vitor f. avila 24/01/2020
Suficientemente bom, mas, nada espetacular como aparentava
Gostei muito do livro, do conceito extraído dedutivamente do livro X das "Confissões" do grande Agostinho, fazendo eco em outros teólogos escolhidos (repare bem nisso!) pelo próprio Jonas, no caso, Anselmo, Calvino e Dooyeweerd. Ao meu ver, o grande ponto alto é o capítulo sobre Teologia do Autoconhecimento.
Contudo, ao meu ver, o livro peca em algumas coisas:
1) muitas citações repetidas. Em mais de um capítulo, não uma, mas várias citações surgem em repetição, o que dá a impressão de que o livro é mais um compilado de palestras do que um argumento inteiro para a inteligência humilhada. Para se ter uma ideia, na parte sobre Carl F. Henry, não lembro de haver uma retomada dos conceitos trazidos de outros capítulos, como epistemologia monergista ou, até mesmo, sobre o próprio conceito da inteligência humilhada. Suponho que ele deve ter presumido que o autor identificaria que Carl F. Henry é um exemplo disso, o que me leva ao ponto 2.
2) Carl F. Henry é discípulo de Gordon H. Clark que, por sua vez, foi extremamente racionalista em sua teologia, incluindo (talvez, cum grano salis) o próprio Henry. Seria muito melhor, já pelo caráter suprarracional da inteligência humilhada, mencionar Francis A. Schaeffer ou John Stott. Até mesmo Abraham Kuyper nesse aspecto. Carl F. Henry, ao meu ver, foi escolhido mais por ser batista (como o autor é) do que pelo bojo de sua obra. De fato, foi um notável teólogo tanto quanto outros no século XX. Porém, enquanto demonstração de evangelismo, crítica ao fundamentalismo e à teologia liberal, Francis A. Schaeffer foi muito melhor e muito mais competente em seu ministério. As suas boas obras falam por si, incluindo o Ministério L'Abri e a Igreja Presbiteriana Internacional, além de seu corpus theologicus. A teologia dele foi construída e moldada juntamente com o evangelismo, o diálogo com todos, sem distinção, e reafirmando a integralidade da vida humana e da criação. Carl F. Henry é muito racionalista, algo criticado por Alister McGrath (como mencionado pelo autor) e com críticas muito pertinentes que acabam convencendo mais, dentro do argumento da obra de "Inteligência Humilhada", do que a teologia do Henry.
3) Não faz sentido falar em suprarracionalidade teológica, portanto, e abordar um teólogo de escola pressuposicionalista que é racionalista ao pé da letra. Se é para usar esse conceito com os teólogos mencionados, o exemplo foi muito infeliz.
4) A teologia do Autoconhecimento poderia ter sido bem mais expandida e trabalhada. Ficou como um breve ensaio; gostaria de mais capítulos a respeito e um diálogo com teólogos liberais mais proeminentes.
5) A pesquisa histórica é excelente. O autor soube recriar os passos da teologia na História, especialmente dos últimos séculos após a Reforma. Teria sido melhor fazer uma revisão histórica do termo e expandindo mais ainda nos teólogos e filósofos mencionados. No fim das contas, somente Agostinho é o mais citado. E C.S. Lewis que era, também, um racionalista. Mesmo Pannenberg, salvo engano, é mais citado que os autores que teriam mais a ver com a questão.
6) Afinal de contas, a teologia é suprarracional ou não? Essa questão ficou no ar. Porque, em certo momento, utiliza a argumentação de Alvin Plantinga sobre o aval, que é uma questão de lógica, logo, racional, tanto quanto o pressuposicionalismo de Van Til ou Frame, por exemplo (em um livro sobre "5 visões sobre apologética" - salvo engano - Frame concorda com Plantinga e Kelly James Clark - discípulo de Plantinga - sobre a racionalidade da Fé Cristã). Mas não menciona o argumento conjunto que há com Karl Barth, em livro que foi endossado por Plantinga, como um argumento unificado sobre a epistemologia cristã. E Barth, como é sabido, está longe de ser racionalista como Van Til foi. Então, por qual motivo a escolha de um enquanto filósofo e não do outro enquanto teólogo? Por que a preferência no órganon de Plantinga ao invés do de Dooyeweerd?
No fim das contas, é um livro muito bom de se ler, o autor escreve EXCELENTEMENTE BEM (o que deve ser muito elogiado), é uma obra muito boa para introduzir novos estudantes de teologia (sejam leigos ou acadêmicos) e vai acrescentar muito na pesquisa teológica, inclusive. Uma pena que, ao meu ver, o argumento do livro poderia ter sido ainda bem mais refinado e afiado do que foi apresentado.