Rafa 22/11/2023
A tragédia da república romana.
Júlio César foi uma experiência única de leitura para mim porque o li em um dia enquanto assistia a segunda temporada da série Império Romano, chamada "O Senhor de Roma".
A minha visão de César sempre foi contraditória. Enquanto na literatura, e no cinema também, o enxergava como um fanfarrão; nos livros e aulas de história não era apenas um conquistador romano, era um herói.
Na peça de Shakespeare, a ausência de vínculo entre o personagem e o eu leitora me impede de impactar com o seu assassinato. Em paralelo, a riqueza narrativa do personagem na série me fez lamentar profundamente. Acredito que tenha sido o propósito de Shakespeare em manter o público na superfície para dar protagonismo aos discursos de Bruto e Marco Antônio, criando uma atmosfera dúbia aos dois.
Ao escrever a peça, o objetivo de Shakespeare era trazer uma crítica à política contemporânea da Inglaterra de 1599. Em minha opinião, ele manteve o cuidado de não inflamar o público a ponto da tragédia e toda sua consequência fosse replicada, então optou-se para criar algo que instigasse a pensar.
Esse é um dos motivos por eu amar enredos históricos, principalmente quando se mantêm atual, tornando a obra um clássico. É assustador, porém, enxergar o mesmo cenário na política contemporânea do Brasil. Mudam-se as eras, mas o conflito dual e o poder de persuasão continuam os mesmos.
Na série, senti falta do conflito entre Marco Antônio e Bruto. Sobrepondo ambas as obras, a personalidade de Marco Bruto também diverge. Gosto mais do de Shakespeare, pois o modo como foi coagido por Cássio, motivado pela honra e patriotismo, foi mais forte e real do que a característica de animosidade a César, influenciada pelo ciúme da mãe representada na série.
Um titã tornou-se Júlio César aos meus olhos, e a peça de Shakespeare, "a tragédia de Marco Bruto", este que agiu para salvar a república romana, porém a destruiu.