spoiler visualizarSweetlyaah 26/03/2018
Divertido, supreendente e emocionante!
Comecei a ler Depois Daquela Montanha, e para ser sincera, Charles Martin me surpreendeu com uma narrativa simples, dinâmica e divertida. Como nunca havia lido nada desse autor, então foi uma surpresa muito agradável saber que provavelmente vou ler outros livros dele.
Que me passou aquela sensação dos romances do Nicholas Sparks, só que muito mais bem-humorados, com toda a certeza.
O livro é todo narrado da visão de Ben Payne, e intercalado com as gravações de voz que ele faz para sua esposa Rachel.
O que eu achei mais engraçado, é que do início até o final do livro, as únicas descrições sobre as características do Ben são que ele é um grande médico cirurgião, tem 1,88 de altura, 37 anos e ao longo dos capítulos a única coisa que eu sei é que sua barba cresce e que pela falta de suprimentos e por causa da agressiva temperatura, tanto ele quanto a Ashley ficam extremamente magros e desnutridos. Além disso, não há nenhuma descrição detalhada sobre seu rosto, nenhuma característica que o fizesse se tornar um personagem claro na minha visão, a ponto de eu ficar pensando “Ah, ok. Vou imaginar quem eu quiser, então! ”. Realmente, não é algo que atrapalhe a leitura, de fato não é. Se torna apenas frustrante, ainda mais, quando você gosta do personagem, e você não tem um ponto de referência mais detalhado. Porque eu ficava entre imaginar um homem alto, inteligente, habilidoso, extremamente desnutrido, com uma barba crescendo gradualmente num rosto desfocado; e um Idris Elba desnutrido.
Já a Ashley Knox é completamente descrita, desde as pernas longas e musculosas, aos cabelos curtos e escuros, com 1,75 de altura, e 34 anos. Ashley é uma colunista de uma revista feminina, e está a dois dias do casamento com Vince, seu noivo.
O que mais achei curioso foi o fato, de que os dois personagens, não são pessoas comuns, ou completamente leigas em quesito de sobrevivência ou preparo físico, Ashley luta Tae Known Do desde pequena por causa do incentivo do pai, o que acarretou muitas medalhas e campeonatos por todo o país, mantendo um bom porte-físico. E o Ben, é o que mais tem experiência com a relação à natureza, ele é um corredor desde o ensino médio, tem o hobbie de escalar montanhas, e ao longo da história Ben revela que também já foi um escoteiro, com medalhas de campo e tudo.
Tanto que, apesar deles estarem numa situação extremamente ruim para qualquer um, fica aquela questão de que, eles não estavam completamente às cegas ou totalmente despreparados nas Altas Uintas. Ben, estava vindo de uma mesa de medicina e com uma mochila completamente equipada da escalada que ele havia feito em Salt Lake City, sem contar o conhecimento enorme, a agarra e a determinação que ele demonstrou em todo o livro, ao se orientar com a bússola, mapear o local pelo GPS, construir abrigos, caçar, montar raquetes para ele andar no gelo, o arco e flecha, o arco de pua, sem falar da maca em que ele construiu duas vezes e arrastou a Ashley e o Napoleão por todo o percurso.
Sinceramente, Ben Payne foi incrível, forte, centrado, leal, racional e extremamente inteligente, com todas as suas engenhocas e improvisos, numa situação tão cruel, quanto eles estavam, que eu apenas ficava abismada com o quão forte era seu espirito, até nos seus piores momentos, tanto o Ben quanto a Ashley mostraram o quanto o nosso físico, mental e emocional pode ir até aonde acreditamos ser o limite e ainda assim, ultrapassar qualquer coisa que achamos já ser impossível.
E a Ashley foi tão autentica, me arrancando risadas e me comovendo quando a realidade parecia que iria engolir os dois. Senti muita vontade de saber o que se passava na cabeça de Ashley, por que tanto ela quanto o Ben, sabiam que ela era o elo fraco, por estar machucada de mais, e o peso, que o Ben teria que carregar por 120 quilômetros. E ainda assim, mesmo quando ela insistia que ele a deixasse para trás, e o Ben dizia que eles estavam naquilo juntos, era de ficar com o coração apertado, por que mesmo dando um passo de cada vez, eles não sabiam que riscos aquele próximo passo traria.
Ashley uma vez disse ao Ben, o quanto ele era caladão. E uma coisa é certa, é que eu tenho que concordar completamente com ela, mesmo lendo tudo na perspectiva de Ben, e ter tido páginas e páginas sobre conhecimentos detalhados de sobrevivência na natureza, e as gravações dele contando a esposa tudo o que acontecia com eles naquele lugar e como ele sentia falta dos momentos com ela. Que me deixou tão chocada quanto a Ashley ao descobrir, que o Ben é tão caladão que nem o próprio leitor sabia da existência dos dois filhos dele, até quase o final do livro.
