bobbie 26/02/2020
Quase lá.
A premissa do livro é interessante: uma cidade interiorana fictícia na Bahia subitamente se vê assolada por um mistério que faz com que os habitantes desapareçam. A polícia recebe um chamado de emergência, mas os oficiais também desaparecem. Entra em cena uma corporação de operações especiais, algo literalmente saído dos livros norte-americanos: eles são enviados à pequena cidade para ver o que de fato está acontecendo. Ao chegar lá, a equipe se vê confrontada com seus piores pesadelos, tendo que enfrentar criaturas sobre-humanas e lidar com o mistério de como surgiram e quem está por trás disso, além de resgatar uns aos outros. A trama leva uma pitada de The Walking Dead com história de alienígena e Gundin, o autor, além de um escritor talentoso, ilustra o próprio livro com belas gravuras desenhadas por ele próprio. Contudo, o talento do autor acaba ofuscado por uma série de problemas narrativos. Primeiro, o autor tenta emprestar à narrativa uma linguagem extremamente rebuscada, o que, por si só, não seria problema, se ele não empregasse uma série de vocábulos equivocadamente. Segundo, há também uma série problemas gramaticais (conjunções usadas erroneamente, ortografia errada, verbo conjugado de maneira incorreta etc.), que tiram o brilho da história. Em termos de ritmo narrativo, o autor tenta dar profundidade à história apresentando toda uma série de artifícios para desenterrar o passado, em busca da origem da catástrofe que acomete a pequena cidade: os dois agentes principais do grupamento especial, presos em uma mansão digna de Edgar Allan Poe, e acuados por criaturas de constituição física fantástica sedentas por sangue, encontram forças para passar "horas" lendo recortes de jornais, diários e biografias em busca das respostas para o terror que está prestes a tirar suas vidas. Além de render algumas passagens extremamente longas e tediosas, o artifício em si contribui para a falta de verossimilhança da trama: quem, vendo sua vida ameaçada por criaturas que jamais foram vistas na face da Terra, pararia para ler livros, jornais e diários? Por fim, a admiração do autor pelo autor norte-americano H. P. Lovecraft, conceituado escritor de terror, acaba levando com que Gundin americanize demais sua história. A história também deixa uma série de pontas soltas e detalhes jogados ao vento, que não são explicados ou resgatados no clímax. Concluindo, Enquanto eles não vêm é uma história boa, porém mal executada. O talento de Robson Gundim, tanto para a escrita como para o desenho, é inegável. Mas neste livro ele deixou bastante a desejar.