Ave Fantasma 10/11/2020Ainda digerindo as entrelinhas...Minhas impressões pontuais é que é um livro bem fluído, como gosto em livros de temática de terror e thriller, dá para ler tranquilamente em um dia livre.
Ele ocorre em um tempo curto, com algumas memórias antigas contadas para ir explicando certos acontecimentos atuais.
Não achei extramamente assustador ou terrível como a crítica e público o descrevem. Há sim assassinatos, o que em si já é horrível ainda mais se tratando da idade das vítimas e do psicopata em questão. Mas os outros comportamentos bizarros não são tão bizarros assim. Talvez eu esteja acostumada demais com histórias de terror? Hahahaa Mas não acho estranho criança guardar insetos e ossos, acho bem normal até hehehehe
A história nos prende até o fim e tem um bom ritmo. Quem gosta de terror, e histórias de suspense e psicopata vai gostar.
Mas há elementos bem assustadores e inquietantes... agora começam os SPOILERS
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De alguma forma eu entendi que haveria algo mais perturbador sobre a relação do Frank com a Fábrica, perturbador e até sobrenatural, apesar de se enquadrar mais em uma patologia. E tiveram tão poucas cenas além de não nos dar mais detalhes para entender essa relação Fábrica-Frank.
O ponto alto nessa obra é o plot twist. Eu realmente não esperava o que nos seria dado no final. Até então estava achando a história muito repetitiva, o que não chega a ser um problema porque ela é bem curtinha.
Contudo, não são os acontecimentos em si que me despertaram atenção, mas as entrelinhas desse livro, o ódio misógino que o Frank tem. Ele tenta justificar seu desprezo as mulheres com falsos dados biológicos (bem mais senso comum machista, apesar de alguns terem sido reforçados cientificamente em pesquisas questionáveis) sobre as mulheres. E fiquei pensando se isso é apenas uma característica do personagem ou se o livro de alguma forma só joga misoginia e não faz um contraponto a isso. E enquanto eu esperava um contraponto ? mesmo sendo uma obra de um homem branco na déc de 80 ? o autor nos dá outra cacetada. A revelação final nos faz entender a misoginia do Frank, mas me levou a outro questionamento, esse livro é transfóbico? Sério que uma pessoa se torna psicopata por querer vingar uma genitália masculina que na verdade nunca teve, e ainda porque cresceu sem saber sendo medicado e tratado como alguém do sexo oposto? Não sei se estou indo longe demais. Contudo, eu só fico pensando nas falas das RADFEM tratando pessoas que passam por transição como casos de equívoco e que trazem problemas e distúrbios psicológicos para estas.
Mas isso não sai da minha cabeça principalmente pelas 3 páginas finais do protagonista justificando todos seus atos como uma análise psicológica e até psicanalítica que envolve sua falsa genitália masculina.
Na melhor das hipóteses da apenas para seguir o que a fala final nos entrega. Interpretar isso como uma crítica a sociedade machista e patriarcal e como os homens são ensinados para a violência em honra de seu poder fálico, e o protagonista passou por toda essa saga viril psicopata para no fim perceber que lutou por algo que nem existia.
Como o Frank mesmo diz "Isso é que é inveja do pênis." Freud iria gostar disso. Coisa que acredito ser bem falaciosa, mulheres querem dar voz a seu poder e não tomar pra si o poder problemático dos homens.