Luiz Pereira Júnior 25/05/2022
Que livro!
Que livro!
Mais um livro que comecei a ler por causa de sua inclusão no currículo do novo Ensino Médio... E que surpresa maravilhosa (uso poucas vezes essa palavra, pois tudo agora parece que é maravilhoso, incrível, lindo ou quaisquer palavrinhas que, de tão usadas, acabaram se tornando vazias).
Uma história que se acompanha com vontade de saber o final, mas sem que para isso seja necessário olhar, desonestamente, a última página; emotiva, sim, mas sem ser piegas; crítica e reflexiva, mas sem ser panfletária; lutando por uma causa (ou melhor, por várias causas), mas respeitando as opiniões do leitor; agregando (mais uma palavrinha da moda) conhecimento, mas sem ser condescendente...
Poucos personagens, mas todos eles profundos e tão bem delineados que dão a impressão de que a autora simplesmente narrou as vidas de alguns conhecidos, tendo o mero trabalho de pôr os fatos no papel. Ledo engano!
Ao retratar a saga de uma família afro-descendente (a narrativa não se centra exclusivamente na protagonista) e de seus conflitos, de sua miséria e de sua busca por uma vida digna, a autora conseguiu me tornar mais humano. E isso, pode ter certeza, eu não digo para qualquer escritor...
E, como qualquer informação que eu possa dar, pode ser considerado um spoiler, tamanha é a força narrativa do livro, direi apenas que gostei de conhecer todos os personagens e todos me fizeram perceber um pouco do que sou e do que fui (sou negro e pobre, mas não posso dizer que tive as horríveis vivências de Ponciá).
E o que mais me tocou talvez tenha sido justamente um dos personagens menos citados nas críticas, nas resenhas, nas sinopses ou seja lá o nome que se dê a uma opinião de algum leitor: o marido de Ponciá Vicêncio. Ao bater na mulher, num ato de desespero, para que ela consiga retornar de seu mundo interior, ele se arrepende e promete jamais deixar de cuidar da esposa e fica ao lado dela até o seu destino final. E isso, a meu ver, sim, é amor – não o pieguismo meloso de mocinhas apaixonadas por lindos bilionários à beira da morte ou a busca semiesquizofrênica por condes, duques, cowboys ou CEOs com barrigas de tanquinho...
Vida longa, Ponciá Evaristo! (Quem ler, me entenderá!)