LT 16/02/2018
O início do livro me lembrou um pouco o filme Mulan, por ter uma casamenteira e a protagonista ser uma heroína em um romance – obviamente que de longe, mas fez-me recordar.
Sage Fowler cresceu com o pai no meio da floresta. Ela perdeu a mãe muito cedo e logo depois o pai, e foi assim que acabou por ser criada por seus tios. Mas ela não é um exemplo de dama, e por mais que sua vida seja boa, Sage quer partir e seu tio – digamos assim – quer se livrar dela – afinal, a partir de uma determinada idade, de algum modo, ela tem de seguir um caminho.
A partir do momento que Sage descobre que será levada a casamenteira e que terá de se portar como uma dama, tudo que ela mais odiava, para que tenha boas chances de encontrar um marido, Sage perde o controle. Contudo, por sua tia, ela tenta com todas as suas forças, mas vocês sabem como é, controlar nossos gênios não é uma tarefa fácil para ninguém...
“Moral da história: ele esperava que Sage ficasse grata. Grata por se casa com um homem que mal conhecia. Grata por seus pais, que haviam se casado por escolha própria, não estarem vivos para se opor.”
Para a infelicidade de seu tio, ela não passa nos critérios da casamenteira. Mas isso não seria ruim, já que Darnessa Rodelle tinha outros planos para Sage, e é dessa forma que a nossa mocinha torna-se aprendiz da Sra. Rodelle – a casamenteira – e parte em uma missão para escoltar outras damas para um evento e auxiliar a casamenteira na escolha de pares matrimoniais que se encaixem da melhor forma possível. O objetivo é sempre de encontrar e formar os melhores enlaces.
O que Sage não esperava era se envolver com a escolta militar como espiã, pela sua habilidade de observação. Menos ainda esperava se envolver em um romance, no qual ela jamais deveria mergulhar, e algo do que ela nunca desejou.
“Ela notou seus olhos atraídos pela boca dele, pelos três fios curtos de bigode que ele devia ter esquecido de barbear pela manhã. Umedeceu os lábios com a língua, esperando … alguma coisa.”
Inicialmente a leitura é um pouco arrastada, mas isso se deve pela necessidade da construção da personagem de Sage. Confesso que a morosidade inicial afetou um pouco a leitura – para minha pessoa – mas que não é nada que estrague o enredo, só deixa as coisas um pouco lentas.
Sage é uma mocinha a frente do seu tempo, ainda que esteja presa aos costumes de sua época por conta da sociedade, e por ser vista de um modo diferente, afinal, seus pais não se casaram por conveniência como a maioria faz, eles casaram-se por amor, e ainda que tenham sido felizes com suas escolhas, foram renegados pela sociedade. As chances de Sage são maiores no momento, caso optasse por um casamento, devido ao fato de ter sido criada – após a morte dos pais – pelos tios que são "perfeitos exemplares" do que a sociedade espera – ainda que por trás das cortinas os segredos existentes em todas as famílias sejam daquele tipo que a gente já espera nos romances de época.
“A sabedoria não vem só dos livros. Na verdade, quase não vem deles.”
Tendo tornado-se a assistente da casamenteira, no intuito da Sra. Rodelle de que Sage possa dar continuidade ao seu legado, ela precisava e tinha a obrigação de ser forte e superior, para que as outras damas, aquelas que estavam verdadeiramente em buscas dos enlaces desejados pela sociedade pudessem ser frívolas e escolhidas pelos maridos certos, os quais a Sra. Rodelle já tinha em mente, afinal, ela e a Sage realizavam muito bem – digamos assim – seus estudos de campo para que tal tarefa possa ser realizada adequadamente.
Preciso dizer que Ash Carter roubou meu coração em poucas linhas. Misterioso e com um segredo, ele nos faz querer defendê-lo de todas as formas, é um personagem muito cativante. Sage foi me conquistando aos poucos, mas ela também conseguiu seu lugar, bem como alguns outros personagens.
No entanto, não se enganem, O beijo traiçoeiro não é apenas um romance, ele vai muito além, abordando um embate e tanto, onde tudo pode acontecer, e é através de Sage e a escolha que fez para sua vida que vamos acompanhar o desenrolar dessa “guerra” entre duas nações.
“A mulher continuou falando sem parar: ela deveria ser submissa; deveria ser obediente; deveria ser graciosa; deveria sempre concordar com o marido. Deveria ser o que ele quisesse.”
O Beijo Traiçoeiro foi – para mim – uma leitura rápida, inicialmente, como mencionei um pouco morosa, mas a partir de determinado ponto a leitura passa a ter uma fluidez incrível. A autora construiu uma trama deliciosa, ela nos engana e é preciso prestar atenção aos mínimos detalhes para não se deixar levar, porque se você permitir irá se confundir, e creio que essa é a intenção da autora.
O livro é bem ambientado, mas sem exageros. Apesar de ser de época ele tem pontos totalmente fictícios – para época –, o que foi uma mistura deliciosa e uma boa pedida por parte da autora. A escrita de Erin Beaty é cativante e me prendeu a cada virar de páginas até que chegasse ao derradeiro fim – que diga-se de passagem, faz jus ao enredo sem grandes alardes e deixando o “gancho” perfeito para a sua sequencia.
“Quanto mais Sage aprendia sobre as casamenteiras e o poder que detinham, mais convencida ficava de que administravam o país por baixo dos panos.”
Confesso que estou ansiosa para ler a continuação, e desejando que seja lançado o quanto antes. Aproveitando, preciso dizer que a edição, ainda que simples, está maravilhosa, impecável. Folhas amareladas, que tanto amos, se fazem presentes. A fonte tem um tamanho super confortável para leitura. A obra conta com uma revisão excelente, não notei erros, se tem, passaram despercebidos. A editora realmente caprichou.
É um livro para quem busca um romance de época com um toque de algo a mais, muito além de apenas um romance. Uma história com uma mocinha forte, que foge a realidade da época, que nos conquista e mostra para que veio. Recomendo para quem curte o gênero e para quem quer começar a aventurar-se por ele. Vale muito a leitura!
Resenhista: Analuiza Amorim.
site: http://livrosetalgroup.blogspot.com.br/