Jose 13/03/2023
A Gigantesca Barba do Mal foi escrito e desenhado por Stephen Collins e publicado aqui no Brasil pela Editora Nemo.
Numa ilha chamada “Aqui”, tudo é meticulosamente arrumado; as formas são simétricas, não há barbas por fazer, roupas amarrotadas, vegetação não-podada ou qualquer resquício de desarrumação. Cada rua, casa, postes, árvores, são perfeitamente organizados. Após o mar que cerca a ilha, há um lugar temido chamado de “Lá”. “Lá” é desordem, caos e mau. É tão sinistro que as casas pela costa do mar são baratíssimas, e não há janelas voltadas para o mar. No gibi, acompanhamos Dave, um dos moradores das casas costeiras, que um dia, do nada, começa a sofrer de um crescimento excessivo de uma barba que não para de crescer, mesmo que cortada, aparada ou arrancada.
A premissa bizarra prendeu a minha atenção e manteve o interesse alto do início ao fim. A história explora a teoria do caos e a entropia aplicadas em um lugar em que o caos e desordem supostamente não existem. A existência do fenômeno da “barba” atrai a atenção de todos os moradores e transforma profundamente cada um deles, e a maneira com que o autor conecta os eventos faz tudo parecer muito real, divertido e com significados múltiplos, que mexem com o próprio cerne do que é “Aqui” e “Lá”.
O desenho é um tanto simples, mas mostra com precisão a ideia de um lugar certinho e ordenado. Quando o autor quer mostrar “desordem”, ele transforma o desenho, que interage com o traço “simétrico” e dá uma noção de disparidade, mas também semelhança entre os dois conceitos.
Com certeza “A Gigantesca Barba do Mal” é uma das melhores leituras de ficção que já tive, talvez por também ter um tico de realidade e verossimilhança com o nosso mundo. Recomendo muito que leiam, e mais de uma vez inclusive, para assimilar melhor a história e entender o que o autor quis passar para os leitores.