Luíza | ig: @odisseiadelivros 10/01/2022Tanto em tão poucoLivros curtos me assustam. Não são todos os escritores, todas as escritoras que conseguem escrever tanto em tão pouco.
Samanta Schweblin é uma das que consegue.
A escritora argentina me fisgou nas primeiras páginas. Enquanto lia, lembrei-me de Pedro Páramo, de Juan Rulfo. A sensação foi semelhante: não sei o que está acontecendo, mas há algo neste livro que me atrai, por isso, vou até ao final em um fôlego só.
Mas enquanto Rulfo fornece algumas respostas, Samanta não pretende fazer o mesmo, deixando o leitor encarregado de preencher (ou não) as lacunas.
“Distância de resgate” fornece mais perguntas do que respostas, porém isso, a meu ver, não é ruim. O livro possui uma técnica interessante, a narrativa progride com o diálogo entre dois personagens, que precisam encontrar o momento exato em que algo acontece na narrativa, a fim de, talvez, encontrar respostas. Ou uma saída.
Uma dessas personagens é Amanda, que está passando uma temporada no campo com sua filha Nina enquanto o marido trabalha nos arredores. Ela conhece sua vizinha Carla, que lhe conta uma história perturbadora envolvendo David, filho de Carla.
David foi contaminado ainda criança, e para salvá-lo, Carla recorre a uma mulher conhecida na vila como “a mulher da casa verde”. No entanto, após David ser salvo, Carla afirma que ele não parece o David que conhecia antes.
É esse David que conversa com Amanda ao longo do livro.
O livro abarca duas discussões que, embora pareçam totalmente distintas, casam-se no livro com maestria: a maternidade e a questão ambiental. A questão ambiental, aqui, pode ser a resposta para a contaminação no povoado, “enriquecido” pela expansão agrícola. Já a maternidade está na relação superprotetora entre Amanda e Nina – por isso o título, que Amanda explica algumas vezes na narrativa. É o fio invisível que une ela à filha e tensiona em momentos de perigo iminente. Mas... é possível proteger os filhos de tudo? Mesmo daquilo que não é visível aos olhos?
Um livro sufocante, que eu li praticamente sem respirar em poucas horas. Já me disseram que vale a pena ler mais da autora e, com certeza, ela vai ficar no meu radar!
Já leu este ou outro livro da Samanta Schweblin?
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