Isis Costa 05/05/2022Só os Animais SalvamEste livro contem 10 contos, cada um pelo ponto de vista de um animal diferente. O mais interessante deste livro é que todos os animais, todos esses contos estão inseridos em algum conflito de guerra, podendo ser A Primeira Guerra, A Segunda Guerra, Guerra Fria, Afeganistão, Iraque, Guerra do Golfo. Todos esses contos estão situados no meio de um conflito e todos esses animais, de alguma forma, vão acabar sendo influenciados pelo que está acontecendo no mundo ao seu redor. O livro é narrado por dez almas de animais que, logo de cara, já estão mortos e fazem reflexões sobre suas vidas. Todos morreram por causa da interferência humana, mesmo que não tenha sido proposital. Alguns dos animais sabem disso, já outros escapam dessa percepção e sua morte é apenas o último parágrafo de suas histórias.
Desde o primeiro conto entendi que as histórias não seriam meigas e não seriam voltadas para um público infantil. "O gato e eu", narrado pela alma de uma gata, conta a história de Kiki, uma gata doméstica que se vê morando nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial enquanto tenta voltar para casa, para sua dona. "A mocinha de Peter Vermelho" mostra a (ir)realidade de chipanzés educados para serem mais semelhantes aos humanos em pensamento, comportamento e estilo de vida. Esses exemplos mostram como o livro é, em si, uma crítica aos seres humanos sem se apegar a clichês e frases prontas.
Os contos seguem, além disso, uma linha cronológica, começando em 1892, com o conto Ossos, narrado por um camelo, e terminando em 2006, com o conto Psitacófila, narrado por um papagaio. Ou seja, temos contos que se passam na Primeira e Segunda Guerras, Pearl Harbor etc — e para esses eu aconselho a preparar o seu coração, porque são histórias muito fortes. Cada conto também vem marcando o local onde ele se passa e isso é bem útil para interpretá-lo.
Não é o tipo de livro que se lê mais de uma vez na vida e também não acho que seja um livro feito exclusivamente para os amantes de animais. Eu diria que é justamente o contrário. É um livro que pode ser melhor aproveitado por quem não gosta de animais — talvez, essas histórias os choquem um pouco e os façam mudar de ideia; seria até muito bom se isso acontecesse.
E por último, preciso elogiar a diagramação da Darkside e o cuidado com a estética do livro. A capa que já me fez querer adquirir o livro antes mesmo de conhecer seu conteúdo é a cereja do bolo. As ilustrações que apresentam cada capítulo são simples, mas dão um ar mágico aos contos, as frases de autores famosos quebram um pouco a narrativa e trazem mais reflexões a respeito do nosso relacionamento com os animais e o miolo do livro como um todo é muito lindo e gostoso de folhear.
Só os animais salvam é um daqueles livros que se ama ou se odeia. O ritmo das histórias pode incomodar alguns leitores, mas as reflexões propostas o tornam um tesouro em meio a tantos títulos no mercado editorial. É uma daquelas coletâneas de histórias universais e atemporais. Não é voltado para um nicho e deveria ser leitura obrigatória para todos aqueles que gostam de pensar fora da caixinha e abrir o coração para novas ideias e novos universos literários.