Andressa 24/04/2017
Na faculdade de Jornalismo, somos apresentados logo no começo do curso ao conceito de valor-notícia ou critérios de noticiabilidade. A grosso modo, são fatores cuja presença ou ausência influenciam para que um determinado fato chegue ou não aos jornais, como o caráter inesperado do acontecimento, a amplitude de pessoas envolvidas e afetadas, o impacto social consequente e a negatividade, porque más notícias vendem mais do que boas notícias. Por todo esse compilado, a catástrofe sem precedentes fruto da explosão na usina nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia, em abril de 1986, foi um prato cheio para os noticiários da época. Contudo, somente 30 anos depois do maior desastre nuclear da história temos acesso ao lado de quem contraditoriamente foi muito mencionado, mas pouco ouvido: as vítimas.
Em Vozes de Tchernóbil – A História Oral do Desastre Nuclear, a jornalista bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura em 2015, resgata e apresenta os relatos dos sobreviventes à explosão e ao incêndio no reator da usina nuclear, acidente responsável por causar um número ainda incalculável de mortes diretas e indiretas, multiplicar em 78 vezes os casos de câncer na região e espalhar radiação por boa parte da União Soviética e da Europa ocidental.
Anulando formalmente a sua própria voz e abdicando da condução de um narrador, Svetlana costura as polifônicas vozes de múltiplos atores da confusa tragédia: embora os intelectuais como filósofos, físicos e médicos e os poderosos como políticos tenham seu espaço, é a gente simples composta pelos camponeses, bombeiros e liquidadores (civis e militares encarregados da limpeza da área), assim como seus familiares, que protagoniza essa colcha. Da idosa que se recusou a abandonar a terra em que viveu toda a longa vida à criança que nem nascida era à época da explosão, mas que sofre os efeitos da radiação; do pai que perdeu a filha inocente à esposa que perdeu o marido herói chamado para apagar um incêndio que nada tinha de comum, mas que ninguém se deu ao trabalho de avisar: foram mais de 500 entrevistados em dez anos de pesquisa.
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