebíamos para fugir de um lugar. E tornávamo-nos bêbados porque não sabíamos fugir de nós mesmos." (pág.42)

"...as guerras nunca começam. Quando damos por elas, já havia muito que vinham acontecendo." (pág.142)

"... não são os mortos que pesam. São os que não param nunca de morrer." (pág.283)

Como sempre, vale a pena ler Mia Couto.
Boa leitura!

site: http://cantinhodaleitura-paulinha.blogspot.com.br/2018/02/mulheres-de-cinzas-as-areias-do.html
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Andressa.Oliveira 29/11/2017

Lindo e tocante como uma poesia
Ainda estou encantada com a forma que Couto constrói sua narrativa. Tanta poesia em cenários áridos, com pontos de vista diversos fazendo o leitor permear aqui e lá. Quero devorar a bibliografia inteira.
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SILVIA 12/03/2017

Uma leitura linda
Meus comentários estão no site.

site: http://reflexoesdesilviasouza.com/livro-mulheres-de-cinzas-de-mia-couto/
12/03/2017minha estante
O Sonho de um Homem Ridículo é uma pequena (no tamanho se compararmos com Irmãos karamazov) obra prima.


12/03/2017minha estante
Comentei no lugar errado.


12/03/2017minha estante
Qual é o site dos seus comentários?




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