Resenhas - Enclausurado

Alê | @alexandrejjr 30/11/2020

Passatempo intelectual

Ambiguidade moral. Esse é o tema que permeia do início ao fim a estória de “Enclausurado”, divertido romance (ou seria novela?) do inglês Ian McEwan. Possivelmente um autor que integra o rol dos escritores contemporâneos que já são clássicos, McEwan faz aqui um exercício de leveza filosófica, algo que já apareceu, por exemplo, no Brás Cubas de Machado de Assis. Sim, é um livro de muitos ecos e intertextualidade, com destaque para o Hamlet do nobilíssimo conterrâneo do autor, William Shakespeare.

A premissa não poderia ser mais ficcional: um bebê, enclausurado na barriga da mãe, profundo conhecedor de vinhos, começa a destilar opiniões sobre a situação global e sobre o crime que sua mãe e seu tio - respectivamente Trudy e Claude, ou, caso você tenha mais leituras do que eu, entenda claramente como a Gertrude e o Claudius da peça de Shakespeare - estão prestes a realizar. Debochado, cínico, provocador. Não é fácil enumerar as qualidades narrativas do McEwan neste livro. Importante destacar que aqui não há profundidade em grandes temas, apenas um escritor em pleno domínio narrativo mostrando suas opiniões, querendo que você, leitor, reflita à vontade com elas.

Ao optar por ter um narrador que é “um ser que ainda não é”, McEwan abre um leque de possibilidades infinitas. Mais uma vez cito Machado de Assis. Se em “Memórias póstumas de Brás Cubas” o narrador é “aquele que já foi”, McEwan volta atrás e vira a perspectiva ao contrário, sem deixar de possuir a mesma liberdade da personagem do Bruxo do Cosme Velho.

Com um previsível e acertado final, “Enclausurado” é uma leitura válida, uma espécie de passatempo intelectual. Moderno e ágil, é um livro que dialoga com a sua época e que vale o tempo de quem deseja algo mais leve no cardápio cotidiano.

Daniel 15/11/2016

Ainda Está Para Nascer Um Narrador Como Esse
Ian McEwan se mostra incrivelmente brilhante em seu mais novo romance. Com uma narrativa não muito longa, o escritor britânico nos apresenta uma narrativa tensa, baseada na tentativa de assassinato de John Cairncross pela mulher e pelo irmão, que vivem um caso extra conjugal. Tudo isso narrado por nada mais nada menos que seu filho, que ainda está na barriga na mãe. Ou seja, o narrador é um feto que apresenta ao público leitor uma narrativa cheia de pontos altos, com uma linguagem antenada ao mundo, irônica, sagaz e extremamente inteligente. Dentro da barriga de sua mãe, o bebê traz não só a narrativa, mas também, e sobretudo, considerações de caráter filosófico, artístico e existencialista. McEwan, dessa maneira, se consagra como um escritor brilhante e extremamente inteligente em suas narrativas.

Flá Costa 21/12/2016

Preciso dizer que este livro tem uma ideia sensacional. Sua premissa é ótima... um feto contando uma história? Temos que concordar que McEwan teve uma ótima imaginação, pra lá de original. Assim, já comecei o livro querendo amá-lo. Ainda mais depois de ótimas recomendações - uma colega professora indicou com todas as estrelas possíveis. Mas só consegui detestá-lo.
Detestei a narrativa presunçosa de McEwan, detestei os personagens, detestei o fato de um feto saber tão bem sobre o que se passa no Oriente e não conseguir diferenciar a cor amarela da azul. Achei cansativo, me senti na época do colégio, quando precisava terminar a leitura a qualquer custo. Achei custoso e em muitas partes - gritem, sou uma puritana! - de extremo mau gosto.
Algumas passagens são de fato boas, porém. O desfecho é a única razão pela qual não dei uma única estrela. Mas é inverosímel, muito longe da ficção científica e... chato. Bem chato!

Lili 16/11/2016

Enclausurado
O ponto de vista mais original que eu já vi: um feto na barriga da mãe é o narrador. E ele presencia o planejamento de um crime sem poder fazer (quase) nada.

A história não tem nada de espetacular, mas gostei do livro. Além da ideia ser original, o narrador é bem interessante e a história é envolvente. Nos últimos capítulos não conseguia largar o livro. Recomendo.

