O resenheiro 17/04/2022
Uma invasão marciana no século XIX
Mais uma vez H. G. Wells mostra que estava a frente do seu tempo neste seu relato de uma invasão de marcianos no planeta Terra sob o ponto de vista de quem o escreveu no final do século XIX. Além dos detalhes imaginativos de como seriam esses alienígenas e de como conseguiram chegar aqui, mais precisamente, na Inglaterra daquele século, também é relatado o pânico e informação desencontrada, já que existia um atraso entre aquilo que realmente estava acontecendo no local da queda da cápsula com os marcianos e o que estava ocorrendo nos arredores de Londres, onde o que se sabia era que apenas um meteoro havia caído. Os jornais não conseguiam acompanhar em tempo real como seria nos tempos de hoje, sendo que ao mesmo tempo que os alienígenas saiam desta cápsula e começavam a queimar tudo e todos aqueles que curiosamente os observavam com seus Raios de Calor, a alguns quilômetros dali ainda não se tinha o conhecimento da verdadeira fatalidade deste meteoro caído do céu. E assim, aos poucos e com a linguagem deste tempo, o autor conta minuciosamente a destruição da vegetação, das casas e de todos aqueles que ignoravam o que estava por vir.
Um dado que achei curioso foi a forma como esses alienígenas encontraram para se deslocar aqui neste planeta, onde a gravidade é maior do que em Marte e portanto tornaria este avanço difícil e moroso. Os marcianos então ficam dentro de suas cápsulas por algum tempo fazendo alguns sons e ruídos estranhos, soltando fumaças verdes, e logo se descobre que eles constroem armaduras de 30 metros de altura com uma estrutura em forma de uma panela sustentada por longas pernas, como se fosse uma enorme aranha. Desta forma, os alienígenas usavam estas armaduras para correr livremente pela superfície, carregando suas armas a tiracolo e exterminando pessoas como se fossem meras formigas.
Aliás, este fato assim como tantos outros são relatados durante as divagações do narrador, o personagem principal que desde o início começa a nos contar esta história como algo inacreditável mas real que aconteceu, e estando este narrador vivo para contar esta história, isso nos dá uma pista de que a guerra travada entre os marcianos e os terráqueos teve um ganhador que não os invasores. Um outro fato interessante é a forma como o narrador se coloca no lado dos invasores, imaginando como eles poderiam nos ver. Seríamos nós vistos por eles como sem inteligência ou com uma inteligência inferior? Os marcianos provavelmente seriam agora os novos donos do planeta e nós apenas formigas sendo esmagadas. Teríamos que nos adaptar a um novo modelo de vida, nos escondendo nos subterrâneos como ratos, sentindo na pele como era a vida destes animais inferiores a nós.
Até que algo ainda mais assustador é descoberto: esses seres extraterrestres se alimentam de sangue humano! Tudo parece ficar pior e parece impossível que os humanos venham a conseguir derrotá-los. Outras cápsulas aterrissam como meteoros e chegaram a contar dez no total, sendo estimado que cada uma suportaria até cinco marcianos. E uma vasta vegetação vermelha também nasce e cobre rapidamente grande parte dos arredores por onde eles passam após destruírem tudo a sua volta. Mas algo inimaginável acontece para parar todo este extermínio...
Somente a imaginação criativa deste autor poderia escrever uma narrativa tão real sobre uma possível invasão e guerra entre estes mundos, numa época em que ainda se engatinhava nos conhecimentos deste planeta vizinho. Como falei no início, muito a frente de seu tempo! Vale a leitura para aqueles que curtem uma ficção científica com sabor antigo. Aproveitem!