Fernanda631 23/01/2023
Welcome to Night Vale
Welcome to Night Vale foi escrito por Joseph Fink e Jeffrey Cranor sendo publicado em 13 junho 2016.
Não se deve esperar que as coisas façam sentido em Night Vale.
A cidade de Night Vale é perfeitamente normal. Para os seus moradores. Para nós, muitas coisas podem estranhar. Seus cidadãos convivem em harmonia com anjos, alienígenas, trocadores de formas, nuvens sencientes e agentes do governo sinistros. Além de que todas as teorias da conspiração são reais nesse lugar. A primeira personagem que conhecemos é a Jackie Fierro.
Ela é a gerente da única loja de penhores que existe em Night Vale. E como vocês já devem estar esperando, essa não é uma loja de penhores comum: Jackie faz qualquer negócio. Ela aceita negociar qualquer mercadoria. Se você vê valor em algum item, pode ir na loja da Jackie que ela vai aceitar o negócio.
O dia transcorria muito bem, Jackie sentia que estava próxima da hora de encerrar o expediente. Isso mesmo, você leu certo. Jackie apenas sente que está na hora de fechar, afinal não se marca o tempo em Night Vale. Nesse momento, se aproxima um homem de paletó bege e carregando uma pasta de couro de veado. Ele quer penhorar um pedaço de papel, escrito “KING CITY”. E Jackie aceita.
Os próximos personagens que conhecemos é Diane Crayton, mãe de Josh Crayton. O filho tem a habilidade de trocar de forma, e faz isso constantemente. E em um dia normal no escritório (ela trabalha montando banco de dados), Diane recebe o telefonema de um colega de trabalho avisando que precisará faltar, e pedindo para que ela avise a chefe. O problema é que ninguém se lembra do tal colega ter um dia trabalhado lá, somente ela se lembra dele.
A partir daí, nota-se alterações por toda Night Vale, e como essas duas personagens – e todos os outros – vão reagir a essas mudanças, vocês só vão saber lendo o livro.
É importante dividir com vocês que em diversos momentos a narrativa é interposta com o programa de rádio do Cecil Palmer. Ele anuncia tudo que acontece na cidade, e é muito importante se manter informado…
Toda a proposta do livro é muito divertida, e toda a estranheza nos leva a devorar a próxima página. Mas tive um problema com esse livro, mesmo problema que senti quando li “Os Filhos de Anansi” do Neil Gaiman: eu não sou muito fã de humor negro. Eu entendo que ali deveria ter uma piada ácida, mas não consigo me divertir com ela.
A narrativa da história principal é intercalada com a narração de Cecil Palmer, o radialista da cidadezinha que parece ter olhos e ouvidos em todos os cantos do lugar. O dia a dia dos moradores de Night Vale envolve Fastamas, Anjos - todos se chamam Erika - Alienígenas, Agências governamentais misteriosas que seguem os moradores e "espionam" suas vidas bem de perto, entre outras coisas bem estranhas que estão sempre acontecendo.
A história principal gira em torno de Diane Crayton e Jackie Fierro, duas cidadãs aparentemente normais - se é que isso é possível em Night Vale. As duas vêem suas vidas virarem de cabeça para baixo e seus caminhos se cruzarem quando um homem de paletó bege carregando uma pasta de couro de veado entrega para cada uma delas um pedaço de papel escrito KING CITY. E elas não conseguem se livrar desse pedaço de papel, sempre que tentam jogar fora ou rasgar ele simplesmente aparece em suas mãos novamente.
Uma coisa curiosa sobre esse homem de paletó bege é que após qualquer interação que qualquer um tenha com ele a pessoa simplesmente esquece tudo sobre ele. Seu rosto, seu nome, sua voz.... Tudo.
Enquanto Jackie é dona de uma peculiar loja de penhor, Diane trabalha para uma empresa que ninguém sabe exatamente ao certo o que faz - nem mesmo os funcionários - e também tem que lidar com seu filho, Josh, um adolescente que muda de aparência a hora que quiser - e é qualquer forma mesmo, de animais a plantas, passando por uma mistura dos dois.
Em um certo ponto da história Josh demonstra sua vontade de saber quem é seu pai e diz que deseja conhecê-lo, o que só complica ainda mais a vida de Diane que começa sua própria pesquisa sobre o homem para então decidir se vai ou não apresentá-lo a seu filho.
E essa é a base da história principal do livro. A busca de Jackie e Diane por King City - o que não será nada fácil já que em Night Vale a biblioteca é um lugar perigoso onde nem todos que entram conseguem sobreviver ou sair de lá - e ao mesmo tempo Diane tem que encontrar Troy, pai de Josh, e decidir se vai apresentá-lo ao seu filho ou tentar convencê-lo a desistir de conhecer o pai. E a narrativa dessas duas personagens é intercalada com algumas narrações de Cecil contando notícias do transito e fazendo seus próprios comentários sobre o que está acontecendo na cidade - como eu disse acima, ele parece ter olhos e ouvidos em todos os lugares e fala abertamente o que está acontecendo e manda até alguns recados direcionados exclusivamente para determinadas pessoas, às vezes até mesmo citando nomes.
Mais uma vez, esse livro tinha todo o potencial para ser simplesmente incrível, mas infelizmente ele é desnecessariamente longo. Muita coisa que acontece no livro poderia ter ficado de lado para que ele ficasse um pouco menor e a leitura não se tornasse cansativa.
O livro não segue Cecil – o radialista e narrador do podcast – como já citei, embora ele apareça em interlúdios. Acompanhamos, em vez disso, a história duas mulheres: Jackie Fierro, uma garota que cuida da loja de penhores da cidade e que tem 19 anos desde que consegue se lembrar, e Diane Crayton, uma mulher cuja maior preocupação é seu filho adolescente Josh, que assume qualquer forma física possível (embora o maior problema de Josh não seja esse, mas o pai que o abandonou e a relação com a mãe). O caminho das duas se cruzam quando ambas começam a se envolver num mistério envolvendo o pai de Josh e um desconhecido misterioso que aparece em Night Vale e de cujas feições ninguém consegue se lembrar. Pra quem ouve o podcast: sim, é o homem de paletó bege com a pasta de couro de veado. O livro vai desvendar quem é esse personagem e o que quer na cidade!
Assim como no podcast, em que momentos de pura hilaridade e nonsense se misturam com pensamentos profundos.
A obra consegue equilibrar os dois extremos do podcast muito bem, e fiquei bem impressionada com o modo como descreve as emoções dos personagens. Também fazia tempo que não lia um livro sobre duas mulheres e as duas protagonistas são personagens ótimas – enquanto os dilemas de Jackie são mais distantes da realidade (como não ter lembranças e nunca envelhecer), o drama familiar de Diane soa muito verossímil. Achei a primeira metade do livro um pouco mais lenta e confusa, mas à medida que a trama se desenrola, a história fica mais envolvente, e o final – como o podcast em seus melhores momentos – deixa o leitor refletindo.