Karli Souza 01/05/2017
Os seres humanos me assombram
Tenho medo de livros curtos, eu os vejo e tenho a ilusão de que vou ler rápido ou então que não vão ter muita história, mas são eles que mais adquirem o contrário, livros curtos não tem enrolação... são claros e objetivos... a narração é curta, entretanto, muito bem equilibrada, precisa e informativa, e foi o que aconteceu com esse livro.
Já foi comprovado que o John Boyne escreve perfeitamente personagens infantis que são testemunhas inocentes de guerras cruéis, porém dessa vez foi diferente, tivemos um protagonista que testemunhou uma guerra da infância até a fase adulta... conhecemos toda a sua vida em 225 páginas, é inacreditável!
Pierrot... Pierrot, eu o amei, o odiei, senti pena, senti empatia, tive raiva, o perdoei... E por fim não sei mais o que sinto em relação a ele. O que eu realmente sei, é que sofreu, e fez inúmeras pessoas sofrerem também, foi a representação real de pessoas ingratas, alienadas, que deixam o poder subir a cabeça, mas que também são ingênuas e como milhares de pessoas na história, realmente acreditou, realmente acreditou que estavam fazendo o certo. Cometeu inúmeros crimes; pode se sentir culpado, pode querer se perdoar, pode mentir, mas sabe que sempre teve consciência daquilo que estava fazendo...
Esse livro representa o sentimento daqueles que compactuaram com a ação mais cruel da humanidade, a forma como trataram os judeus, que eram simplesmente pessoas inocentes, a forma como trataram o preconceito quer vai muito além de todos os outros, é revoltante perceber que somos capazes de fazer isso, é como o Markus Zusak consagrou em seu best-seller: "Os seres humanos me assombram."
Comecei a leitura achando interessante, depois comecei a ver a semelhança do protagonista com os outros livros do autor, depois percebi sua ingratidão, depois sua perversidade, seu arrependimento, e por fim sua semelhança com o garotinho que era no início do livro, simplesmente um menino solitário que não tinha pra onde ir, um órfão, que amava sua nação e que depois voltou pra ela com uma bagagem de história e foi muito triste ler isso.
Me surpreendi com o final do livro de todas as maneiras... porque o autor conseguiu transformar em 20 páginas um livro favoritado, com olhos cheios de lágrimas sobre aquele que o ler, transformou a narrativa em algo que adoro ver, transformou um livro que eu não dava muita coisa em umas das histórias mais realistas que li na minha vida.
Não consigo entender a classificação, infanto-juvenil? Se eu lesse um livro assim na minha infância, teria medo dos adultos. E é pra ter mesmo, porque um adulto medonho conseguiu transformar uma nação e uma criança doce, em algo totalmente ao oposto disso, foi incrível ver o protagonista não sendo um herói, mas simplesmente um ser humano real, que peca, que maltrata e que tem pensamentos bons e ruins, foi uma leitura extremamente realista e estou maravilhada por isso.
Foi extremamente emocionante essa experiência, trouxe umas das maiores morais que um livro poderia passar, o ato de perdoar... a análise do tempo... precisamos sim, estudar e interpretar a história... a civilização cometeu erros tão cruéis, que atualmente estamos perto de cometer de novo, como isso pode acontecer? Já foi comprovado o quanto de destruição causamos, não aprendemos? Não evoluímos? Apenas vamos cometer novamente? Ou pior! Vamos fingir que não sabemos o que está acontecendo? Porque essa seria a pior mentira de todas, sabemos o que está acontecendo, temos plena consciência do que está errado no mundo: preconceitos, guerras, desigualdade, morte, pecado; somos todos iguais nisso, estamos mascarados, ou, colando uma máscara em nossas caras, e rindo todos os dias, acreditando que o mundo não é como é, ele é terrível, sim ele é bom em certa maneira, mas a parte ruim está dominando tudo por trás, e precisamos sair disso, precisamos acordar e conhecer a história, saber o que já fizemos pra não fazer de novo, e ter um mundo bem melhor.
São livros como esse que nos desperta a realidade e nos faz chorar e ficar revoltados, faz perceber que nossa pequena vida tem problemas sim, mas que não se comparam ao que os outros sofreram nesse período, não trago apenas tristezas da leitura, trago felicidades também, por ter tido acesso a uma história tão incrível... que vou lembrar pra sempre, que vou depositar no fundo do meu coração e levá-la pra minha vida, porque ela foi fundamental pra eu entender o que somos: seres humanos que fazem coisas incríveis e horrendas ao mesmo tempo, que amam e odeiam, que são altruístas e egoístas, somos falhos, na qual, obrigatoriamente precisamos melhorar.