Lina DC 04/08/2016Não existe outro lugar igual à Night Vale. Um lugar onde nada é o que parece ser e que a resposta mais lógica nunca é a correta. Night Vale é repleta de peculiaridades, incluindo seus moradores.
Um desses moradores é Jackie Fierro, uma jovem de 19 anos que não envelhece há um bom tempo. Como gerente da loja de penhores da cidade, ela tem uma rotina até que um dia, um homem usando um paletó bege aparece na loja.
"Os dias passavam em silêncio, quase vazios, com alguns pensamentos. Em certos dias ela recatalogava o inventário. Em outros, tirava o pó das prateleiras. Mas sempre se sentava e pensava. Tentava se lembrar do dia em que assumiu a loja. Esse dia devia ter existido, mas ela não conseguia recordar os detalhes. Fazia aquilo havia décadas. Era muito jovem. Ambas as afirmações eram verdadeiras". (p. 11)
O homem do paletó bege entregou um papel com apenas duas palavras escritas: KING CITY. E esse papel grudou em Jackie, fazendo-a se desestabilizar por completo.
Em paralelo, acompanhamos a história de Diane Crayton, uma mãe solteira. Seu filho é um adolescente de quinze anos de idade chamado Josh. Um adolescente normal. Ele muda de forma de acordo com o humor. Em um momento ele tem tentáculos, no outro asas ou pelagem ou até mesmo uma coloração diferente. Tudo completamente normal.
"Às vezes, Josh toma a forma de um pássaro, de um canguru ou de um guarda-roupa vitoriano. Às vezes, mescla seu aspecto: cabeça de peixe com presas de marfim e asas de borboleta-monarca". (p. 19).
Esses três personagens são o foco da trama, pois juntos precisarão embarcar em uma aventura maluca para descobrir as respostas para os seus questionamentos.
Em paralelo com essa história, temos capítulos narrados por Cecil, o locutor da rádio comunitária de Night Vale. É através de seus capítulos que o leitor é apresentado ao cotidiano da cidade.
Os autores souberam usar de forma maestral esse surrealismo que é Night Vale para discutir temas como a busca da própria identidade, os laços de família e o amor imensurável de uma mãe pelo filho.
Em relação à revisão, diagramação e layout a editora realizou um ótimo trabalho. Internamente existem vários detalhes que enriquecem ainda mais o enredo. Existem alguns errinhos de digitação, como por exemplo na pagina 318, mas que não interfere em nada na leitura.
"A história da cidade de Night Vale é longa e complicada, remontando a milhares de anos, quando os primeiros povos indígenas surgiram no deserto. Mas não vamos falar sobre nada disso aqui. Basta dizer que é uma cidade como qualquer outra: tem uma prefeitura, uma pista de boliche (a Madrugada Enluarada), um supermercado (Ralphs) e, claro, uma estação de rádio comunitária que transmite todas as notícias que os cidadãos tem permissão de ouvir. Por todos os lados é cercada por um vasto deserto, plano e ermo. Talvez seja muito parecida com sua cidade. Talvez seja mais parecida com sua cidade do que você gostaria de admitir. É uma amistosa comunidade do deserto, onde o sol é quente, a lua é linda e misteriosas luzes atravessam o céu enquanto todos fingem dormir. Bem-vindo a Night Vale". (p. 07)
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