spoiler visualizarFran.Sousa 26/01/2024
Um comentário sobre o irmão de Ponciá
LUANDI teve um pai. Um pai de quem, quando criança, escutou coisa bonita, valiosa, coisa que o alimentou, que carregou consigo na andança de quem busca mudar seu destino. O pai de Luandi, filho de ex-escravizados, nem por isso fora homem livre. Assim como seus pais, permanecera cativo da terra e dos caprichos e exploração dos senhores brancos, até mijo de sinhôzinho foi obrigado a engolir. Cativeiro que se perpetua geração após geração, nossos presídios são vislumbre disto. Certos sobrenomes também: o que Luandi herdou é sobrenome do branco que escravizara seus avós. Na herança de Luandi, está um sobrenome que não o dos seus. Mas está também as belas palavras do pai, palavras que carregou consigo como forma de abordar uma mulher e viver o amor. É que seu pai dizia que as mulheres são como estrelas a iluminar "a noite escura no peito dos homens", bonito, não? E Luandi, na andança de quem busca mudar seu destino, seguindo a trilha aberta por sua irmã, não tardou a encontrar sua estrela, uma mulher que pudesse iluminar a noite escura em seu peito trágico. Luandi é irmão de Ponciá Vicêncio, a protagonista deste livro que é pura emoção, que transmite tão bem algo de um passado cujas marcas, por vezes de pura dor, assombro e abismo, ainda se fazem sentir naqueles que dele descendem. Há a singularidade de cada um, diferença absoluta que permite ao sujeito separar-se do Outro, e é isto que uma psicanálise em sua intenção persegue, mas há também um passado que nos enlaça e situa num mesmo universo simbólico. E recordar é arma para não repetir.