denis.caldas 17/05/2023Árvores humanizadasÉ um tipo de abordagem que, muitas vezes, pode ser utilizada para comover em prol da conservação da natureza, e não culpo o meu colega, mas acredito que comover é diferente do que convencer e mover para praticar. Também louvo iniciativas de romantização da ciência para torná-la acessível, além da própria coragem do autor de abrir o coração. Enfim, às vezes penso que a ideia era a divulgação científica romanceada para atingir todos os públicos, mas tem vezes que o autor divaga em uma linha tênue de humanização das árvores, atribuindo sentidos nervosos e sentimentos que trafegam entre os animais e as pessoas; mas fiquemos com algumas boas observações:
"Quando queimamos a lenha no forno, estamos incinerando o cadáver de uma faia ou um carvalho. O papel usado na impressão deste livro é composto de pinheiros raspados e derrubados (ou seja, mortos) com essa finalidade. Parece exagero? Não acho, pois, levando-se em conta tudo o que aprendemos nos capítulos anteriores, podemos fazer paralelos perfeitos entre árvores e porcos, por exemplo. Não há como negar que abatemos seres vivos em nosso benefício." (36. Mais do que uma commodity)
"As árvores não podem se andar, mas precisam se deslocar. E como fazem isso? A solução está na transição entre as gerações. Toda árvore passa a vida fixada onde a semente criou raízes. No entanto ela se reproduz, e no curto período em que os embriões estão nas sementes eles são livres. Assim que a semente cai da árvore, sua viagem começa." (29. Para o norte!)"
"O desfolhamento no outono e o nascimento dos brotos na primavera são processos naturais das florestas, mas ao mesmo tempo verdadeiros milagres, pois para realizá-los as árvores precisam de algo imprescindível: noção de tempo. Como elas sabem que o inverno chegou ou que um aumento de temperatura não é uma curta estiagem numa estação fria, mas o prenúncio da primavera?" (23. Noção de tempo)
"O ecossistema da floresta tem um equilíbrio perfeito, no qual cada ser tem seu nicho e sua função, que contribui para o bem-estar de todos. Com frequência a natureza é descrita dessa forma (ou pelo menos de maneira parecida), mas infelizmente essa descrição está errada, pois na floresta predomina a lei do mais forte. Cada espécie deseja a própria sobrevivência e, para isso, toma das outras tudo de que precisa. Basicamente, todos são impiedosos, e as florestas só não entram em colapso porque contam com mecanismos de proteção contra excessos, sendo o maior deles a própria genética: quem é ganancioso demais e pega tudo sem dar nada em troca acaba roubando de si mesmo os elementos básicos da vida e morre. Por isso a maioria das espécies desenvolve um comportamento inato que protege a floresta dos excessos. Um bom exemplo é o gaio, que come frutos de carvalho e faia mas enterra uma grande quantidade de sementes, fazendo as árvores se reproduzirem melhor do que fariam sem ele." (19. Meu ou seu?)"
"Mas para que tudo isso? As árvores se importam com a beleza? Não sei, mas existe um bom motivo para buscarem a aparência ideal: Estabilidade. As grandes copas das árvores adultas ficam expostas a ventanias, tempestades e nevascas. A árvore precisa amortecer o impacto dessas forças e conduzí-las através do tronco até as raízes, que devem conter a maior parte da energia para impedir que a árvore tombe. (7. Etiqueta da floresta)
"A possibilidade de haver troca de informações entre plantas por meio de ondas sonoras certamente desperta muita curiosidade. Talvez esta seja a chave para podermos compreender as árvores, descobrir se estão bem e de que precisam. Infelizmente ainda não alcançamos esse ponto, pois a pesquisa na área está apenas começando. Mas, quando ouvir estalos no seu próximos passeio pela floresta, lembre-se de que talvez não seja apenas o vento. (2. A linguagem das árvores)"