Da poesia

Da poesia Hilda Hilst




Resenhas - Da Poesia


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Charlene.Ximenes 09/08/2018

De entregas
Filha do fazendeiro, jornalista e poeta Apolônio de Almeida Prado Hilst e de Bedecilda Vaz Cardoso, Hilda de Almeida Prado Hilst nasceu em Jáu, São Paulo, às 23h45 do dia 21 de abril de 1930, quinze minutos antes da data que se "comemora" o "descobrimento" do Brasil. Eu, brasileira apaixonada por poesia, demorei um pouco para conhecê-la. Foi no final de 2016, num dia à noite, ao baixar um ebook e começar a ler seus poemas, que tive meus sentimentos extravassados pelos seus versos profundos, indentifiquei-a como um verdadeiro furacão poético-narrativo. Eu havia sido alcançada.

Seus livros não foram bem recebidos nem vendidos como deveriam. Escreveu o livro "O caderno rosa de Lori Lamby" (1980) porque, isso ela chegou a dizer, ganharia dinheiro como uma escritora erótica. Hilda já disse que ser poeta no Brasil era uma merda. Fico a refletir na magnitude de seus poemas e no desejo da autora de ser lida, por autores atentos, razão pela qual dedicou-se a construir sua imagem pública e a lutar por seu espaço no meio literário.

Seu primeiro livro foi publicado em 1950 e seu segundo no ano seguinte. Além dos poemas, na década de 1970, a escritora ampliou sua produção para ficção e peças de teatro. O trabalho de Hilst é desafiador, existindo um desejo de conversar com o leitor, com os gêneros literários, com a literatura, com a vida, com a arte.

A autora morreu na madrugada do dia 04 de fevereiro de 2004, em Campinas (SP), depois de muito dialogar com a morte em seus versos. A sutil morte hilstiana não impede que exista o medo do eu poético ou que se estabeleça uma condição desafiadora. Ao tratar do amor, sua poesia destaca o que lhe falta, tal qual quando fala de Deus ou da morte.

Demorei uns meses para concluir esse livro, não por não amá-lo, não por não me indentificar com muitas das poesias, mas por me (re) conhecer nele, por transformar-me no momento adequado, por retornar a trechos, a questionamentos, a angústias. Olho para ele e agradeço pela profunda entrega de Hilda Hilst, por ter nos deixado tanto e ter me transformado como leitora, como humana.
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Ronaldo Thomé 19/05/2018

Uma Superfície de Poesia Ancorada Na Loucura
Hilda é uma das vozes mais originais da nossa literatura e, infelizmente, não recebeu em vida o valor que mereceu.
Esta edição vem preencher esse vazio e ajudar a reparar este terrível erro...
Bem, o que falar de sua obra? Hilda mistura os gêneros literários, prosa e poesia se alternam em seus textos.
A impressão pessoal, no entanto, vai além de tudo isto. É interessante como ela se aproxima do surrealismo, temática pouco abordada dentro dos nossos versos. Sua obra é cheia de imagens extremamente originais, cheias de detalhes, principalmente depois dos anos 80. Esse mosaico de ideias vai desde a poesia sacra de Jorge de Lima e Vinicius de Moraes aos escritos de Santa Teresa, passando pela pesquisa metafísica da existência e, claro, pela busca de Deus.

P. S.: os últimos livros de Hilda são fantásticos, principalmente o final, Cantares.

Recomendado para: quem gosta de viajar entre símbolos e se aventurar em algo novo, entre o misticismo, o mágico, o irônico e o romântico. Ah, Hilda e o amor...

Nota: 10,0 de 10,0.
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Na Literatura Selvagem 12/10/2017

Da poesia
A poesia de Hilda Hilst foi compilada num volume lançado recentemente pela Editora Companhia das Letras e com prazer me deleitei numa leitura densa e poética de uma das mais significativas escritoras que nossa literatura já teve...

Da Poesia reúne textos que datam desde a década de 1950 até sua obra escrita pouco tempo antes de sua morte, em 2004. Foi na poesia que Hilst começou sua carreira. Em seus versos ela retratava o amor, a amizade, sexo e morte mescladas à doses de solidão e existencialismo. Há um quê de espiritualidade e busca pelo divino pairando em sua obra. Publicada inicialmente por editoras menores, Hilda almejava ser lida, sua escrita febril e mítica não possuía irreverência.

leia mais em

site: http://torporniilista.blogspot.com.br/2017/08/da-poesia-de-hilst.html
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Mila F. @delivroemlivro_ 24/08/2017

Aos amantes de poesias...
Não tinha lido quase nada da Hilda Hilst antes de ler Da Poesia, somente alguns fragmentos e poesias que via vez ou outra espalhados pela internet, portanto, quando soube dessa publicação fiquei tão empolgada que não perdi a oportunidade de conhecer mais uma poetisa brasileira.

