Rosie 24/09/2023
Confissões de uma máscara foi meu 2°livro lido do Yukio Mishima. Após a leitura de “Mar Inquieto” decidi ler mais algumas obras do autor e conhecê-lo um pouco mais, entretanto, fiquei um pouco surpresa com o que me deparei.
Este é o seu primeiro livro escrito, publicado em 1940. Um livro com fundo autobiográfico e que nos trás um lado um tanto quanto obscuro do autor.
Mishima foi para a literatura japonesa foi um homem excepcional. O que me fez quer conhecer suas obras foi a forma como ele demonstra a sexualidade e a sensualidade de um modo sutil e lírico. Mas neste livro, além de nos entregar essa sensação calorosa do amor ele também nos entrega dor e sofrimento na mesma medida – se não uma dose a mais que necessária.
Nesse seu livro de estreia somos apresentados a vida do autor desde novo entre seus 05 anos, sua adolescência entre seus 13-15 anos e o início da sua vida adulta com seus 21-22. Ao mesmo tempo que a história acaba abruptamente – que acredito que o autor já esteja entre seus 23-24 anos o que seja antes de sua vinda ao Brasil com seus 27 anos.
No primeiro capítulo da história, temos o autor entre seus 05-10 anos onde começa seus pensamentos homossexuais (não reconhecidos pelo próprio) e pelo seu desejo e prazer pela dor e morte. Segue uma passagem das descobertas descritas pelo autor com aquela idade: "na minha infância eu lia todo tipo de conto de fadas que me caísse nas mãos, mas não gostava das princesas. Só gostava dos príncipes. E sobretudo daqueles que eram assassinados, ou aos quais o destino reservava a morte. Amava todos os jovens que eram mortos."
Já no segundo capítulo, temos o autor entre seus 13-15 anos e onde ele finalmente tem consciência de seus desejos homo afetivos, mas o interessante é que Mishima nos conta que os desejos homo afetivos era voltado para o desejo carnal, o desejo do toque, o desejo da relação sexual com outro homem. Esse era o sentimento, vulgo um sentimento que o deixaria insaciável e que o deixava desconfortável por todo o tempo. Também continua sendo bem interessante as referências e as comparações que ele usa para ajudar a descrever seus sentimentos e sensações nas ocasiões.
Devo dizer que o terceiro capítulo – e o mais longo da história –, foi um misto de emoções para mim. Mishima estava terminando o colegial, se preparando para faculdade, ao mesmo tempo que a 2° guerra mundial acontecia, ao mesmo tempo que conheceria Sonoko – talvez a primeira e única mulher que ele de fato amou. Tivemos Mishima depressivo, espontâneo, recluso e com vontade de viver. Tivemos muitos autos e baixos, mais baixos que autos, que foi muito difícil continuar com a leitura nesse capítulo.
Em um dos seus momentos depressivos e sádicos, ele escreve “"... estava convencido de que, num futuro não muito distante, também eu seria convocado pelo Exército e morreria em combate, e toda a minha família pereceria nos ataques aéreos, sem que o restasse um único sobrevivente."
A escrita fica com um clima tão pesado entre as páginas 120-130 que pensei que eu não fosse conseguir sair daquele limbo do autor estar em uma fase depressiva; ao mesmo tempo que está ansioso com a guerra acontecendo; ao mesmo tempo que enfiou na cabeça que quer viver um "amor normal".
Entretanto, apesar de toda essa situação dele tentando usar uma máscara para esconder quem ele de fato é, gosto muito das reflexões internas que ele nos conta; como por exemplo: quando ele fala: "...o futuro era um pesado fardo para mim..." Em um outro momento, enquanto ele está se preparando para ir servir o exército ele comenta sobre como seria para ele morrer na guerra "...o que eu buscava era uma espécie de suicídio espontâneo, natural..." Tem também os momentos dele com a Sonoko, irmã de um amigo dele que foi servir na guerra, onde ele acredita que ela seja a pessoa mais bonita que ele já viu na vida dele e como ele quer fazer dela a mulher que o ajudará a se esconder em mais uma de suas máscaras.
No quarto e último capítulo, o menor que temos. Mishima devaneia entre o passado e o futuro; entre seus arrependimentos com Sonoko e o que está por vir pós-guerra.
É um livro bem interessante e o mais interessante – e o que acaba sendo uma incógnita para mim – é pelo qual motivo o autor decidiu iniciar sua estreia na literatura com um livro autobiográfico onde se tinha apenas 20 e poucos anos? Li em alguma matéria mais ou menos assim: “Yukio Mishima era um homem que desejava a morte, mas também deseja a vida”.
“...Esperava que algo fizesse o favor de me matar. O que, em outras palavras, era o mesmo que esperar que algo fizesse o favor de me manter vivo.”
obrigada por ler tudoo isso haha
se cuide, bjinhos!
:)