As ondas

As ondas Virginia Woolf




Resenhas - As Ondas


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Tiago 29/09/2021

Desfazer-se do corpo do romance e mostrar a voz que o antecede.
O romance clássico era construído por uma mesma estrutura, tendo por base fatos e personagens. Quando narrados em primeira pessoa, havia a presença dos fatos e de uma estrutura que o organizava o enredo; havia, em alguns romances, um narrador. Em As Ondas, o sétimo romance de Virgínia, a condução é toda feita por vozes. São seis: Rhoda, Susan, Neville, Jinny e Louis - e um espectro: Percival, um ponto de encontro, algo correlativo ao que o farol de Ao Farol era para os Ramsay. Em determinadas passagens, Percival é mesmo um ponto quase a ser alcançado, como o farol do romance anterior era um lugar a ser alcançado. É também o único que não é uma voz, mas um personagem.

Voltando a estrutura do romance. É importante considerar que este seja conduzido não por personagens com corpos, mas por vozes de personagens, quase sem corpos. Essa imagem nos serve para pensar que Virginia abandonou o corpo da literatura, suas formas clássicas, seus parâmetros, para trazer em As Ondas o que é anterior à forma. Virginia queria abandonar o corpo da literatura, trabalhar apenas com sua voz e o fez em As Ondas. Toda obra tem uma voz. Em As Ondas há tão somente vozes. As ações, a realidade, os dados objetivos menos importam do que “o som militar das palavras”, como bem trouxe Virgínia no conto A Marca na Parede, referindo-se ao que importaria aos romancistas do futuro.

As vozes do romance são de dois tipos distintos: uma narrada pelos personagens e outra pelo interlúdio. Que voz narra o interlúdio? É a mesma que narra o capítulo O Tempo Passa, que serve também de interlúdio para Ao Farol, romance anterior ao As Ondas. Uma voz também despersonificada, porém pertencente a personagem nenhum. Como se a Coisa mesma, o olho que há sobre os lugares que não habitamos descrevesse a cena que vê. Virginia também nos conduz de um romance a outro como nos conduz com a continuidade de seu fluxo de consciência. Elementos que se encontram aqui também podem ser encontrados ali. São pistas que marcam o fio que nos acompanha por seu pensamento, seu projeto literário, sua obra.

A experimentação com a temporalidade é algo que Virgínia em seus romances, sobretudo a partir de O Quarto de Jacob, que saiu pela editora que fundou com seu companheiro. Mas em Noite e Dia mesmo há uma marca da relação do tempo com os personagens: o título evoca os dois estados de um dia. Pela manhã, os fatos objetivos dos personagens, pela noite, suas questões, seus pensamentos, o que se torna difícil de distinguir as formas. O tempo sempre terá correlação com os personagens e a narrativa desde então. Em Mrs. Dalloway, o relógio são as ondas que conduzem os personagens tão menores diante dos fatos trazidos pelo tempo. Todo o romance se passa em um dia. Em Ao Farol, dois dias são separados por vários anos. Orlando é um personagem que, com uma só vida, atravessa séculos. Em As Ondas, um mesmo dia, com o sol em suas variadas posições, do nascer ao se pôr, dando lugar à lua, marcam o tempo do nascer ao morrer da vida das vozes que constroem o romance.
Outro elemento crucial, após o tempo, é a água: seu fluxo, suas ondas. Estão esses elementos presentes desde sua primeira obra, A Viagem: atravessa-se um oceano, e embora o romance seja estruturado em forma clássica, são os pensamentos mais do que as ações o centro do romance; O Quarto de Jacob se inicia numa praia; várias passagens de Mrs. Dalloway traz ondas e mar como símbolos do que se passa nos pensamentos dos personagens. Ao Farol se passa em uma ilha e além de também trazer esses símbolos em sua narrativa, tem um mar que separa os personagens do ponto derradeiro de encontro com o lugar que dá título ao romance. As Ondas é o ponto máximo, embora não último do encontro de Virgínia com as águas. O encontro derradeiro se dá com sua ultimíssima obra, seu suicídio. Não poderia ser de outra forma, penso, se não tendo um encontro real com o que sustentava imaginariamente os elementos de sua obra. É lançando-se no rio Ouse que Virginia entrega-se ao desconhecido que encontrava na água e que tentava simbolizar com sua escrita. Seu suicídio, portanto, não é um escape, mais um encontro. Um encontro final, derradeiro - e como todo encontro, sem volta.
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Vitória Romeiro 25/09/2021

