jota 25/07/2011De olhos marejados Este livro ganhou o Prêmio Jabuti de Melhor Romance de 2010. Não é nenhuma obra-prima, por vezes é até um pouco aborrecido, mas os capítulos finais compensam a leitura.
Ocorre um crime logo nas páginas iniciais. Uma linda mulher é brutalmente assassinada. Dois meninos são tidos como suspeitos, Paulo e Eduardo. Mas o marido da vítima, um dentista com o dobro da idade dela, se apresenta como o assassino.
Livres da suspeita, Paulo e Eduardo, os dois garotos da pequena cidade fluminense produtora de café (a ação se passa nos anos de 1960) decidem descobrir quem matou a mulher do dentista. Já que não acreditam que tenha sido ele, mesmo réu confesso. Eles contam com a ajuda de Ubiratan, um estranho senhor que mora num instituto para pessoas com problemas mentais, administrado por freiras.
Conforme os capítulos vão avançando, muitas revelações são feitas acerca do passado de todos os personagens e da história da cidade. Como nela há um bordel administrado por uma madame polaca, que se passa por francesa, muitos palavrões são ditos e há também um pouco de humor. E uma frase lapidar à página 140: "Puta é uma mulher permanentemente aberta à visitação pública.
Bem, depois de um começo mais ou menos empolgante, etc., a história deixa de entusiasmar tanto, especialmente a partir da metade do livro. Torna-se até um pouco repetitiva, e os longos diálogos não ajudam muito. Embora isso não seja motivo para abandonar a leitura.
Finalmente, depois de muitas pistas falsas e algumas mortes, o assassinato da linda mulher é amplamente esclarecido no capítulo doze, juntamente com outras histórias cabeludas da pequena cidade fluminense. E aí, após algumas impressionantes reviravoltas na história e todo o caso bem esclarecido, os quatro capítulos finais se tornam extremamente interessantes.
É quando a história salta para a São Paulo de 2002 e depois mergulha novamente no passado distante de 1961, outra vez em busca dos dois meninos, Paulo e Eduardo. São páginas extremamente comoventes e aí Edney Silvestre mostra sua competência em lidar com sentimentos humanos sem ser piegas. E foi capaz de deixar meus olhos de leitor marejados durante vários parágrafos... Pelo início, por algumas passagens e pelo final, nota 4,0. Pelo todo, 3,5 seria mais justo, acho.