Pilantrinha 19/07/2022
Esse Artur tem muito é chifre e a venta suada.
Não vou enrolar muito, não. Isso aqui é incrível.
O Rei do Inverno te pega logo nas primeiras páginas, e o tempo todo você se pergunta se aquilo é um livro de ficção ou algum retrato da época. Não adianta o que você me dizer, para mim Derfel Cadarn existiu exatamente como ele próprio contou neste livro (talvez com algumas coisas que ele mesmo enfeitou), e o resto da galera também.
Por falar em Derfel, a forma que o Bernard Cornwell encontrou de contar sua história, com um narrador em primeira pessoa contando a jornada de Artur é genial. Como Derfel, somos só alguém acompanhando as desventuras de Artur, e isso causa uma identificação genuína. Mesmo assim, Derfel é um personagem incrível, muito bem construído. Acho que pouco me importei com Artur, estava mais interessado em saber como o garoto que escapou da morte lidava com seus dramas.
Os outros personagens são um espetáculo a parte, não vejo ninguém aqui que não seja interessante. As releituras de Merlin e Morgana são ótimas, porque trouxeram uma coisa mais humana às lendas (da mesma forma com Artur). Merlin é sábio, cheio de truques e os carambas, mas também é um velho intransigente cheio de ideias problemáticas. Morgana, cheia de mistérios por trás da sua magia, é rabugenta e rancorosa. Humanos.
E então, vem Artur.
Somos acostumados a ler e assistir diversas histórias sobre o lendário cavaleiro. Aqui, boa parte da "magia" cai por terra. Artur é um guerreiro incrível, coberto por lendas, sua Excalibur e seu cavalo... mas ainda é mais um homem burro, me identifiquei demais. O nosso "protagonista" faz cagada o tempo todo e durante toda a história precisa da ajuda dos outros, o que me deixou muito feliz. Os heróis são todos meio assim, orgulhosos e um pouco idiotas, e nunca fazem nada totalmente sozinhos. Ninguém faz.
A obra é meio pesada, até por lidar com questões do século V/VI, onde nós humanos éramos totalmente animalescos, e por isso pode incomodar o público mais sensível. Cornwell pode ser gráfico em suas cenas de batalha e sanguinolência, mas é mais contido ao falar sobre estu***(o que eu agradeço), que acontece bastante por aqui.
Se você é cristão, talvez precise de um cuidado ao ler esse livro, o autor pouco se importa com as críticas que são feitas as mais diversas religiões, e o cristianismo tem uma imagem bem fragilizada na obra (o que faz sentido ao ver o período, mas talvez desagrade algum religioso mais ferrenho).
No mais, é isso. Fiquei hipnotizado ao ler sobre a Britânia e em três dias tinha acabado com esse livro. Já separei ali o próximo volume, louco para voltar a acompanhar Derfel e Artur nas maiores PRESEPADAS do reino da Dumnonia.
Bebam água, comam frutas. Valeu!