Barbara.Spini 20/08/2019
Um relato polêmico
É assim que a autora, de pseudônimo Sophie Kasiki, desenvolve sua narrativa sobre sua breve - porém intensa - experiência na capital do Estado Islâmico (EI), Raca. Nascida no
Congo (país de persistente tradição europeia por seu histórico de ocupação belga) e criada na França após tornar-se órfã, ela detalha aspectos diversos de sua infância e
adolescência, assim como seu emprego de assistente social de famílias estrangeiras na periferia parisiense - que a permitiu aprofundar seu relacionamento com a comunidade
islâmica da região. Pertencente a uma família fortemente católica e casada com um francês ateu, por medo de represálias, Sophie converte-se secretamente ao islamismo e
conecta-se, diariamente, por mensagens, com jovens de seu bairro que se uniram ao EI. Assim, toma a decisão de largar a alegada monotonia de seus dias e visitar a Síria,
levando seu filho de apenas 4 anos.
O livro compreende a tentativa de responder, sob um prisma pessoal, um questionamento coletivo recorrente na atualidade: qual é a razão para que certas pessoas - com aparente estabilidade e de hábitos regulares - subitamente abandonem suas vidas (o que inclui familiares, projetos e empregos) para se juntarem a uma organização terrorista em outro lugar do mundo? Seria uma busca por reconhecimento? Por sentido? Até que ponto a visão ocidental sobre a vida no EI está correta?
*SPOILER ALERT*
Pessoalmente, acredito que a autora teve uma visão autopiedosa demais, sem admitir qualquer culpa que poderia ter (e na minha opinião teve, como teve) na, como ela chamaria, "aventura" em que se meteu. Entendo que a depressão teve forte influência sobre suas ações nesse sentido, mas nada que justificasse colocar a vida de seu filho em risco e levar seus parentes, na França, ao desespero. De fato, esta é também uma história de uma grande irresponsabilidade e de uma loucura, não admitida por quem a cometeu. Uma mulher que "estava sem sentido na vida" faz algo estúpido - o que às vezes fez com que a história se tornasse cabulosa e absurda - mas que, ironicamente, soou vividamente real.