Lindsey 01/07/2017

Fácil de ler e difícil de esquecer
Quais são então minhas chances, as de um quase bebê cego e de pernas para cima, vivendo ainda num espaço fechado, ligado à futura assassina por tubos de sangue venoso e arterial? Silêncio! Os conspiradores estão conversando.”
Quem diz isso é um feto de nove meses, que enclausurado na barriga de sua mãe, além de sentir e ouvir tudo que se passa do lado de fora, se declara ‘um espírito livre, apesar do pouco espaço de que desponho’, descomprometido com lealdades e obrigações, sem nome nem endereço, que não conhece ainda o que é o azul ou o vermelho, mas já sabe muito sobre a natureza humana. Através do olhar desse pequeno ser, uma trama envolvente se desenrola. Sua mãe, juntamente com seu amante (e cunhado), planeja algo contra seu pai. Ele é o espectador de tudo, ‘um inocente que participa de uma conspiração’. Em meio a uma narrativa fantasiosa, o leitor é levado por esse ‘quase bebê’ através de temas que vão de pura biologia a problemas sociais e relações humanas. O autor Ian McEwan, conhecido por suas obras macabras, nesse livro não poupou o leitor de passagens filosóficas bem-humoradas e tragédias shakesperianas. Um livro fácil de ler, fácil de gostar, fácil de indicar e difícil de esquecer.
* Confira minhas outras resenhas no Instagram @livro100spoiler

site: https://www.instagram.com/livro100spoiler

Gláucia 06/12/2016

Enclausurado - Ian McEwan
Inspirado em Shakespeare, o livro é narrado em primeira pessoa por um feto que vem testemunhando, entre umas e outras taças de bons vinhos e pouquíssima comida, o plano elaborado por sua mãe Trudy (Gertrude) e seu tio Claude (Cláudio), a fim de matar seu pai, irmão de Claude e amante de Trudy.
Destaque para a cena onde surge um certo fantasma.
Leitura rápida e divertida, cheia de humor e sarcasmo, além de uma boa carga de suspense. Como pode terminar uma história assim? Eu havia acabado de ler o excelente O Jardim de Cimento, primeiro romance do autor e notei muita semelhança entre os dois, especialmente no desfecho: ambos terminam praticamente da mesma forma.
"Está para nascer um narrador assim".

umbookaholic 31/12/2020

umas 50 páginas a menos e motivação mais convincente e esse seria um baita dum livrão

Mariane 26/07/2019

Só não abandonei por estar na lista há anos
Esta foi uma leitura que iniciei cheia de expectativas, a sinopse chama muito a atenção. Entretanto, não consegui sentir empatia por nenhum personagem, principalmente pelo feto e suas divagações. Este é um livro que dei três estrelas pela história (não a escrita em si, que me deu sono em alguns momentos, mas sim aos acontecimentos).
Resumindo: me decepcionou, mas não me arrependo de ter ido até o fim.

Bruno Malini 19/04/2022

Bom
Incrível como o autor conseguiu criar uma história tão estranha com um protagonista tão inusitado...

Miguel 24/05/2017

"Ainda está para nascer um narrador como este"
Este livro seria como qualquer outro. Pois a trama é recheada de traições, ilusões, friezas perante ao ato, etc. Mas por ter sido contado por um narrador nada comum (o feto), elevou o livro em muitos patamares. A forma como é descrita toda a trama, abre sua imaginação.

Ian McEwan escreve um livro surpreendente com um narrador que tem um conhecimento absurdo da vida.

Recomendo a leitura deste livro, vai surpreender você também.

Mylla 22/02/2020

Bom
Uma leitura rápida, com uma proposta diferente, o personagem principal ainda está dentro da barriga de sua mãe e é muito opinativo.

Tati 24/11/2016

Tem pouco menos de uma semana que terminei e foi um livro que, a princípio, achei morno. Talvez seja inevitável - provavelmente um pouco injusto - não esperar sempre algo como "Reparação" quando leio o nome McEwan na capa. Mas, colocando de lado essa expectativa, Enclausurado cresce bastante e torna-se um livro divertido e cheio daqueles momentos em que você vê escrito no papel algo que já circulava em sua mente há um tempo. É contemporâneo, eu diria. Fala bastante sobre como o humano está cada vez mais fechado em si mesmo em um mundo que, aparentemente, abre cada vez mais as portas. Contraditório como tudo que é humano. A jogada com o Hamlet de Shakespeare é muito maravilhosa porque, a meu ver, o que o clássico mais coloca em questão é como somos incapazes de chegar no cerne do nosso desejo e como isso nos faz manter a sanidade e seguir com a vida. Alcançar a verdade do desejo é muito perigoso, nós estamos constantemente a rodeá-lo e talvez viver seja encontrar a melhor forma de fazer isso. Um feto ainda não sabe do seu desejo, ele ainda não foi marcado pelo olhar do Outro, ainda não tem muito bem esse discernimento. Talvez por isso ele consiga ser tão engraçado e nem um pouco trágico e brinque bastante com a nossa insignificância.

