karolina 26/06/2023
muito bem, disse o pai, compramos um poeta.
"na loja havia poetas de muitos tipos, baixos, altos, louros, com óculos (são mais caros ), sendo a maior parte, sessenta e dois por cento, carecas, e sessenta e oito por cento de barba. [...] essas paragens são precisamente os momentos em que começam a fazer poemas nas suas cabeças. é um processo fascinante. não se irão arrepender de comprar um poeta."
esse livro se passa em uma sociedade dominada pelo materialismo, as famílias têm artistas em vez de animais de estimação. nesse cenário, onde cada espaço tem um patrocinador, cada passo é medido com exatidão, e até a troca dos afetos é contabilizada, que uma menina pede ao pai um poeta
achei muitíssimo interessante, uma boa de uma critica social, vou dizer. e, apesar do livro ser em portugues de portugal, a leitura ainda sim foi bem fluída.
eu recomendo a leitura, fortemente. e abaixo, tem algumas frases que eu gostei muito do livro que vou deixar aqui:
- "um poeta é como quem sai do banho e passa a mão pelo espelho embaciado para descobrir o seu próprio rosto."
- "já que os estudos afirmam que os poetas vivem com pouca relação com a realidade e com quem os rodeia"
- "como é que o mar, tão grande, cabe numa janela tão pequena?"
- "estamos em crise, ó poeta. e ele levantou-se porque entrou uma mosca . foi atrás dela com o bloco e a caneta. [...] começou a torcer o esparguete até fazer a palavra ?bife?: prefere carne?"
- "aos poucos fui começando a perceber o que o poeta dizia e já não era uma algaraviada, ouvia efetivamente palavras. mas ainda passava muito tempo a tentar perceber aquelas mentiras. metáforas. metáforas? sim, confirmou o poeta.
- "sem metáforas, por exemplo, não é muito interessante falar. eu posso dizer que uma janela é uma janela, mas isso já toda a gente sabe. com a poesia posso dizer que uma janela é um bocado de mar ou uma cotovia a voar. mentiras. Por vezes são as únicas verdades. tem de concordar, ó vate, são mentiras."
- "vocês não percebem que eu estou a acumular cultura? para quê? para montes de coisas. montes? isso é uma quantidade? gasta um bocadinho connosco para demonstrar o valor da transação. irritei-me e respondi, muito agressiva: a cultura não se gasta. quanto mais se usa, mais se tem."
e é isso, não abandonem seus poetas em um parque, e boa leitura ?