spoiler visualizar_valeriamagno 10/07/2021
Lindo e cruel!
Conheci Conceição Evaristo pelo livro "Olhos D'água", que ganhei de presente em 2019. Me apaixonei pela escrita dela, poética, profunda e, muitas vezes, dolorosa. Escritos que refletem a realidade de muitas mulheres negras.
Li Ponciá Vicêncio para fazer um trabalho da faculdade e foi igualmente doloroso.
Não é fácil ler Conceição Evaristo, pois cada conto/história é como um soco no estômago.
As memórias de Ponciá Vicêncio me acertaram em cheio. Me vi quebrada pela sua solidão, pelo seu medo. Não é fácil ler Ponciá Vicêncio. Durante a leitura senti tanta tristeza, tanta dor. Dói mais ainda saber que existem muitas Ponciás no mundo, mulheres que se alimentam de suas próprias memórias, pois têm medo de sonhar alto demais, porque sabem que a realidade é dura, injusta e angustiante. Sabem que os sonhos, para pessoas que vivem às margens da sociedade, dificilmente se realizam. E dói viver só do vazio.
No decorrer de sua vida Ponciá encontra conforto nas lembranças de sua infância, às vezes só choros, às vezes só risos. Lembrar da infância era como estar mais perto de sua mãe e de um tempo, às vezes feliz, que não voltará mais.
Aqui a gente encontra uma mulher com sonhos, cheia de esperanças em traçar novos caminhos, novas possibilidades. Um mulher que busca dignidade, que passa a vida tentando se encontrar e se reconhecer no próprio nome. O nome é nossa identidade, carrega tantas coisas, inclusive nossas raízes e memórias. Assim como Ponciá, muitos não ouvem seu próprio nome responder dentro de si.
No fim, Ponciá se voltou para o rio, onde ela sempre teve uma conexão forte. Era próximo a ele que ela conduzia o barro e criava laços com a sua mãe. Voltar para o rio foi como voltar às suas origens, foi como renascer. No fim, Ponciá renasceu.
Esse não é um livro feliz.