Paulo Silas 10/07/2017Um livro despretensioso e divertido. O amor é o ente abstrato que figura como o verdadeiro protagonista - em que pese esteja personificado no rapaz personagem que narra a história. Todas as fases daquilo que se convencionou chamar de amor - o mais lembrado, o da paixão, o dos casais - são transmitidas ao leitor através de uma fusão de narrativas realizada pelo autor. Essa junção se dá pelo fato de o autor intercalar uma narrativa literária típica de um conto, novela ou romance, com ensaios filosóficos que divagam sobre vários pontos que vão sendo expostos no decorrer da obra.
A pequena obra conta a história de um homem que se apaixona após um fortuito encontro num aeroporto. A paixão desperta após uma prazerosa conversa que tem início durante o voo. Após a despedida, fica aquela sensação de que destinos foram cruzados. "Quais as chances?" passa a ser uma pergunta refletida pelo recém apaixonado, buscando superar qualquer limitação racional para se compreender o amor como um fenômeno que é explicado por outros vieses.
E assim é dado início à história que servirá como base para as reflexões filosóficas realizadas pelo autor.
Até certo ponto da leitura julguei que a coisa pouco fluiria. É que pelo menos até a primeira quarta parte do livro, as reflexões presentes são aquelas típicas do apaixonado. Não se vai muito além disso, de modo que erroneamente pensei que o livro todo não avançaria muito além. Mas a partir de um certo momento, o livro mostra para o que veio. Os pensamentos, as divagações, enfim, as reflexões tomam mais corpo, se aprofundam, de modo que o diálogo do autor para com o leitor passa a ser mais convincente.
Não se trata de uma tentativa de racionalização da temática. Pudera, dada a impossibilidade de se racionalizar o amor. Entretanto, ao tratar o amor enquanto um fenômeno, o autor logra êxito em incutir a filosofia no trato do tema. É pelo olhos da filosofia que as análises são feitas, sem deixar de lado a perspectiva literária com a qual a história do apaixonado é contada.
O que determina a paixão? Os sentimentos que evocam o amor (ou aquilo que se tenta entender por "ele") possuem uma base única - do tipo universal? O relativo do "gostar/amar" se encaixa em tudo que decorre da atração (beleza, caráter, modo de se portar e agir...)? Há uma resposta para tudo isso?
É isso e muito mais o que Alain de Botton busca não necessariamente responder nessa pequena obra, mas apresentar perspectivas filosóficas possíveis para compreende-las minimamente , acalentando assim um pouco daquele sentimento desolador que advém da impossibilidade de se entender o incompreensível.
Vale a leitura!