rlc.blurryface 23/01/2022
Recomendo muuuuito, mesmo com críticas
Recomendo muitíssimo, principalmente pra quem curte psicologia e contos levemente macabros. Mas também é muito bom pra quem estuda o feminismo, não pq é um manual ou um livro fiel aos conceitos do movimento, mas pq dá pra extrair muitas observações das quais hoje fazemos críticas.
Eu jurei que seria um livro focado em teorias feministas de um jeito muito sério e quadradinho, talvez de leitura maçante e coisas do tipo, mas ele é muuuuito gostoso de ler. Apesar de reconhecer os pontos negativos (opinião pessoal) e do fato de estar bem longe do que eu acredito em relação ao feminismo e as expressões da luta, eu tive um grande prazer nesse processo, pois a autora é bastante dinâmica na sua escrita, você se sente próximo dela num nível que dá muita vontade de tê-la como amiga (mesmo sabendo que haveria muita discussão por pensar diferente kk). Várias vezes eu tive a impressão de estar numa conversa, ela nas palavras e eu nos meus pensamentos.
De verdade, muito bom e tranquilo de ler, inclusive seu tom bem humorado em muitos dos comentários no decorrer do livro me animavam nessa jornada (venhamos e convenhamos, é um livro longo). Além de que eu adorei conhecer algumas histórias, em cada capítulo ela traz uma ou mais e, a partir delas, ela destrincha toda uma relação entre o que o conto diz e o que ele realmente pode estar dizendo pra nós, do mundo real. Nós, mulheres reais. E é aqui, obviamente, que eu acabei discordando de algumas coisas. Maaas, é muito interessante ver o que um simples conto que nos foi passado na infância pode ter em suas camadas mais profundas pra nos ensinar. Ela faz todas as relações possíveis e eu, particularmente, fiquei presinha do início ao fim querendo coletar tudo o que ela tinha pra ensinar enquanto analisava o que eu mesma pensava sobre o assunto.
Enfim, eu também fiz algumas observações como o fato de ela ser meio limitada em sua visão de gênero/sexualidade. Como se mulher se resumisse a quem tem o órgão genital feminino, mulher cis, e portanto só quem o tem vive essas experiências, emoções e ambições. Ela é muito apegada a intuições e questões espirituais, e eu compreendo que é pq faz parte da realidade dela como alguém que crê nisso, mas nem todos temos essas percepções de "ser/viver" e eu acho que é aí que surge esse conflitozinho. É claro que existem diferenças de vivência, mas achei que a abordagem foi muito limitada a pessoas cis e, ao meu ver, deveriam ser mais abrangentes. Também o fato de supor do início ao fim que todas as relações, quando apontava alguma, sejam heteronormativas. Muitas de suas observações não se enquadram necessariamente em um relacionamento heteronormativo, ou não exclusivamente. Eu posso estar equivocada na minha análise (porém isso é muito pessoal, né), mas senti que faltou uma certa abrangência na sua narrativa, acho que ela excluiu outras formas de ser mulher, de ver o mundo e de se relacionar, além de ter um olhar "feminista" mais conservador, patriarcal. Maaaaas, no mais, gostei do livro e me agregou em muitas coisas. Leiam e tirem suas próprias conclusões.
Se mais alguém já leu e tem algo pra pontuar eu gostaria de saber, comenta aqui :3