@literatotti 06/01/2022Meu ano não poderia ter começado melhor em termos de leitura, pois, Conceição Evaristo é sempre uma ótima forma de celebrar a existência. Essa é a terceira obra que leio da autora. E toda vez, tenho a mesma sensação: a de que ela pega na mão dos leitores e nos leva até o profundo das personagens, mostrando as dores e alegrias e, fazendo a gente reconhecer na dor do outro, a nossa dor.
Não é diferente com "Ponciá Vicêncio", pois, essa não é a história apenas de uma mulher, mas a história de muitas mulheres pobres e pretas, que nasceram em um lugar onde a escravização ainda se faz presente. Como ela mesma resumiu: "Tempos e tempos atrás, quando os negros ganharam aquelas terras, pensaram que estivessem ganhando a verdadeira alforria. Engano. Em muito pouca coisa a situação de antes diferia da do momento.".
No livro, acompanhamos a vida de Ponciá Vicêncio desde o nascimento até a vida adulta. Ao mesmo tempo que a vida dela se assemelha à história de inúmeras mulheres, Ponciá é única, pois, recebera uma herança-destino do avô: a de olhar para os vazios: "Às vezes, era como se o espírito dela fugisse e ficasse só o corpo.". Assim, do seu jeito único e igual, Ponciá caminha em direção de responder a pergunta que Caetano resumiu tão bem em Cajuína: "Existirmos, a que será que se destina?"
Mas, a história não é só sobre Ponciá Vicêncio, é a história de seu irmão Luandi, a de sua mãe Maria Vicêncio e, claro, a de seu avô, que se faz presente através da herança-destino de Ponciá. Uma obra rápida de se ler, bela e reflexiva, que nos obriga a pararmos para olhar os nossos vazios.