Julia G 14/07/2016Clichê Confesso que Clichê, de Carol Dias, chamou minha atenção pela capa. Não sou uma amante incondicional de tons rosa nem nada assim, mas a cor combina com o título e a composição me atraiu. E é claro que, pelas circunstâncias, não podia esperar algo que não fosse clichê, já que tudo no livro demonstra se tratar disso.
Marina deixou o Brasil para viver mais perto de sua tia, sua única parente viva, e para tentar uma vida melhor nos Estados Unidos, mas nem por lá as coisas estão fáceis. Suas duas graduações não serviram para nada no país. Por isso, quando surge a oportunidade de trabalhar como babá, ela aceita na hora. Seu chefe milionário, bonito e viúvo não passa despercebido e é claro que, como em todo bom clichê, Marina se apaixona por ele.
"Tento entender por que a vida é tão clichê.
Por que as pessoas conseguem cometer o mesmo erro várias vezes?
Por que a vida não tem criatividade para escrever trajetórias diferentes para todas as pessoas do universo? E fica repetindo e repetindo a mesma história, inúmeras vezes.
E eu só quero gritar, porque a vida resolveu me dar um dos clichês mais irritantes e insuportáveis.
Eu me apaixonei pelo meu chefe.
Pelo meu chefe milionário."
A narrativa de Clichê se dá em primeira pessoa, pelo ponto de vista de Marina, e o tom é bastante informal, aparentemente com a intenção de dar um ar mais leve e divertido ao texto. Marina interrompe bastante a descrição e a narração para inserir suas observações pessoais, no maior clima de #MigaSuaLoka, e esse aspecto descolado pode agradar bastante aos leitores. Comigo, no entanto, esse ponto em específico não funcionou muito bem. Eu adorei o modo de escrita da autora Carol Dias, e mergulhava na história com a maior facilidade, mas, toda vez que Marina se interrompia para fazer um comentário, eu tinha a impressão de estar sendo arrancada da história. Quero deixar claro que isso só aconteceu porque, durante a leitura de um livro, eu entendo que ele seja bom quando eu esqueço que estou lendo e apenas vivencio a história; isso aconteceu durante quase toda a obra, exceto nas partes que Marina vinha com suas gracinhas.
Por conta disso, acabei gostando mais dos trechos narrados por Killian, inseridos no final de cada capítulo, que contavam um pouco de sua história antes de Marina aparecer. As cenas de romance com Mitche foram as minhas preferidas, para ser sincera, já que havia amor e companheirismo gritantes, e foi impossível ficar alheia à história dos dois.
Esse aspecto, no entanto, não reduziu a graça da trama. Carol Dias conseguiu construir bons personagens, com a mistura adequada entre seriedade e humor exigida em um chick-lit. Consegui ser surpreendida com algumas risadas no enredo leve, que tinha também sua pitada de drama. Encantei-me principalmente por Alisson e Dorian, as crianças de que Marina passou a cuidar. Conseguia imaginá-las como crianças de verdade, e adorei que Carol tenha conseguido criar situações pelas quais qualquer criança poderia ter passado.
O romance da história foi um pouco irritante no começo. Achei bem forçado que Marina soubesse que se apaixonaria pelo seu patrão desde que o viu pela primeira vez - ela mesma diz isso na cena - e que o envolvimento entre o casal tenha sido um pouco rápido demais. O engraçado é que, nesse ponto do livro, eu achei que não iria gostar do romance, porque não tinha gostado muito até então, mas foi depois que eles se envolveram que eu comecei a sentir que o casal tinha química e que os dois combinavam juntos. Acho que foi a parceria que se firmou entre os dois que deu maior credibilidade ao casal.
Gostei bastante também dos aspectos musicais do livro. Os melhores momentos da história foram aqueles em que Marina lidava com instrumentos, como quando ensinava as crianças, ou quando deu uma "surra" em Mimado Manning. Sempre tive um tombo por música, e inseri-la no enredo foi como transformar o livro em um bom filme de sessão da tarde.
Clichê, em síntese, cumpre aquilo a que se propõe: é uma leitura clichê, mas divertida e desprendida, que pode ser uma ótima companhia em uma tarde de leitura.
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