Lima 09/07/2022
Todos os feitiços, encarnações e contos de Clarice Lispector
Terminei a leitura e me faltam palavras para comentar o que eu sinto e senti durante esse tempo que passei em contato com a obra de Clarice Lispector. "Todos os contos" vai muito além de uma simples literatura ou de uma singela coletânea de histórias de qualquer autor que já li na vida. É, na verdade, um amontoado de retalhos, feitiços e encantamentos em prosa, uma magia que surpreende e enbasbaca o leitor virgem de Clarice, mas que, acima de tudo, tende a sufocá-lo. O cenário em que muito desses contos se passam é em lares domésticos, protagonizados por personagens que fogem completamente dessa domesticidade. Na verdade, são seres performáticos, atores em cena nesse incômodo ensaio teatral que é a sociedade e seus exigentes padrões fictícios que tendem a nos ditar como sermos humanos. Quando se dão conta dessa grande inventisse que é o ser social, os personagens de Lispecor explodem em uma loucura já não mais contida, em uma busca frenética para se encontrarem, até voltarem logo em seguida para o "eu", que já não é o "eu" cívico de antes, mas um desdobramento do indivíduo, estranho a si mesmo, porém autêntico. A carga melancólica de algumas histórias é pesada demais para não ser sentida e, alguns personagens, marcantes demais para serem esquecidos ao fechar o livro e guardá-lo na estante. Após a leitura, o que aprendi foi o que já sabia há muito: eu desprezo e me surpreendo com o ser humano, tão brilhantemente retratado por Clarice em seus contos. Que prosa genial. Que mulher genial. Uma das melhores leituras do ano. Minto. Da vida!