Tamirez | @resenhandosonhos 21/08/2018Juntando os PedaçosEsse é o meu primeiro contato com a escrita da Jennifer Niven, pois ainda não li seu primeiro lançamento, Por Lugares Incríveis. Vi muitas pessoas reclamando sobre alguns aspectos desse livro e confesso que isso acabou por me motivar ainda mais a ler.
Juntando os Pedaços é um livro que junta duas condições, mas que certamente tem como assunto principal a Gordofobia. Confesso que esse é um termo recente pra mim, já que faz apenas alguns anos que entrei em contato com ele pela primeira vez, mas foi o suficiente para que eu me pegasse repensando uma série de coisas.
O primeiro fato a ser ressaltado é o quanto é importante falar sobre esse assunto, principalmente porque muitas pessoas não compreendem o que isso significa ou simplesmente desmerecem o termo, como se fosse algo que não existisse. Mas existe, é bem sério e precisamos pensar juntos sobre isso. Conforme somos criados, uma série de pequenos conceitos são inseridos na nossa cabeça, como que ser magro é melhor que ser gordo, ditadura da beleza, machismo, que os negros são pessoas inferiores e uma série de outras tantas coisas. Porém, é conforme vamos nos confrontando com a verdade e o significado de tudo isso que devemos evoluir nosso pensamento, e encontrar um ponto onde perdamos todos os “pré-conceitos” estabelecidos por outros ou pela sociedade, e possamos pensar a partir da nossa própria cabeça.
Não é algo fácil, e sabemos que a luta de cada uma das muitas pessoas que se encaixam nesses diversos grupos é constante e difícil. Porém, o primeiro passo é sempre trazer a luz para os fatos e esclarecer. Todos nós já tivemos um pensamento gordofóbico em algum momento da vida, mesmo que de forma ingênua, sem saber o que estava pensando. Coisas como “o que aquele garoto bonito vê naquela gorda”, “sentou no meu lado e vai me esmagar” ou “podia arredar pra um lado pois toma conta de todo o corredor”, são pensamentos que cruzam nossa mente com tanta naturalidade que nem parece errado eles estarem ali. Mas é, e precisamos aos poucos nos condicionar a mudar nossa visão sobre as coisas, pra que isso se desfaça.
Não vou discorrer muito sobre isso, pois é sempre muito complicado falar sobre uma situação que não vivemos. O que eu queria mesmo era esclarecer que até aquilo que pra você soa como “normal”, pode ser ofensivo ou danoso para quem está recebendo do outro lado e que sim, é preciso ter cuidado.
“‘- É um absurdo que alguém se permita ficar tão gordo e é um absurdo que seu pai não faça nada a respeito. Espero que você sobreviva a isso e se entenda com Deus. Existem pessoas passando fome no mundo e é vergonhoso comer tanto enquanto outros não tem o suficiente para sobreviver.’
Então eu me pergunto: o que o ensino médio pode fazer comigo que já não tenha sido feito?”
Tendo dito tudo isso, quero apontar que a Libby é a estrela do livro. Ela está decidida, tem muita personalidade e, por mais que tenha dúvidas em sua mente, resolveu que está na hora de enfrentar o mundo novamente. Ela fraqueja, sofre, mas levanta a cabeça e vai a frente. E, pra mim, somente sua história teria sido o suficiente para sustentar todo o livro, principalmente porque não consegui acreditar completamente no personagem de Jack. E, aqui começam os detalhes que pra mim prejudicam a trama.
É difícil entrar na minha cabeça que ele tenha conseguido esconder de toda a família e amigos que ele não os reconhece. Como que ninguém percebe que nas festas de família ele não reconhece ninguém? Ou que ele passe batido por seus amigos todos os dias a não ser que seja chamado? Ou tantas outras situações que poderiam ser citadas aqui, e portanto eu vejo nisso um furo que não consegui ignorar. Acho que teria ficado mais plausível se pelo menos a família tivesse conhecimento (porque são relapsos hein!).
“Apenas as pessoas pequenas – pequenas por dentro – não aguentam o fato de alguém ser grande.”
Aqui, um ponto super relevante é que o personagem é apresentado como alguém gordofóbico, mas da forma como mencionei lá em cima, sem associar exatamente o que ele está fazendo ou pensa como algo errado. Isso, conectado ao fato de que ele precisa se apegar em algumas características físicas das pessoas para poder tentar reconhece-las, gera vários comentários ambíguos durante o livro, como por exemplo quando ele diz que quando ela emagrecer mais ele não a identificará, já que seu tamanho é o que gera o reconhecimento na cabeça de Jack. Porém, ao longo da história e, principalmente ao seu final, consegui encontrar um Jack um pouco mais maduro e ciente dos atos que está cometendo, encontrando um pouco mais de verdade na situação.
Mesmo eu não tendo concordado com o romance que surgiu na história, e seja da opinião que seria melhor se fosse só amizade, eu acabei por curtir bastante a leitura. Juntando os Pedaços não é um livro livre de problemas, mas chega aos leitores com uma mensagem muito importante e que deve ser levada em consideração. A gordofobia está presente no dia-a-dia de todas as pessoas que estão acima do peso e é preciso compreender que os comentários, as piadas e os olhares machucam de verdade, e que julgar uma pessoa por seu peso não é algo que se possa ou deva fazer.
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