GuiBatelochio 23/02/2023
A confissão de Tolstói
Tolstói tem um tom muito honesto neste livro. Ele expressa o vazio que sentia mesmo quando já era um autor consagrado e possuía uma vida confortável, considerando recorrentemente o suicídio. A cada capítulo o autor reflete sobre a vida, sem ter um tom abstrato ou enfadonho, mas sim lógico e reflexivo.
Tolstói propõe que o caminho lógico para uma vida de sofrimento seria a morte, que é o destino de todos. Quanto mais conhecimento se adquire, mais fica evidente o quão sofrida é a vida. Aos poucos, percebe que a abordagem puramente racional não é capaz de responder suas questões e sugere uma abordagem não racional, como a da fé.
De maneira muito honesta, o autor diz que a fé professada nas igrejas russas da época, em grande parte, não eram fés verdadeiras. Elas causavam mais segregação do que união e pareciam mais preocupadas com questões humanas do que com Deus. Ali ele não se encaixava. Muitas de suas críticas o levaram a ser excomungado. Tolstói então, buscou as repostas a partir de uma abordagem não religiosa, mais centrada em Deus, a qual considerava a fé verdadeira.
Tolstói também percebeu que as pessoas nas camadas mais baixas da sociedade eram mais felizes e sinceras, mesmo com mais motivos para não o serem. Ele conclui que a vida de "parasita" que estava tendo era grande responsável pelo vazio, e desejava a vida de um verdadeiro trabalhador.
Uma Confissão é um livro com grande poder de fazer refletir. É impressionante como alguém que viveu a quase 2 séculos atrás tem muitas questões semelhantes às nossas. Boa parte de seu sentimento em relação a fé me pareceu familiar, e algumas de suas conclusões me fazem refletir sobre o caminho da fé (a verdadeira e não a religiosa). Apenas ficou um sentimento de final aberto, um gancho para outro de seus livros.
Foi uma leitura excelente e necessária. Certamente a recomendo.