como as ondas indo e vindo?
essa é a minha terceira leitura da autora e é incrível como ainda me surpreendo com a escrita de virginia, a sua narrativa só melhora a cada nova leitura.
essa foi uma das melhores obras mais precisas em descrever a passagem do tempo e as relações humanas.
a leitura é densa em alguns momentos e leve em outros, calmaria em alguns momentos e em outros momentos de agitação, sempre indo e vindo da mesma forma que as ondas do mar.
não haveria título melhor pra descrever tal obra.
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Wesley.Andriel 26/08/2021

Profundo, imagético, poético
Ler Virginia Woolf sempre me devolve aquele prazer, literalmente prazer, de ler algo bom, detalhado na medida, com descrições visuais e sonoras dos lugares, ruas, paisagens, interiores. Parece que nada é supérfluo: cada palavra sucede a outra poética e sinfonicamente.

Não é um livro comum, não é para ler correndo. As Ondas tem um estilo narrativo e estrutura que pede que o leitor dê ao texto o tempo que ele precisa. A linguagem não é difícil, o fluxo de consciência não confunde, como em outros livros dela, quando não sabemos por vezes quem está "falando" ou "pensando".

As primeiras páginas são as mais desafiadoras, mas basta desacelerar um pouco o ritmo que logo engata e flui. É uma delicia chegar ao fim, é uma experiência de leitura sem igual.

site: https://medium.com/@wesleyandriel
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Marcelo H S Picoli 28/06/2021

As ondas
O livro trata da passagem do tempo e as relações humanas, em uma abordagem contemplativa e característica da Virginia Woof.
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Sara 25/06/2021

As ondas
A escrita desse livro é incrível demais,e o fluxo de consciência presente, não sei se entendi tudo provavelmente não,pretendo reler e notar mais coisas que deixei passar. Esse livro me fez pensar muito nos eus que nos acompanham durante todo o passar do tempo,da vida,do sol e das ondas.
E as ondas quebraram na praia.
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Matheus 13/06/2021

Mergulhe
O livro mais preciso em descrever a passagem do tempo e as relações humanas. Tudo se mistura. Somos gotas de um oceano.
As ondas quebram na praia.
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arthur966 11/05/2021

tento expor um segredo que ainda não foi contado a ninguém; estou pedindo (parado, de costas pra você) que tome minha vida em suas mãos e me diga se estou condenado a sempre causar repulsa naqueles a quem amo.

nunca vou me recuperar desse livro.
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Carol 03/03/2021

No início a leitura não estava fluindo, mas quando começou a fluir eu comecei a notar o objetivo do texto, que é funcionar como as ondas, indo e vindo.
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Ricardo256 02/03/2021

Overdose de fluxo de consciência
Considerado um dos livros mais densos da Virginia Woolf, As Ondas conta as passagens de tempos de seis pessoas (3 homens e 3 mulheres) na forma de fluxo de consciência. O livro é dividido em 9 capítulos, sendo cada parte separada por um prelúdio que mostra no decorrer do livro a passagem do sol em um dia. O livro tem uma musicalidade muito linda, sem contar o jogo de palavras que Virginia utiliza. Este é um livro que vale muito a pena ler na língua materna, pois muita da construção do texto é perdida com a tradução. No entanto, a tradução da Lya Luft está maravilhosa.
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Só Paula 04/01/2021

"Há sempre alguma coisa para se fazer a seguir. Terça feira vem depois da segunda; quarta após a terça. Cada dia espalha a mesma ondulação. O ser vai crescendo em anéis, como uma árvore. Como uma árvore, há folhas caindo."

