jack_delavega 10/08/2009
Review do livro Blink
Blink fala sobre o inconsciente adaptável, uma parte do seu cérebro que toma decisões rápidas, baseadas em uma série de experiências e dados que você possui em seu cérebro.
Imagine a seguinte situação: você está em uma floresta e vê uma árvore caindo em sua direção. Você acha que consegue pensar em todas as opções? É claro que não. O ser-humano não teria nunca sobrevivido por tanto tempo se todas as suas decisões fossem tão lentas quanto as que tomamos usando o racional. O psicólogo Timothy Wilson descreve que “a mente opera com maior eficiência relegando ao inconsciente uma boa parcela do pensamento sofisticado e de alto nível, assim como um moderno jato de passageiros consegue voar com o piloto automático com pouco ou nenhuma intervenção do piloto humano ‘consciente’. O insconsciente adaptável faz um excelente trabalho de avaliar o mundo, alertar a pessoa em caso de perigo, definir metas e inicar a ação de maneira sofisticada e eficiente.”
Pois bem, é deste tipo de decisão que o livro trata. Tanto das decisões que tomamos de forma acertada (por exemplo, quando julgamos alguém competente ou não depois de alguns minutos conversando com ele) como as que tomamos de forma equivocada (por exemplo, quando inconscientemente você associa negro à preguiça e mulher à familia devido aos padrões pré-estabelecidos de sua infância, meio ou mídia). O livro analisa como podemos tirar proveito dessas decisões e como podemos aprender a doutrinar o nosso inconsciente a não ser influenciado por tais padrões, aumentando ainda mais o poder de decisão que temos.
Não confunda isso com qualquer tipo de superstição. Não é. O autor em pouco tempo foi elevado ao status de o mais novo guru no mundo empresarial – pelo fato de apresentadar pesquisas de uma forma tão simples e “palpável” ao público leigo, deixando claro que podemos ganhar muito, seja na empresa ou em casa, com a namorada, se começarmos a ouvir nosso consciente adaptativo com cautela.
O livro começa com uma história incrível, onde diversos especialistas em arte, ao verem o Kouros (uma estátua Grega que estava sendo vendida ao museu Getty), sentiram que era uma falsificação, mas não sabiam porque sabiam disso. Um antigo diretor do museu Getty, Thomas Hoving, ao olhar para a estátua disse que ela era viçosa. E “viçosa” não era o que ele esperava de uma estátua de 2 mil anos de idade. Pediu para que o curador do museu não finalizasse a transação. Depois, uma das maiores especialistas do mundo em escultura grega, Evelyn Harrison, foi levada para ver a estátua e, quando o curador tirou o pano que a cobria, ela teve uma forte sensação que tratava-se de uma falsificação. Não sabia o porquê, mas sentia que a estátua não era verdaderia e também aconselhou que a compra não fosse efetuada. O museu começou a ficar preocupado e decidiu realizar um simpósio especial sobre esse tipo de estátua na Grécia.
Lá, mais avaliações negativas foram feitas. Mas como não havia provas (e não se aceita sensações como parecer), depois de vários meses de testes laboratoriais (testando idade, textura, etc), a estátua foi dada como verdadeira e adquirida pelo museu Getty por 10 milhões de dólares. Como as suspeitas ainda continuavam, mais testes foram realizados mesmo após a compra. Meses mais tarde a ciência finalmente verificou o que os especialistas tinham percebido muito tempo antes mas não sabiam explicar: a estátua era realmente uma falsificação.
O que todos os especialistas fizeram usando o inconsciente adaptativo foi fatiar fino. Sei que você certamente já fez isso. Sempre que sou apresentado para qualquer pessoa, durante os primeiros 5 ou 10 minutos fico observando a forma como ela responde às perguntas, a forma como ela fala comigo e geralmente tenho um grau de acerto bem grande para saber se a pessoa (a) é inteligente, (b) está se sentindo à vontade, (c) é falsa e (d) está interessada em se dar bem comigo e com os outros da mesa.
E para provar o ponto do fatiar fino, o livro conta a história de um psicólogo chamado John Gottman. Por incrível que pareça, ele consegue, depois de uma hora na presença de um casal, dizer com 95% de acerto, se o casal ainda estará junto daqui a 15 anos. Se ele observa o casal por 15 minutos, a taxa de acerto cai para 90% (ainda extremamente alta). E a ciência dele consite em filmar o casal e atribuir um código de emoção (lamentação, tristeza, teimosia, etc – cada emoção possui um peso específico) para cada segundo de interação do casal. É um fatiar fino científico. 10 minutos representam 1200 medições (600 para o marido e 600 para a esposa). Incrível não? Ele estuda há mais de 20 anos casais e continua acertando...