O que mais gostei dos poemas de Hilda Hilst foi a inteligencia com que ela expunha sentimentos ou contava pequenas histórias. Na verdade o que gosto ao ler poesia é que, diferentemente de uma prosa o leitor tem que sentir o que está escrito, pois só assim ele conseguirá entender um texto poético. Resultado: alguns dos poemas de Hilda me comoveram, me emocionaram, me renderam várias emoções, mas outros eu simplesmente não entendi, provavelmente porque não me identifiquei com os sentimentos ali expostos.

Isso é um ponto ruim? De modo algum, penso que, quando for reler a obra novamente, vou ter novas experiências e quem sabe poderei amar e entender estes poemas que não consegui sentir nesta minha primeira leitura?! Definitivamente, amo poesia e sempre que me deparo com livros e coleções assim fico arrependida por não me jogar mais nesse tipo de leitura.

Temas sobre amor, solidão e morte são bastante constantes na lavra poética de Hilda Hilst o que prova que, realmente todos estamos familiarizados com esses sentimentos e temos possibilidade de compreender sua obra. De fato, esses temas caem bem no texto poético pois são experiências coletivas - por mais individualizadas que sejam - o homem é alguém que no passado, no presente ou num futuro vive cercado por esses sentimentos, aspirações e medos.

Da Poesia é um livro único, singular e, definitivamente, perene. Poesia é sempre algo perene, pois independente da evolução tecnológica sempre teremos sentimentos comuns e singulares, poesia é a transcrição desses sentimentos de forma artística (a única forma possível para expressá-los) e que ganha tradução através de pouco seres inspirados: os poetas.

site: www.delivroemlivro.com.br
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Poesia na Alma 03/07/2017

A Mulher que queria ser lida
Hilda Hilst viveu um paradoxo entre críticos, leitores de forma geral e as grandes editoras. Se por um lado os críticos aclamavam seus textos e os prêmios literários se faziam presentes, por outro, a baixa vendagem de seus livros e a classificação de literatura difícil a tira do campo de interesse de grandes editoras.


saiba mais aqui - http://www.poesianaalma.com.br/2017/07/resenha-mulher-que-queria-ser-lida.html
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Adriana Scarpin 29/06/2017

Tendo lido e estudado a obra completa de Hilst, é com imenso prazer que a releio em uma edição única de sua poesia e fundamental para quem a considera uma das grandes vozes literárias do país, particularmente considero formada por ela, Guimarães Rosa e Machado de Assis o que chamo de santíssima trindade da literatura brasileira.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 24/05/2017

Hilda Hilst - Da poesia
Editora Companhia das Letras - 584 Páginas - Lançamento: 13/04/2017.

Um livro absolutamente imperdível. Tão pouco conhecida, a poesia de Hilda Hilst (1930-2004) finalmente começa a ganhar o merecido lugar de destaque na literatura brasileira. Todos os seus poemas lançados em 25 livros, desde "Presságio", de 1950, até "Cantares do sem Nome e de Partidas", de 1995, reunidos em um único volume, em uma bem cuidada edição que conta com desenhos da própria Hilda, posfácio de Victor Heringer, texto de Lygia Fagundes Telles, carta de Caio Fernando Abreu para a autora e uma entrevista que Hilda concedeu a Vilma Arêas e Berta Waldman, publicada originalmente no Jornal do Brasil em 1989. Finalmente uma seleção de versões e esboços de poemas inéditos, recolhidos na Casa do Sol e na Unicamp. Uma obra que se lê com prazer do início ao fim, mas que deve ser relida aos poucos, uma espécie de livro sagrado (e profano) para nos acompanhar por toda a vida.

Hilda Hilst não obteve o devido reconhecimento em vida e se tornou mais famosa pelo seu comportamento exótico do que por sua obra, como ocorre normalmente com os autores à frente do seu tempo. "Em 1963, abandonou a agitada vida social e se mudou para a fazenda da mãe em São José, próxima a Campinas. Lá, em um lote desse terreno, construiu sua chácara, Casa do Sol, onde passou a viver a partir de 1966, ano da morte de seu pai. Na companhia do escultor Dante Casarini — com quem foi casada entre 1968 e 1985 — e de muitos amigos que por lá passaram, ela, sempre rodeada por dezenas de cachorros, se dedicou exclusivamente à escrita. Além de poesia, na década de 1970 ampliou sua produção para ficção e peças de teatro."