A vontade em ler "As ondas" veio com a leitura de "Por lugares incríveis" em que as personagens citam diversas vezes a obra de Virginia Woolf. Ao ler o livro, me deparei com uma narrativa complexa e intensa, com muitas passagens que me levaram a reflexão. O romance possui várias frases incríveis que vou levar pra toda minha vida. Confesso que, de início, foi muito difícil entender, mas ao longo da história, tudo foi ficando mais claro e apaixonante para mim.
Leandro.Bonizi 19/12/2022minha estante
Para mim também foi difícil de entender na primeira vez que tentei ler e abandonei. Mas alguns anos depois procurei ler devagar e procurando todas as palavras no dicionário e vi que o livro era uma obra prima, com reflexões sobre a vida em suas diversas fases.




Ingrid 03/12/2020

'Essa gota caindo é o tempo afilando-se num ponto... O tempo cai como uma gota cai dos sedimentos no fundo de um cálice. Esses são os verdadeiros ciclos, esses, os verdadeiros eventos'
As ondas é quase como um monólogo de 6 personagens que interagem indiretamente. Com certeza uma narrativa diferente e complexa mas que acaba criando um fluxo muito calmo e curioso.
Um livro diferente e interessante. Virgínia Woolf trata de temas atuais e relevantes de forma extremamente sútil e delicada. Um lindo livro!
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Mikael_13 22/11/2020

Neste livro, tive mais uma vez o gostinho da prosa poética de Virginia Woolf.
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Thais CardBeg 14/09/2020

Experimento de registrar a vida
"Não sou apenas uma pessoa; sou muitas; ao fim e ao cabo, não sei quem sou". Narrativas em que nos perdemos às vezes no fluxo entro os personagens e o jogo da vida, seus enlaces, personalidades tão diferentes e todos tão humanos. A solidão odiada, pensada, abraçada, refletida e sentida... eis a natureza.
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Punyama 05/09/2020

"As Ondas quebram-se na praia."
Eu não me sinto suficientemente preparado para fazer uma resenha completa deste livro ? tanto por não ter o fator idade/vivência suficiente quanto porque não conseguiria expressar em palavras o quanto ele é incrível (meu vocabulário não é vasto o suficiente para exprimí-lo) ?, mas vou tentar dizer algumas coisas. Pra começar, devo dizer que ele é um tapa na cara, um tapa seco e sem dó. O livro é narrado por "fluxo de consciência" ? o que só intensifica tudo o que está acontecendo ? e segue a história de 6 amigos, desde a infância até a velhice e morte. Pelo fato de ser narrado em fluxo de consciência não tem como a autora ficar explicando tudo, então ele apresenta várias lacunas onde o dever de supor e preencher é do leitor, e eu vi isso como um ponto positivo. Além de nós, leitores, termos poder criativo, a autora tem mais tempo de se focar no que realmente importa: o desenvolvimento dos personagens através de todas essas décadas. Como muita gente fala, "As Ondas não é um livro de história, é um livro de desenvolvimento de personagens". E isso a Virginia Woolf faz muito bem!
Os últimos 20% foram quase impossíveis de ler para mim. É onde o personagem já está idoso e começa a se lembrar do passado, num momento de reflexão. Nesse ponto a narrativa muda um pouco e o livro fica mais denso, pesado e seco, como que para representar a proximidade da morte, os sonhos que não se concretizaram, os amigos que se foram e toda a dor sentida. É triste ver toda essa amargura, mas é algo necessário.
Bom, este livro se tornou um dos meus favoritos da vida, e com certeza vou o reler daqui alguns anos, quando eu estiver mais experiente, e certamente vou o enxergar de uma forma mais completa.
Quando eu terminei As Ondas eu estava chovendo.
grs.neto 24/10/2020minha estante
Ótima resenha!!


Leandro.Bonizi 19/12/2022minha estante
"Pelo fato de ser narrado em fluxo de consciência não tem como a autora ficar explicando tudo, então ele apresenta várias lacunas onde o dever de supor e preencher é do leitor" ? Bem observado!




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