Na verdade achei tão incrível a ciência de fatiar fino ensinada pelo Blink e de quanto podemos ganhar no dia-a-dia se a utilizarmos corretamente que comprei o livro do John Gottmann “The Seven Principles for Making Marriage Work” (Os 7 Princípios para Fazer o Casamendo Dar Certo). A experiência dele, depois de fatiar casais durante esses mais de 20 anos, mostrou duas coisas importantíssimas:
O desprezo é muito mais crítico em um casal do que a raiva ou a tristeza, pelo simples fato de que, quando você fica triste ou com raiva, você ainda tem esperança e aposta naquela relação. O desprezo mostra que você já está “em outra”.
Como Gottmann também faz terapia de casal, tentando fazer os dois voltarem “aos eixos”, percebeu (novamente fatiando fino) que com 7 princípios básicos você poderia manter o seu relacionamento sempre em alta. Os que mais gosto são: melhore seus “Mapas do Amor” (ou seja, saiba o que o outro gosta e não gosta); Alimente sua Admiração pelo outro; Deixe seu Parceiro Influenciar Você; Resolva seus Problemas Solucionáveis (se você entende o ponto-de-vista do outro e está disposto a resolver, o problema é solucionável); e Lide com os Problemas Não-Solucionáveis (por exemplo, religiões e crenças diferentes).
Incrível! Mais um livro que provava o uso do inconsciente adaptativo e do fatiar fino a seu serviço. Agora estava certo que Blink realmente estava falando a verdade.
E o fatiar fino pode ser usado em quase todas as situações da vida. As entrevistas são um momento ímpar para se fatiar alguém. Ultimamente, passo os primeiros 5-10 minutos apenas conversando amenidades com o candidato para conseguir mapeá-lo para, então, preparar as perguntas e verificar se o que fatiei dele é correto. Acredite, a qualidade da minha avaliação cresceu abruptamente.
E Blink segue com diversos exemplos e casos incríveis sobre nosso inconsciente adaptativo.
As importantes conclusões do livro, para mim são:
Como o caso da estátua Kouros provou (e vários outros citados no livro), temos um poder incrível de tomar decisões muito mais rapidamente do que as decisões racionais – às vezes nos falta acreditar nas decisões.
Se eu (Dr. Zambol) fosse apresentado à estátua, provavelmente não emitiria opinião nenhuma ou iria errar por muito, tendo um sentimento que a estátua era verdadeira. Isso prova que o insconsciente baseia-se em nossas experiências e conhecimentos. Como não sei nada sobre estátuas, meu incosciente estaria navegando no escuro. Ou seja, acredite no seu inconsciente adaptativo somente se você tem conhecimento de causa sobre o assunto, senão, trata-se apenas de um feeling.
Nosso inconsciente é facilmente enganável por padrões de nosso meio. Mesmo uma pessoa não-rascista e não-machista, como bem fala o livro, pode ser influenciada em uma entrevista, por exemplo, ao avaliar uma mulher ou um negro devido a algumas ligações ocultas em seu inconsciente adaptativo. Tome cuidado, não estamos lidando com o racional. Portanto, mesmo que você não seja rascista (racionalmente) pode ter ligações contrárias em seu cérebro na parte não-racional. Aprenda a lidar com isso. Como bem comenta Malcolm em Blink, uma forma de aprender o que é isso e como você reage é fazer alguns testes IAT (Implicit Association Test). O livro apresenta exemplo de testes que você pode realizar.
A adrenalina e o taquicardia prejudicarão em muito seu poder de pensamento – qualquer um, o racional e o do inconsciente.
Para mim, Blink é um livro sensacional, muito fácil de ser lido e com lições para serem usadas no dia-a-dia tanto profissional como pessoal. Aconselho a leitura do livro para qualquer pessoa que queira entender mais como o nosso cérebro funciona e aperfeiçoar a sua tomada de decisão, a melhorar o processo de fatiar fino – extrair o máximo de um fato com o mínimo de informação no menor tempo possível.
Boa Leitura!