dionisocastro 27/07/2022
O maior golpe dado por duas pessoas
Até agora com o Neil Gaiman não teve erro para mim. O cara sabe escrever de uma forma que eu não tenho nem palavras para definir. O nome do autor me fez correr atrás da série na época do lançamento dela. Foi meu primeiro contato com o Gaiman e com a história de Shadow e foi muito divertido assistir àquela loucura. Anos depois, comprei o livro na chamada edição preferida do autor e me aventurei na história original. Qual não foi minha surpresa ao encontrar uma história ainda mais inteligente que a da série.
Para começar, Deuses Americanos é um livro de estrada. É a viagem que Neil Gaiman fez e que Shadow repetiu. A magia está nos pontos que ele passa, um carrossel ou uma pequena cidade às vezes são muito mais do que aparentam ser.
Shadow, o protagonista, é um observador até o final do livro, quando resolve agir. E o papel de observador para mim coube perfeitamente para ele. É pelos seus olhos que podemos observar esse universo. Seus olhos que conseguem ao mesmo tempo ser céticos e não duvidar de nada que aparece a sua frente.
A visão de divindade para Gaiman também é uma das melhores que eu já vi. A mesquinharia dos deuses, suas demandas e vontades. Se você acredita, eles estão lá. São moldados pelas crenças humanas e moldam as crenças humanas. Os deuses americanos já estão em meio a nós.
Alguns dos melhores capítulos do livro estão a partir da segunda metade. O estabelecimento de Shadow na cidade, quando podemos nos apaixonar por ele. A jornada de Laura e sua conclusão. A paz encontrada por Shadow e a forma como ele a perdeu. Os finais e epílogos que vão se completando. A virada de enredo. Outros capítulos incríveis são os individuais, que mostram como diversos deuses de diferentes nacionalidades chegaram aos Estados Unidos. Assim como Gaiman, a maior parte dos personagens são estrangeiros tentando viver na falsa terra das oportunidades.
Outro ponto muito positivo são as personagens. Tanto os humanos, que são todos muito bem desenvolvidos, quanto os deuses, humanos como os humanos, mas piores. Um destaque enorme para a Sam, um dos pontos altos da história. Talvez os que eu menos gostei tenham sido os deuses novos, mas eles também estão ali por um motivo. E com certeza, o autor como bom amante das antiguidades também não deu boa imagem para eles. Salvo o Mr. World, melhor personagem não seria possível.
Resumindo, ler Deuses Americanos foi uma experiência incrível. Uma inspiração em muitos sentidos. Tem reflexões incríveis, escritas de forma espetacular. Uma veracidade crua em um mundo mágico. Até a perfeita trilha sonora para a aventura nós recebemos. Elementos que até agora só encontrei em Gaiman.
Aproveitem para fazer essa viagem pelas estradas mais afastadas dos Estados Unidos, nas cidades que acontecem atrás das cidades, junto com Shadow e um grupo de divindades grandes e pequenas até descobrirem o maior golpe dado por duas pessoas.
"Iko Iko - The Dixie Cups"