Sobre o relacionamento, entre o Ben, a Ashley e a Rachel, por um lado eu realmente amava as memórias de Ben com a Rachel, ela era linda, forte, espirituosa e ensinou o que era o amor ao Ben, que cresceu com um pai completamente abusivo.
Mas por outro lado, o Ben falava tanto da esposa com a Ashley que eu comecei a até pensar que a mulher continuava viva. Eu ficava tentando entender como haveria de existir um romance entre a Ashley e ele, sendo que ele continuava a trazer a esposa a baia diversas vezes, a ponto de eu chegar a pensar que não haveria nenhum romance entre os dois.
Por parte da Ashley não havia amor e nenhum comprometimento além da conveniência com o seu noivo Vince, sem contar que ela continuamente dava em cima de Ben, e ele sempre a rechaçava ao falar sobre o quanto amava sua esposa e ela era o céu e a terra para ele. Eu entendi que ele havia sido um cavalheiro com o relacionamento entre ela e o noivo. Mas então, tinha momentos em que ele dizia o quanto a Ashley mesmo ali era muito bonita, o quanto ele gostava de ouvi-la falar e cheirar o seu cabelo. E por um lado compreendi, que ele estava se segurando, mas era confuso o jeito como ele agia, ele não dava espaço nenhum para Ashley entrar em sua vida, além das confissões de conta gotas que ela tirava dele e as gravações que ela ouvia ele fazendo escondida.
Fiquei completamente confusa, quando deveria começar a crer que dali realmente surgiria um romance? Já que a recusa pela Ashley e a adoração pela esposa eram tão grandes, que eu fiquei pensando se aquilo não era só uma codependência um do outro já que a Ashley não sobreviveria sem ele por causa da perna, e ele perderia a sanidade se tivesse de enfrentar aquilo sem a Ashley para cuidar, e conversar com ele, mantendo sua parte humana sã.
Por isso, até o final fiquei receosa que eles não fossem acabar juntos apesar de tudo o que eles passaram ali, toda a confiança, a fé, a doação, a determinação, apenas para acabar como completos estranhos? Partiria meu coração, criar um elo tão forte e depois descarta-lo como se não fosse nada.
Por isso, agora e pensando melhor, talvez a minha estranheza ou a minha confusão em relação ao amor dos dois, esteja por estar acostumada há um romance talvez mais clichê, mais entregue, mais aberto emocionalmente e de sentimentos mais simples, que talvez eu não tenha considerado a perspectiva do romance por parte de como o autor queria expressar aquele amor, repassando todas as atitudes e momentos entre o Ben e a Ashley, o amor talvez também esteja em esperar, em curar feridas que não consigamos dizer abertamente. Mesmo que Ben seja o personagem que mesmo narrando sua própria história, ainda assim não se abre completamente para o leitor, de forma mais emocional, eu gostei dele. Não posso dizer que não, já que o conhecimento e as atitudes que ele tinha, apesar de não falar muito sobre si, além das suas gravações secretas, diziam ao menos a pessoa que ele era.
Ao meu ver, Rachel curou as feridas que os pais de Ben deixaram nele, então quando a Ashley e o Ben se conheceram, havia feridas ainda mais profundas a serem curadas, feridas que o Ben não estava disposto a abrir. Toda vez que o Ben se matava ao se arrastar com a Ashley na maca por quilômetros a fio, e não desistia, foi a minha percepção no final, de como o Ben se culpava por ter deixado a Rachel para trás e logo depois a perdido. Ao meu ver, foi como se carregar, se doando de tal forma a Ashley fosse para ele tanto um tipo de punição como uma compensação por ter falhado com a Rachel e seus gêmeos.
No final, acredito que tenha valido a pena, a leitura foi envolvente, divertida, cheia de suspense, superação, doação, sacrifício e amor. Eu ri muito quando eles começavam a falar de comida e como o hospital estava pertinho dali, e quando a Ashley era insistente com o Ben. Adorei o Tanque/Napoleão e fiquei sentida de ver que ele não ficou com eles. O Grover foi um personagem espirituoso e aventureiro em vida, mas me rendeu boas lágrimas, e risadas quando morto. Não entendi como o Ben pôde dizer que a Ashley era meio mórbida, se foi ele que usou o cadáver do Grover como isca para o puma! Sobre a história da Rachel e do Ben do início até o final me comoveu e aqueceu meu coração, terminei em lágrimas quando finalmente ele contou tudo pra Ashley, sobre os gêmeos. E fiquei contente em ver que ele e a Ashley estavam dispostos a começar uma vida nova juntos.