spoiler visualizarVitorcfab 09/04/2023
O Rei Do Inverno
--- Meus Comentários ---
A primeira coisa que preciso destacar é a narrativa desse livro, uma vez que a história é contada a partir do ponto de vista de Derfel, antigo soldado e um dos amigos mais próximos de Arthur.
Derfel decide registrar essa história quando já está bem velho e vivendo em um mosteiro. Em suas palavras, deixa claro sua admiração por Arthur, admiração pela pessoa que ele foi e pelos feitos que conquistou.
Sua narrativa parece emular a de uma aventura épica, como se estivesse contando a história de uma lenda viva, ou a trajetória de um grande herói, algo grandioso e repleto de significado emocional para o narrador.
Ainda que seja um reconto das lendas do rei Arthur, é perceptível que Bernard Cornwell teve um enorme trabalho de pesquisa para escrever esse romance, se esforçando ao máximo para desenvolver seu enredo com base em fatos históricos.
Esse também é um livro mais maduro, violento e pessimista, que conta com uma escrita rica em detalhes e que busca reconstruir com precisão o período histórico retratado, desde o estilo de vida até às questões políticas.
Também é uma história longa e potencialmente complexa, que envolve vários personagens secundários e pequenos sub-arcos políticos, que acontecem "ao fundo" da história de Derfel e Arthur.
As cenas de batalha são um espetáculo que merecem ser enaltecidos. Cornwell é com certeza um dos maiores e melhores escritores para conduzir uma cena de guerra, tornando-a realista e vívida.
Todas as sensações de um soldado são descritas de forma muito críveis e imerssivas, é fácil se sentir dentro de uma parede de escudos e temer pela própria vida enquanto lê esse livro. Ele descreve a batalha com muitos detalhes, sem medo de faze-la se estender por várias páginas, nos colocando à par de cada investida do exército ou suas estratégia, além de representar confrontos muito bem coreografados, momentos quase cinematográficos.
Não é exagero dizer que são batalhas extremamente visuais e empolgantes, que podem até glorificar a guerra de forma errada, mas possuem muito valor de entretenimento e qualidade de escrita.
O livro conta com muitos personagens, tanto no núcleo principal quanto nos enredos secundários, que acontecem "ao fundo" da história principal.
São personagens muito interessantes e que nos deixam com boas camadas interpretativas. Podemos ver a análise de Derfel sobre cada um deles, ainda que essa análise possa ser enviesada em alguns casos. E claro, podemos construir nossas próprias interpretações, baseadas nas várias atitudes dúbias ou impactantes que presenciamos.
Mas Derfel é um dos que mais se destaca. O próprio ato de relatar essa história parece algo lindo e profundo, como uma tentativa de se reconectar com quem ele foi e com o que ele viveu, uma maneira de reviver seus dias de ouro, que agora foram substituídos por uma vida pacata.
De forma geral, esse primeiro volume parece trazer um enredo bastante introdutório, mas muito rico em detalhes e com boa dose de complexidade, preparando o terreno para o que virá daqui pra frente e estabelecendo um enorme potencial.
Veremos a formação de Camelot, o início da jornada de Arthur e o começo de sua ascenção. Também teremos Gorfydyyd estabelecido como o principal antagonista desse livro, que nos conduzirá à uma batalha grandiosa nos últimos capítulos.
Revisitar essa história depois de tantos anos foi uma experiência maravilhosa, percebi que esse livro era muito melhor do que eu me lembrava, o que me deixou muito empolgado para continuar.
--- Personagens ---
Derfel. Narrador da história. No tempo presente, se mostra um homem muito experiente e calejado pela vida, mas que ainda nutre uma grande admiração e até amor fraterno por quem foi o rei Arthur, por isso decide registrar sua história. No passado, acompanhamos sua trajetória de vida desde a infância até o começo da vida adulta. Apesar de ser um saxão de nascença, jurou fidelidade aos britânicos, e tem como grande objetivo se tornar um soldado que defenderá seu reino. Ele não é apenas uma pessoa que observa e relata a história, pois o autor adiciona boas camadas de humanidade para ele, construindo sua vida pessoal, seus sonhos, dramas, romances, sucessos e fracassos.
Arthur. Filho bastardo de Uther, que a princípio é destinado a ser o guardião juramentado de Mordred (filho legítimo e herdeiro de Uther). Segundo Derfel, Arthur era um homem bondoso, confiante e praticamente um líder nato, com habilidades em combate que mais pareciam as de um deus. Ele odeia a guerra, mas faz o que precisa ser feito para garantir o que considera como o bem maior e a proteção de seu povo, pensamentos que ele deixa claro em conversas profundas com Derfel. Também demonstra ter uma boa consciência de classe e empatia, pensando constantemente nos menos favorecidos de seu reino.
Nimue. Uma irlandesa que foi tirada de sua família e escravizada depois de um ataque do rei Uther, mas foi encontrada por Merlin, de quem se tornou amante. Ela é uma pessoa sagaz e muito consciente de sua realidade, sabe que sua proximidade com Merlin garantia poder e influência, vantagens que ela sabe como utilizar. Também é uma mulher crente nos deuses antigos, e acredita que está destinada a desempenhar feitos importantes, mas as vezes suas crenças parecem mexer demais com sua mente, ao ponto de motiva-la a fazer coisas bem estranhas, que parecem beirar a loucura. Ela teve um grande e incômodo desenvolvimento nesse livro, passando por situações terríveis (algumas até auto-impostas) que moldaram muito sua personalidade. Sua participação também é mais importante do que eu esperava, sendo até mesmo útil em batalhas, com suas estratégias e supostos feitiços.
Merlin. Ele passa a maior parte do livro desaparecido, quase como uma lenda, mas quando retorna rouba a cena toda vez que aparece. Ele é um senhor inteligente e muito sábio, além de ter uma personalidade divertida com um certo humor malicioso. Também é um líder absoluto, o tipo de pessoa que sabe manipular todos com facilidade.
Morgana. Uma das filhas bastardas do rei Uther, que no começo do livro já tem cerca de 30 anos. Ela é uma mulher completamente deformada por cicatrizes, que adquiriu depois de escapar de uma incêndio que matou seu marido. É uma mulher séria, fria e possivelmente amargurada pela vida.
Guinevere. Esposa de Arthur, uma mulher bela e gananciosa, que amava principalmente o que Arthur poderia se tornar, bem como o poder que conseguiria ao se unir a ele. Guinevere demonstra ser uma mulher manipuladora e muito astuta, e até mesmo tenta convencer o marido a roubar o trone de Mordred.
Lancelote. É um soldado habilidoso e uma pessoa horrorosa, que mais parece um garoto mimado que consegue tudo que quer a qualquer custo. Seu nome fez muito sucesso e gerou lendas, mas segundo Derfel ele era um homem covarde, que evitava batalhas por medo de ganhar cicatrizes.