Cássio F B 01/03/2022
"Os adolescentes vão se identificar"
É comum que, na contracapa de livros mais modernos, encontremos um pequeno resumo do enredo e alguns trechos de críticos que enalteceram a obra, incitando o leitor curioso a comprar esse produto. Na contracapa de Nerve, romance jovem adulto de Jeanne Ryan, o comentário que foi incluído para descrever as qualidades do texto consegue, involuntariamente, nos dizer tudo que precisamos saber sobre ele. O School Library Journal afirma que "Os adolescentes vão se identificar. Para fãs de Jogos Vorazes".
No fim, não importa a proposta única e o comentário surpreendentemente bom sobre como a cultura da internet nos fisga e nos isola, crítica que continua sendo atual, mesmo com o livro já completando sua primeira década de vida. O que realmente nos interessa é que Nerve é um romance para "os adolescentes" "se identificar", é um produto genético feito para apelar à grande massa de jovens que se sentiram abandonados na literatura depois do fim de Harry Potter, em 2007, incentivando milhares de escritores a tentarem alcançar um status similar a J.K Rowling criando suas próprias Young Adult Novels.
É justamente essa a desculpa usada para justificar a escrita básica, que não consegue aproveitar as forças da literatura como meio. É daí que vêm os personagens antipáticos e idiotas, a história de romance mal formulada e o péssimo ritmo seguido pela narrativa. Tudo isso culmina em um final insatisfatório, que mostra o desejo da autora em criar sua própria série de livros, bem no estilo de Jogos Vorazes. Após um contraste absurdo de expectativa e realidade, vemos que a vida dos personagens não mudou basicamente nada desde o começo, só que agora a protagonista é famosa e tem um namorado gostosão, que se une a ela na sua luta contra a grande corporação que fez tantas coisas ruins! Um cliffhanger barato que, como dá pra ver pelo histórico de publicação de Jeanne Ryan, não culminou em nada.
Eu pude tirar duas conclusões da minha leitura de Nerve, mas nenhuma delas realmente trata da crítica à internet e à quebra de privacidade que deu origem ao livro. A primeira é que o fim da saga Harry Potter fez mais mal que bem, porque milhares de novas obras genéricas para jovens surgiram na esperança de tomar seu lugar.
Já a segunda é que eu, um adolescente, não me identifiquei com o livro. Entretanto, quem sabe, esse livro simplesmente não seja pra mim, pois eu não sou um fã de Jogos Vorazes.