Isabel 01/12/2012Encontrei-me elogiando Cassandra Clare em mais de uma ocasião. Não retiro os elogios, mas o que teria ocorrido em Cidade de vidro? Estaria eu mais intolerante com os erros dos escritores que leio? Ou a queda brusca de qualidade foi a natural em autores de trilogias?
[Poderá conter spoilers de Cidade das cinzas.]
Agora é a batalha final: a trama de Valentine vai finalmente se realizar e a divisão e a corrupção entre os caçadores das sombras se acentuam. Clary enfrenta seus próprios fantasmas. Me irritou um pouco que ela tenha dado muita atenção a seu relacionamento proibido com Jace em detrimento de salvar sua mãe do coma, mas vai, deixo passar – um romance estilo Romeu e Julieta é bem mais agradável de se ler do que um problema realmente sério.
Mas agora o segundo problema poderá ser resolvido: graças a um recado deixado por uma amiga de sua mãe, Clary descobre que, com a boa vontade de um feiticeiro excêntrico, poderá salva-la. A viagem a Idris, aliás, não poderia ser mais conveniente – na cidade dos caçadores das sombras naquele momento decide-se o futuro de todo o submundo.
O enredo é o mais interessante de toda a série Os instrumentos mortais até agora e o romance Alec/Magnus ficou a coisa mais fofinha do mundo – juro, eles são um dos meus casais favoritos da ficção. O que me incomodou, então?
Vamos começar pelos diálogos. Eles são tão... americanos! Sei que é um termo vago e talvez até mesmo meio preconceituoso, mas não existe outro que caiba – é como se Clare tivesse decidido recortar diálogos de roteiros de filmes estilo sessão da tarde e colá-los no arquivo de seu livro, uma experiência neo-dadaísta bastante falha.
Depois tem Clary. Nunca morri de amores por ela, mas em Cidade de vidro, passei da apatia para o desgostar. Em metade do livro ela se lamenta, na outra enfatiza o quão forte digdindigdindigdin ela é por ter passado por tudo que passou. Ah, peraí! Verossimilhança, Cassandra, VE-ROS-SI-MI-LHAN-ÇA!
Sei que a capacidade de escrita e a cultura geral de Cassandra Clare permitem algo melhor. É como se dois livros tivessem virado três por um esforço tremendo que deu no que deu. Espero ansiosamente por Clockwork princess, terceiro volume de As peças infernais, a fantástica prequel de Os instrumentos mortais – mas dessa última já tive o suficiente.
Publicada originalmente em http://distopicamente.blogspot.com.br