"Estar circunscrito a uma casca de noz, ver o mundo em cinco centímetros de marfim, num grão de areia. Por que não, quando toda a literatura, toda a arte e a iniciativa humana não passam de uma partícula no universo das coisas possíveis? E mesmo esse universo pode ser uma partícula numa infinidade de universos reais ou possíveis?"

"Uma voz no rádio me disse certa vez que, quando compreendermos perfeitamente o que é a matéria, vamos nos sentir melhor. Duvido. Nunca terei o que quero"

thapark 20/10/2020

Um feto, ainda não nascido, testemunha - de dentro da barriga - um plano criminoso que envolve sua mãe, seu pai e seu tio. Este livro é a narrativa em primeira pessoa de seus sentimentos de revolta e impotência, bem como de suas tentativas de alterar o curso dos fatos.

site: @livros_e_dicas

Ernani.Maciel 13/07/2019

Me conquistou.
Ian usa poucos personagens em uma história simples e objetiva como pano de fundo para, durante a narrativa, discorrer a respeito de várias questões inerentes à humanidade.

Um feto-narrador mais o fato de ter sido indicado pelo ator Antônio Fagundes (leitor inveterado) em um site, foram minhas principais motivações para adquiri-lo.

Foi minha primeira experiência com a literatura do Ian. Sua linguagem, criatividade quanto à escolha do narrador e tema, o fato de transcrever para o papel personagens intensos, além das divagações que permeiam várias páginas, tudo isto me conquistou. Tanto que já estou lendo o Máquinas como eu: e gente como você, lançando em junho de 2019.

A escrita não é rebuscada, mas o autor não se preocupada em acelerar ou encher o texto com reviravoltas, seu estilo nos leva a refletir sobre os temas abordados.

Paulatinamente lerei os outros livros do Ian.

Miguel Araujo | @sobrenomemiguel 20/05/2020

Se você não comprar a ideia do autor, talvez não terá uma leitura satisfatória
O elemento que mais me deixou curioso e com vontade de ler o livro foi justamente saber quem era o narrador dessa história: um feto. Antes de ter contato direto com o desenvolvimento da trama, imaginei várias possibilidades sobre como esse narrador poderia ser: seria irônico? ingênuo? teria noção da gravidade do que estaria a acontecer? saberia discernir o que seria real e o que seria falso? seria egoísta? sádico? ou teria uma pré-existência carregada de inocência?

Com o decorrer da leitura, pude perceber que algumas previsões foram confirmadas, mas outras situações acabaram me surpreendendo, como a linguagem rebuscada e a erudição na linguagem utilizada pelo feto e também seu conhecimento sobre um mundo que ainda nem chegou a visitar. Ora, como pode um feto saber de tantos assuntos e falar tão bem como um adulto? Aí é que está o ponto: para início de conversa, nenhum feto tem a capacidade de narrar histórias e de se comunicar através de palavras. Logo, é preciso entender que "Enclausurado" é um romance de ficção, ou seja, não se compromete com a realidade. Compreendendo isso, a leitura logo se torna mais fluida (apesar da linguagem mais, digamos, "aprofundada").

Em geral, achei uma boa leitura. Entretanto, fiquei incomodado, em alguns momentos, com a narração do feto, que em certo instante comentava uma conversa entre Trudy e Claude (mãe e tio, respectivamente) e logo em seguida começava a analisar questões periféricas, que nada acrescentavam (na minha opinião) ao enredo. Vale destacar, porém, a eficiência do autor do livro em adicionar elementos que conferem à história emoção e suspense, instigando, no leitor, a vontade de saber como a história termina: será que os amantes tiveram sucesso com seu plano? será que o feto tem alguma participação efetiva na história ou é apenas um narrador "suspenso", isto é, sem conseguir interferir nos acontecimentos? como será que os personagens lidam com as consequências psicólogicas (e até físicas) de suas escolhas?

O livro possui poucos personagens e as ações se concentram em poucos lugares, o que deixa a história dos atores envolvidos na trama mais interligada. É uma leitura satisfatória, principalmente se você comprar a ideia do autor de que um feto tem capacidade de narrar e de fazer análises como um adulto. Além disso, achei que foi uma leitura rápida de se fazer, mesmo com os devaneios e os prolongamentos (desnecessários, na minha visão) feitos pelo narrador.

Pretendo ler outros livros de Ian McEwan, principalmente "Reparação", a sua maior obra.

Fiz uma resenha de "Enclausurado" no meu canal do YouTube, e você pode conferir abaixo:

site: https://youtu.be/b3KzOZSuNA8