valentine 15/01/2023viva ela! que ainda está vivaClarice, tu não me engana. Isso aqui não são contos, é você se reclinando e cochichando no meu ouvido as histórias mais peculiares que já ouviu. Ou sonhou, até onde sonhou. Fo-fo-ca. Com Clarice eu sou assim: sua escrita me faz sentir que tenho intimidade com ela, ela escreve como fala, fala como pensa, pensa tanto quanto escreve. E, como acontece entre amigas, ou com alguém que ficou tempo demais em uma outra cidade, eu adoto seu sotaque, seus dialetos, tem muito de Clarice em mim, como tem de mim em quem me ama. Amo ela muito, me sinto menos sozinha com a forma de encontrar poesia nessas coisas que os outros acham banal, ela é emocionada, sensível mesmo e ainda faz isso parecer chique.
Em "a via crucis do corpo", encontramos uma literatura nua, uma espécie do método do fluxo de pensamentos. Clarice sem filtro, Clarice tão cansada que fez o que quis e entregou o que fez, sem adições ou enfeite. Uma arte que não se planeja, não foi feita para ser arte, foi feita para que se expressar. E, tadinha, como mesmo diz, condenada a escrever, faz arte até sem querer. Ela deixa transparecer seu pessimismo, seu cansaço, uma redenção ao amargo da vida, as coisas são assim, ruins, sem aviso. E ainda tem beleza, quase sempre quando é audaciosa.
Me faltam palavras, Clarice. Vou ouvir qualquer fofoca que queira me contar.