Os seus primeiros livros foram publicados em pequenas editoras como a Anhambi de São Paulo e posteriormente pelo amigo Massao Ohno, e já se esgotaram, passando a ser relançados em 2001 pela Editora Globo, organizados pelo crítico literário Alcir Pécora, com a intenção de editar as obras completas. Luiz Schwarcz, presidente do Grupo Companhia das Letras, admite, nesta matéria, que a nova edição é uma reparação de um erro do passado. Hilda enviou os seus livros para ele no início dos anos 1990, mas foi rejeitada. "É a reparação de um erro cometido no passado", afirmou o editor. "Na ocasião, a linha editorial da Companhia das Letras em poesia era bem mais restrita. Fico feliz em reparar esse erro e é uma pena que não tenha acontecido com a Hilda ainda em vida."

Na verdade, a própria autora tinha consciência da importância de sua obra e, por isso mesmo, lamentava não poder ser mais lida, como afirmou no trecho abaixo, ao Suplemento Literário de Minas Gerais, em abril de 2001:

"Não é que eu queira uma aceitação do público. Mas quando a gente vai chegando à velhice como eu, com setenta anos, dá uma pena ninguém ler uma obra que eu acho maravilhosa. Fico besta de ver como as pessoas não entendem o que escrevi. Recuso-me a dar explicações. Falam coisas absurdas, que a minha obra não tem pontuação, não tem isso, não tem aquilo... Acho desagradável ter que falar sobre a minha obra, é muito difícil. Sei escrever." - Trecho da Apresentação (Pág. 13)

A poesia de Hilda Hilst é complexa sim, mas sempre transbordante de emoção, amor, vida e morte. Surpreendeu a crítica e o seu pequeno público da época ao tratar o sexo de maneira natural. Alguns de seus livros chegaram a ser chamados de pornográficos, talvez em uma estratégia de marketing, de certa forma suicida, para chamar a atenção para sua literatura transgressora em três publicações em prosa: "O caderno rosa de Lori Lamby," de 1990, "Contos d'escárnio/ Textos grotescos", de 1990, e "Cartas de um sedutor", de 1991. Independente desses livros que a aproximavam do obsceno, colocando-a na vanguarda do movimento feminista, ela tinha uma visão bem diferente do seu estilo quando afirmava: "O erótico, para mim, é quase uma santidade. A verdadeira revolução é a santidade".

Presságio (1950)
Pemas primeiros - Pág. 70

Tenho pena
das mulheres que riem com os braços
e choram de mentira para os homens.
E descobrem o seio antes do convite
e morrem no prazer... olhos fechados.

Tenho pena
do poeta feito para só ser pai... e ser poeta.
E daqueles que dormem sobre o papel
à espera do vocábulo
e dos que fazem filhos por acaso
e dos doidos e do cão que passa

e de mim... que espero a morte
na confusão e no medo.


Roteiro do Silêncio (1959)
Sonetos que Não São - Pág. 90

Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha

Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera
(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar... se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.


Ode Fragmentária (1961)
Testamento Lírico - Pág. 159

Se quiserem saber se pedi muito
Ou se nada pedi, nesta minha vida,
Saiba, senhor, que sempre me perdi

Na criança que fui, tão confundida.

À noite ouvia vozes e regressos.
A noite me falava sempre sempre
Do possível de fábulas. De fadas.

O mundo na varanda. Céu aberto.
Castanheiras doiradas. Meu espanto
Diante das muitas falas, das risadas.

Eu era uma criança delirante.

Nem soube defender-me das palavras.
Nem soube dizer das aflições, da mágoa
De não saber dizer coisas amantes.

O que vivia em mim, sempre calava.

E não sou mais que a infância. Nem pretendo
Ser outra, comedida. Ah, se soubésseis!
Ter escolhido um mundo, este em que vivo

Ter rituais e gestos e lembranças.
Viver secretamente. Em sigilo
Permanecer aquela, esquiva e dócil

Querer deixar um testamento lírico

E escutar (apesar) entre as paredes
Um ruído inquietante de sorrisos
Uma boca de plumas, murmurante.

Nem sempre há de falar-vos um poeta.
E ainda que minha voz não seja ouvida
Um dentre vós resguardará (por certo)

A criança que foi. Tão confundida.


Da Morte. Odes Mínimas (1980)
Poema XXIII - Pág. 330

Porque conheço dos humanos
Cara, crueza,
Te batizo Ventura
Rosto de ninguém
Morte-Ventura
Quando é que vem?

Porque viver na terra
É sangrar sem conhecer
Te batizo Prisma, Púrpura
Rosto de ninguém
Unguento
Duna
Quando é que vem?

Porque o corpo
É tão mais vivo quanto morto
Te batizo Riso
Rosto de ninguém
Sonido
Altura
Quando é que vem?
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